‘The Search for Everything’ devolve John Mayer à ribalta
Depois das duas ondas lançadas e levantadas, John Mayer está de regresso aos formais álbuns de estúdio. Quatro anos depois de “Paradise Valley“, o cantor voltou às suas baladas tradicionais, abdicando do folk e do country que havia assumido no trabalho transato. Desta feita, sentem-se mais as influências blues, reclamando mais o elétrico e o tecnológico para a composição musical. No entanto, o trabalho lírico não assume proporções muito díspares, focando-se ainda numa pregação conjugal e existencial, girando muito à volta de uma ligação pessoal e íntima.
Este é o sétimo álbum do músico, de 39 anos, e a sua produção foi intercalada com a participação de Mayer na banda Dead & Company, que o junta a ex-membros da experiente banda Grateful Dead. Estando prevista a sua continuidade nos palcos no verão, não deixou, porém, de dar rumo a uma tournée de promoção do seu trabalho individual, em “The Search For Everything Tour“, pelos Estados Unidos fora. No encalço de uma vida pessoal atribulada, este lançamento representa três anos em que tentou recuperar dos vários impasses e vícios que o afetaram, tais como o fim da relação com Katy Perry, e a sua crescente dependência do álcool.
O álbum inaugura com “Still Feel Like Your Man“, onde o cantor expressa alguma nostalgia sobre uma relação que acabou, mas que, no seu interior, ainda permanece e remanesce. Melodias agitadas, uma voz energética e empolgada, para além da devida preparação instrumental dos seus companheiros Steve Jordan – na bateria – e Pino Palladino – no baixo. O selo de qualidade que, apesar de não conhecer grandes variações, agrada na sua estabilidade no auge das capacidades líricas. Num ritmo mais perto das baladas, “Emoji of a Wave” traz uma onda mais serena, procurando tranquilizar e defender aquilo que é a união entre o “eu” e o “tu”. A música “Helpless” socorre-se de um instrumental mais vigoroso e mexido, contando com o prodigioso talento de guitarra de Mayer. A música também solicita uma tomada de consciência por parte do sujeito da narrativa da canção, isto é, se permanece preso aos seus vícios pessoais, aqueles que o impedem de estar são.
“Love on the Weekend“, a primeira música a ser lançada como single, emprega uma toada madura e identitária, discursando sobre um caso conjugal curto mas intenso, enunciando também a própria procura do músico por um. Por sua vez, “In the Blood” traz algo de novo em relação às suas antecessoras, especialmente no que é o discurso instrumental e vocal. Mais no estilo de uma canção que convida à entoação conjunta e combinada, estando acompanhada por palmas, o discurso aponta para o “eu”, ligando à família aquilo que é o seu desenvolvimento individual no amor e no que é a sua vida. “Changing” recupera uma ideia musical de Mayer, que aplica, com frequência, o desenrolar musical em crescendo, assentando em firmes e empolgadas empreitadas instrumentais, incluindo um bom solo de guitarra. Narrativamente, mais individualidade, descrevendo o caminho de mudança sem fim que o cantor percorre, proporcional ao que o seu coração segue.
Para intervalar as duas partes deste trabalho, surge um instrumental, designado por “Theme for ‘Search for Everything’“, suave e melódico o suficiente para o ouvido ser arrastado até ao que resta do disco. “Moving On and Getting Over” traz, desta forma, o contraste ideal em relação à parte anterior, procurando ultrapassar as vicissitudes conjugais, e potenciar a maturidade que o tempo traz para situações mais certeiras e prósperas, deixando partir um “tu” bem vivo na sua mente. O acompanhamento é o mais indicado para uma música que consegue revigorar o seu ouvinte, levando-o a prender-se ao trabalho de guitarra e à própria letra, que captura e que se assimila facilmente. Do que não foi lançado antes das duas “ondas”, chega um som mais cabisbaixo em “Never on the Day You Leave“, onde, consigo, também se avistam a dor e a abulia da partida do ente mais querido, do elemento mais íntimo. Quanto a “Rosie“, para além de um interessante solo de guitarra, volta a transpôr a realidade da alcoolemia de Mayer, e exorta para a necessidade de que ela o ajude na superação, tudo a partir da convergência íntima que os liga.
As duas últimas faixas do álbum são “Roll it on Home” e “You’re Gonna Live Forever in Me“. A primeira faz um convite ao “tu” para um serão noturno com o cantor, redescobrindo aquilo que é o verdadeiro amor e a mais genuína afeição, e energizando a conexão entre os intervenientes da música. Por sua vez, a última eterniza esse mesmo “tu” para além daquilo que é a dimensão física e sensorial do álbum, perdurando numa balada mais delicada e arrefecida.
John Mayer brinda o ouvinte com um cardápio relativamente versátil, dentro daquilo que é o seu normal espectro criativo e musical. Procurando reviver a década passada, fase onde conheceu grande parte do seu êxito, o músico rebusca, e bem, aquilo que lhe tornou bem sucedido. Nunca esquecendo os blues, a pessoalização e a forma íntima com a qual cria e entoa a sua música é inestimável daquilo que é o seu repertório. No fundo, um trabalho sólido, que prossegue numa linha de qualidade que vem habituando os seus fãs, mas que acaba sempre por se transcender no fervor guitarrista e vocal que alcança os palcos.