Os londrinos HONNE que são tanto orientais como ocidentais

por Lucas Brandão,    24 Outubro, 2023
Os londrinos HONNE que são tanto orientais como ocidentais
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Cada vez mais, a ocidente, se ouve mais música do oriente, em especial dos fenómenos do J-pop (música pop japonesa) e, com mais frequência, o K-Pop (música pop coreana), fenómenos esses que trazem uma grande fusão de géneros, desde o rock, ao hip-hop, ao R&B e aos próprios géneros musicais desses países. A permuta cultural entre ocidente e oriente tem-se intensificado cada vez mais mas, no seio da cultura pop, as influências foram sempre sendo mais uma viagem de um sentido, de ocidente para oriente. Porém, nos últimos anos, com a distribuição crescente da mangá e dos animes a ocidente, o retorno começou a ser proporcional, começando, até, a superar através desses fenómenos musicais, que muito têm ocupado o seu lugar.

Dessa forma, também cada vez mais a ocidente se trazem inspirações desses grupos de músicos, desde os BTS, os SEVENTEEN, as Blackpink ou as AKB48. Entre eles, um destaque a um par de londrinos que, desde 2014, têm feito uma música que tanto joga com o R&B e com a música eletrónica como é capaz das melhores sessões de acústicos que por aí correm, trazendo o calor do Verão e o conforto do Inverno. São eles Andy Clutterbuck, que chegou a viver em Tóquio, e James Hatcher, que, de um soul futurístico e propício a momentos de intimidade, fazem HONNE. Um nome que, em japonês, significa sentimentos verdadeiros.

Aliás, a própria editora de HONNE é da propriedade dos membros da banda, com um nome sui generis: Tatamae Records. Tatamae tem uma relação íntima com a palavra honne, sendo que a primeira diz respeito ao comportamento que se assume em público e que, por defeito, é o socialmente aceite, contrastando com o que realmente vai no íntimo de cada um. Honne é a autenticidade, sendo que tatamae é a máscara social.

Com três álbuns no repertório, “Warm on a Cold Night” (2016), “Love Me/Love Me Not” (2018, com videoclips animados deliciosos) e “Let’s Just Say the World Ended a Week from Now, What Would You Do?” (2021), a proposta musical é mesmo essa, a de trazer uma forte carga sentimental ao mesmo tempo que fazem da sua sonoridade híbrida. Colaborações com músicos como Tom Misch, Khalid ou Pink Sweats são disso prova, sendo que, para cada grande hit do duo, há um videoclip repleto de animação e de uma viagem pelo que nos faz encantar em criança, assim como uma versão em acústica que, não raras vezes, supera a original. Para além dos remixes a artistas como SG Lewis, Kehlani ou Jacob Collier, surgem nomes nos créditos como RM, um dos vocalistas da badalada banda BTS.

RM acolhe HONNE no seu álbum a solo “Indigo” (2022), nas faixas “Seoul” e “Closer”, sendo que, antes, o sul-coreano já havia atuado com o duo numa versão de “Crying Over You” (2019), depois de ter mostrado o seu apreço pela música do duo. Talvez por isso os ingleses sejam tão bem-vistos e tenham uma comunidade de fãs fora do comum no sudeste asiático, desde a Tailândia à Indonésia. Aliás, parte significativa daqueles que interagem com eles nas redes sociais são, precisamente, de países asiáticos. Trata-se de um fenómeno que teve retorno para a banda, que já por lá andou em tournées muito bem-sucedidas (em especial a de 2023), tendo, inclusive, gravado uma sessão de acústica em Jacarta, capital da Indonésia. Indonésia, país do qual é originária a cantora NIKI, com quem colaboram em “COMING HOME”, no seu mais recente álbum.

Taiwan, Filipinas, Hong Kong, Singapura, Malásia. Todos estes países que, embora não sejam centrais no que toca à realidade asiática, se renderam e se rendem aos HONNE. Ora então, como é que a popularidade dos HONNE chegou a estes países? Pois bem, tudo começou com o grande sucesso de “Warm on a Cold Night”, que fez parte dos álbuns mais vendidos na Indonésia, na Tailândia e na Coreia do Sul, país onde o K-Pop é rei e senhor e onde as afinidades com este género musical não são assim tão poucas. De igual modo, muitas das letras, como a de “Location Unknown”, foi influenciada por uma dessas tournées. O próprio videoclip de “Someone That Loves You” traz uma história de um rapaz do ocidente envolvido numa relação com uma japonesa, visitando-a no seu país; assim como “one way to Tokyo”, também ela a jogar com o conceito de distância e do sentimento que une aqueles que estão distantes entre si.

Em suma, o poder da globalização foi a força motriz da chegada da música de HONNE ao outro lado do Hemisfério Norte. Embora nem todos consigam obter sucesso no continente vizinho, as afinidades do mundo pop a oriente com a musicalidade destes dois britânicos fizeram com que muitos os abraçassem. Para isso também contribuíram as partilhas que muitos músicos do mundo do K-Pop fizeram e fazem com os seus fãs, sendo que a apreciação mútua dos HONNE a estes artistas também já deu resultado em colaborações, conforme referido acima. Para o futuro, a promessa de mais colaborações, de mais música e de (muito) mais gente feliz e tocada pela sua emotividade e ligeireza, a ocidente e a oriente.

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