Podcast Nuclear. Entre o abandono e a adoração com Amália, Aretha Franklin, Kanye West, Prince e um novo site para descobrir
Tiago Fortuna é autor do podcast Nuclear. Trabalha nas áreas de acessibilidade cultural, direitos de pessoas com deficiência e comunicação estratégica musical. Podes ouvir o novo episódio aqui e visitar o novo site aqui.
“Foi Deus / Que me pôs no peito / Um rosário de penas / Que vou desfiando / E choro a cantar” — Amália gravou “Foi Deus” em 1952, em Abbey Road, em Londres. É um clássico intemporal, sem limites religiosos, num fluido registo da sua alma e espiritualidade. A soul é um género singular, consegue ganhar contornos de epicidade quando fundida ao gospel. É entre essas fronteiras que vive este episódio. No centro está Aretha Franklin, com o seu álbum seminal — “Amazing Grace” — gravado ao vivo numa igreja em 1972. Existe algo a unir Amália e Aretha? Nuclear arrisca uma resposta: a entrega, que tornava (ou torna?) as suas almas translúcidas em cada interpretação que lhes escutamos.
São canções de adoração, fé e abandono que compõem o evangelho desta edição de regresso do podcast. Além de Amália e Aretha, também cantam Beyoncé, numa interpretação do clássico “Take My Hand, Precious Lord”, Nina Simone, Prince e Kanye West com o seu Sunday Service Choir.
Novo episódio já disponível. Com o novo ciclo chega também uma nova casa em www.culturanculear.pt onde é possível ouvir todos os episódios, conhecer o projecto e aprofundar referências. Visitem o novo site! Abaixo está o destaque para “Amazing Grace” de Aretha Franklin. Fiquem connosco.
“Amazing Grace”, de Aretha Franklin, é um álbum transcendente. Um regresso ao gospel da sua infância que nunca deixou a sua identidade, foi apenas ganhando novas expressões. Sobre a fluência com que agrega diferentes géneros no seu trabalho, o obituário da Rainha da Soul escrito pela Pitchfork traça uma retrospectiva cativante da sua obra.
Em 2019 foi lançado o documentário homónimo. Esteve guardado 40 anos. Aretha sempre se opôs à sua exibição, tendo levantado mais de um processo judicial para impedir que a película chegasse ao público. Após o visionamento, imaginamos porquê: projecta a imagem de uma mulher que não tem controlo absoluto do espaço, parecem ser os homens a conduzir a gravação do disco. Mas retiremos esta análise da equação, lembremo-nos que Franklin está creditada enquanto produtora do LP. Ver o filme enriquece a experiência do álbum e do seu serviço religioso. Recomenda-se ainda a leitura deste artigo do Público e este da NPR sobre o documentário.