Jornalismo. Fumaça ganha nova bolsa de 170 mil euros para chegar à sustentabilidade em 2023
O Fumaça é um órgão de comunicação social independente, progressista e dissidente que aposta no jornalismo de investigação em áudio, feito com profundidade e tempo para pensar. Fundado em 2016, produz hoje um dos podcasts mais ouvidos em Portugal, com mais de um milhão de audições.
O podcast de jornalismo de investigação Fumaça ganhou uma nova bolsa da Open Society Foundations (OSF), no valor de 170 mil euros. Este é o quarto apoio financeiro dado pela fundação ao Fumaça e servirá para ajudar o coletivo a ser o primeiro projeto de jornalismo em Portugal a ser 100% financiado pelas pessoas.
Desde 2018, ano em que recebeu a primeira bolsa da OSF e se constituiu como órgão de comunicação social, o Fumaça tem crescido significativamente em número de ouvintes e subscrições pagas. Hoje, recebe cerca de 8 mil euros de subscritores mensais, o que corresponde a 55% dos custos da redação. No total, desde 2018, o podcast já recebeu 133 mil euros em contribuições mensais.
Este ano foi o melhor de sempre no que toca à sustentabilidade do projeto. Com o lançamento da série “Exército de Precários” (ler crítica), uma investigação de dois anos no interior da segurança privada em Portugal, a Comunidade Fumaça não parou de crescer. O podcast tem 1 milhão e 400 mil audições e conta com uma comunidade de subscritores de mais de 1500 pessoas.
Para Ricardo Esteves Ribeiro, jornalista e co-fundador do Fumaça, o crescimento é resultado dos conteúdos jornalísticos que o projeto tem produzido: “O jornalismo que fazemos é lento, passamos muito tempo a investigar um tema. Mas sempre que lançamos uma série de investigação, as contribuições aumentam significativamente, apesar de todas as nossas peças serem de acesso livre. As pessoas contribuem porque acreditam no jornalismo que fazemos e percebem o trabalho que dá. Isso faz-nos acreditar que estamos no caminho certo para sermos 100% financiados pelas pessoas até 2023.”
Atualmente, a redação do Fumaça está a trabalhar em três grandes investigações: saúde e doença mental; violência policial, discriminação na justiça e a vida de polícias em Portugal; e o sistema prisional português. Durante o próximo ano, estas três investigações serão o foco da redação, que conta já com uma dezena de prémios de jornalismo — entre eles, Gazeta Revelação 2018, pela série “Palestina, histórias de um país ocupado”, Melhor Narrativa Sonora Digital nos Prémios de Ciberjornalismo em 2018, com a série “Aquilo é Europa”, Podcast do Ano no Podes 2019, e Menção Honrosa no Prémio AMI de 2021, com a série “A Serpente, o Leão e o Caçador”.
Sem publicidade ou dependência de empresas privadas, o Fumaça é detido por uma organização sem fins lucrativos e é gerido pela redação. Conta com uma equipa de sete pessoas com contratos permanentes e três pessoas em regime de freelance, incluindo um jornalista no Brasil.
Esta bolsa de apoio ao jornalismo da OSF é estrutural. Vai ajudar a manter o funcionamento regular da redação, assegurando contratos de trabalho, investimento em material e tempo para trabalhar no crescimento de subscrições pagas.
Ricardo Esteves Ribeiro, jornalista e co-fundador, diz que é uma questão de tempo até o Fumaça ser sustentável: “Quando começámos, até nós achávamos a ideia de sermos financiados pelas pessoas uma utopia. Agora, sabemos que conseguimos chegar lá. Estamos cada vez mais perto da sustentabilidade graças à Comunidade Fumaça e a todas as pessoas que como nós, acreditam no jornalismo feito com profundidade e tempo para pensar.”
A transparência continua a ser um dos principais valores do órgão de comunicação social, que publica regularmente, no site, todos os orçamentos, acordos e contratos assinados para que todas as pessoas os possam consultar. O novo contrato assinado com a OSF está, por isso, disponível para consulta pública aqui.