Tudo sobre rodas no Milhões de Manobras
Nem só de música se faz o Milhões de Festa. No segundo dia de festival a Praça de Pontevedra recebeu o Milhões de Manobras, uma competição de skate organizada pela Kate Skateshop . Em 15 minutos os participantes, divididos em vários grupos, tinham que mostrar o melhor que conseguiam fazer, passando por diferentes eliminatórias até chegar à final.
Enquanto esperavam pela sua vez, os skaters iam treinando e trocando algumas palavras entre si. O prémio não parecia ser o mais importante.
Nuno Gaia anda de skate há 25 anos e é o dono da loja responsável pelo evento. A exposição a decorrer na Casa do Vinho, “Skatomize”, também é da sua responsabilidade. Sentado num banco de jardim enquanto desempenhava o papel de jurado, ia observando atentamente as manobras. De mais positivo retira o facto de este evento servir para sensibilizar Barcelos para o skate.
A um canto da praça, de tábua na mão e com um sorriso que não escondia a timidez, estava Tomás Torrinha, o mais novo entre os participantes. Vindo diretamente de Braga, o rapaz de 14 anos não tinha ainda a certeza se ia conseguir mostrar as suas habilidades— “Não sei se o meu amigo me inscreveu, mas só vim para me divertir”, disse. Entre as pessoas que admira está Nuno Cardoso, um dos concorrentes, e esta acaba por ser uma oportunidade para aprender mais de perto como é que se faz. Quando questionado acerca das quedas respondeu com naturalidade “Oh, cai-se mas levanta-se outra vez”. Para si, os melhores sítios para treinar são os skateparks da Póvoa do Varzim e de Loulé, a Praça dos Poetas e o Parque das Gerações. Tomás não sabe se esta vai ser apenas uma fase da sua vida, mas há algo que afirma com certeza: não quer ser um profissional, apesar do gozo que disto retira.
Ainda que alguns barcelenses se tivessem queixado da música, os que por ali passavam acabavam por ficar, nem que fosse apenas durante uns minutos. “Pensem nos vossos amigos e na vossa família”- foi esta a frase motivadora com que Nuno Fernandes, Red para os amigos, deu início ao best trick. A sua função ali era mesmo essa: motivar. Speaker de ocasião, confessa que a diferença entre si e os demais speakers é que não se limita a narrar os acontecimentos, tentando sempre envolver os que estão de fora e diminuir a pressão de quem está a competir. Não consegue falar em skate sem falar em amizade. Menciona várias vezes que ganhou amigos para a vida e que é por isso que vale a pena continuar.
Nuno Cardoso foi o grande vencedor. Com 15 anos de skate na sua história veio a Barcelos porque acha importante a comunidade de skaters se unir, principalmente quando ainda há tanto preconceito em relação a este desporto. Gostava que as pessoas percebessem que este “não é um desporto de miúdos”. Na sua opinião o skate está a crescer e a ganhar reconhecimento internacional; prova disso é a adição da modalidade aos Jogos Olímpicos em 2020.
Reconhece talento aos portugueses, mas critica a falta de skateparks no Porto, a sua cidade, que seriam fundamentais para quem se está a iniciar. É preciso praticar, seja para conseguir as melhores manobras ou simplesmente para saber como cair. Nuno conta que nem todas as quedas aparatosas são perigosas e que grande parte das vezes são controladas— já se conhece o próprio corpo e já se está à espera da maneira como se pode cair. Torcer um pé ou partir um braço é uma possibilidade, mas “a partir do momento que se anda de skate, já se sabe que se vai cair”.
Quando soube que era uma referência para o Tomás sorriu e confessou ser “estranho, mas fixe” que olhem para si como em tempos olhou para o António Boavida, para o Ricardo Fonseca ou para o Rúben Rodrigues.
Com 2Pac como banda sonora entregaram-se os prémios.
Pelo Milhões de Festa a música era outra, mas ninguém esquecia o mais importante: derreter fronteiras.
Fotografias de: Mariana Silva