“Escritos Políticos e Psiquiátricos”, de Frantz Fanon: uma breve análise
Introduzido, traduzido e anotado por Manuela Ribeiro Sanches, Escritos Políticos e Psiquiátricos, de Frantz Fanon, editado pela BookBuilders na coleção Ensaio, revela-se como um livro fascinante e pedagógico, bipolarizado — faça-se jus ao nome — e de uma incrível contemporaneidade nas matérias da saúde mental: que, atrevo-me a dizer, excetuando os avanços nas terapêuticas, é transversal, …sincrónico?
Poderia fazer um texto dedicado a ambas as partes, mas, sem sombra para dúvidas, foram os Escritos Psiquiátricos aqueles que mais atenção me suscitaram — porventura, por agregarem várias questões basilares dos homens de letras, a neurose e a depressão. Para Fanon, a neurose e a depressão são duas patologias que andam de mãos dadas. O doente neurótico, revela, por vezes, grande capacidade cognitiva, reconhecendo os excessos da sua alma, se for o caso de um histérico, ou da sua fraqueza, quadros de astenia. Desta desorganização mental, da qual Fanon vê no Psiquiatra um meio para a reinserção do indivíduo no mundo social e regulado, provocam-se subdepressões dos nervos, isto é, uma depressão, cuja cura pode ser adotada de duas formas: em primeiro lugar, o paciente entra num Hospital Psiquiátrico para acompanhamento da sua condição e vigilância da sua terapêutica — os médicos tornam-se o suporte do paciente e o ambiente é “condicionado”; em segundo lugar, e esta tese teve grande interesse de estudo pelo nosso autor, o paciente faz o seu tratamento num Hospital de dia, começando cedo com um regímen estratégico, sendo-lhe dada a oportunidade de regressar à família e aos meios envolventes perto do final do dia.
Para Fanon, a Psiquiatria envolvia mais do que a simples sustentação e cura do doente “alienado”. Frantz Fanon via nesta modalidade da medicina um campo lato e em permanente aperfeiçoamento — inclusive, em alguns dos seus artigos, é apresentado um paciente com determinada patologia e o método utilizado, bem como um “diário” dos avanços ou estagnações dos fármacos utilizados; amiúde, as terapias sociais, as ocupações com um jornal da instituição, os saraus dramáticos, acabam por ser bem mais profícuos do que insulina, curas de sono, etc…
Numa última nota, apelo aos leitores mais ousados a leitura deste grande livro. A cultivação da mente acontece não somente pelos grandes romances, mas também por estes conjuntos de ensaios de temáticas que nos são tão caras, principalmente em tempos de pandemia e isolamento.