Um pequeno esclarecimento
Durante 10 anos trabalhei numa empresa na minha zona de residência e em 2014 criei a Comunidade Cultura e Arte (CCA). Via muitos filmes e queria partilhar essa experiência com outras pessoas através das redes sociais.
Durante esse mesmo tempo consegui conciliar as duas actividades, a profissional e a então lúdica gestão da CCA, uma vez que era só uma página de Facebook. Esta foi e é ainda hoje uma tarefa que reparto com pessoas que se foram juntando ao projecto.
Anos mais tarde a Comunidade Cultura e Arte passou de uma página de Facebook para uma página de Instagram e de Twitter e foi então que se decidiu criar um site. Ideia essa que também não foi planeada por mim. Aconteceu por sugestão de um amigo que é programador e web designer e que ainda hoje é quem gere a parte informática e comercial do projecto. Este foi o primeiro grande passo para profissionalizarmos o nosso trabalho mesmo que ainda não abarque todas as pessoas que vão contribuindo regularmente.
Como a Comunidade Cultura e Arte não foi planeada com um modelo de negócio e como crescemos ao contrário, ou seja, fomos juntando pessoas que se interessavam pelo nosso trabalho, e eu próprio não estava, nem criei o projecto para receber ganhos dele, ainda não conseguimos remunerar todas as pessoas que vão contribuindo voluntariamente sempre que querem e podem.
Em 2019, envolvi-me pela primeira vez na vida política partidária, como independente, e fui número cinco na lista do Bloco de Esquerda para as Eleições Legislativas por Aveiro. Quem me conhece sabe que não vejo a política como quem vê futebol. Não gosto de clubismos e valorizo a discussão de ideias. Prova disso mesmo é o trabalho que desenvolvo na Comunidade Cultura e Arte com as pessoas que fazem e fizeram o projecto. Alguns artigos que comprovam o meu e o nosso pluralismo:
– Uma série de textos sobre figuras políticas relevantes da sociedade portuguesa: Álvaro Cunhal, Diogo Freitas do Amaral, Francisco Sá Carneiro, Mário Soares, Miguel Portas e Ramalho Eanes.
– Aceitamos e convidamos pessoas de vários quadrantes políticos para a elaboração de crónicas (alguns exemplos: 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7). Só com pluralidade é que se pode debater a cultura e a sociedade. É claro, e esclareço também, que existem linhas vermelhas e que todo este processo de selecção de crónicas passa pelo nosso grupo editorial e é, obviamente, independente (não sofre nem pode sofrer pressões de nenhum tipo).
– Criámos uma parceria com o projecto Os 230, que tem como objectivo entrevistar os deputados eleitos, de todos os partidos políticos, para a assembleia da república. Divulgámos também entrevistas a Eurodeputados e a candidatos para as últimas Eleições Presidenciais. Todo este processo foi e é gerido pelo Os 230 de forma independente. Neste momento, já divulgámos cerca de 30 entrevistas.
– Reunimos, a pedido dos mesmos, com a JSD para discutirmos algumas ideias que estes tinham para a cultura. Mais nenhum partido, ou juventude partidária, nos convidou para este tipo de exercício.
– Divulgámos ainda filmes e séries sobre o Gulag soviético o holocausto chinês ou notícias sobre Jean-Luc Godard rejeitar o convite da Rússia em apoio ao realizador ucraniano Oleg Sentsov ou do maior festival de cinema independente da China ter sido suspenso por pressão política.
– Divulgámos Karl Marx e Friedrich Engels mas também divulgámos Adam Smith, Keynes, Hayek ou Friedman.
– Em 2022, também dissecámos as propostas de todos os partidos políticos com assento parlamentar para as Eleições Legislativas. Uma ideia que surgiu do próprio autor do artigo. Divulgámos ainda os horários de todos os debates entre os candidatos, fomos inclusive a nível nacional dos média com mais interações, entre 18 de Dezembro e 18 de Janeiro, ao usarmos a keyword “Eleições Legislativas”, segundo a Revista Marketeer.
Isto tudo para dizer que a minha decisão, enquanto cidadão, de em 2019 fazer parte de uma lista do Bloco de Esquerda, como independente, ou de outro qualquer outro partido político, não me define enquanto director de um jornal em 2022 (nem em 2019 quando éramos só um blog). Até porque se hoje fizesse parte de uma lista partidária teria de suspender primeiro a minha carteira de equiparado a jornalista e assumir publicamente a minha decisão; este seria o meu dever ético e em conformidade com o código deontológico dos jornalistas.
A Comunidade Cultura e Arte é um projecto apartidário, independente e que não deixa de falar e de dar palco a agentes políticos, sejam eles de partidos ou de pessoas da sociedade civil. Isto serve para a política como para qualquer tema, desde que cumpra (e sempre) com o Estatuto Editorial da Comunidade Cultura e Arte.