“The Piper at the Gates of Dawn”. O primeiro álbum dos Pink Floyd faz 55 anos
O disco foi lançado a 5 de Agosto de 1967.
Regressemos novamente ao magnífico ano de 1967, recheado de estreias musicais de bandas e intérpretes que viriam a marcar toda uma era. Eis que chegamos a Agosto onde surge o primeiro álbum de uma banda formada entre Cambridge e Londres, no Reino Unido, liderada pelo estudante de artes Roger Keith Barrett, conhecido por Syd Barrett, e composta ainda por mais três estudantes de arquitectura da Polytechnic School of London, que viria a ser uma das mais influentes bandas rock de todos os tempos. A banda cujo nome seria inspirado em dois guitarristas do blues que Syd tanto admirava, Pink Anderson e Floyd Council, formando assim o nome Pink Floyd, lançava o seu primeiro álbum de originais a 5 de Agosto de 1967. The Piper At The Gates of Dawn, título inspirado num dos capítulos da obra The Wind In The Willows do escritor escocês Kenneth Grahame, foi gravado entre Fevereiro e Maio do mesmo ano nos famosos estúdios de Abbey Road e seria o primeiro patamar de uma banda com um percurso que seria tudo menos linear mas extremamente versátil, com diferentes lideranças recheadas de trabalhos musicais fascinantes.
O quarteto composto pelos membros Syd Barrett como vocalista principal e guitarrista, Roger Waters como baixista e vocalista secundário, Richard Wright como teclista e vocalista secundário e Nick Mason como baterista, prometeria vir a ser uma banda de grande sucesso. O estilo de rock psicadélico implementado pelos Pink Floyd valeu-lhes um estatuto de lendas do rock, deixando uma marca muito forte na música, sendo também uma das bandas mais versáteis com um percurso cheio de altos e baixos que caracteriza a sua própria essência. A capa de The Piper At The Gates of Dawn apresenta os quatro elementos vestidos com trajes típicos da segunda metade da década de 60 num padrão caleidoscópico, como se de uma junção de espelhos se tratasse, exibindo a imagem de algo psicadélico que curiosamente pode ser encontrado na forma musical neste álbum desde a primeira até à última faixa.
O álbum começa numa aventura espacial onde são audíveis os sons da comunicação feitas pelas bases espaciais com as aeronaves ou com os astronautas, bem como o teclar agudo dos sinais emitidos durante as viagens espaciais que tanto fascinavam a humanidade durante a década de 60. Astronomy Domine, é a primeira canção deste álbum e trata-se de um dueto entre Syd Barrett e Richard Wright. Uma canção que exibe uma letra que enumera diversos corpos celestes numa amostra espacial e psicadélica nas cordas e nas teclas que a canção assim fornece. Lucifer Sam, exibe o baixo de Roger Waters e a voz de Syd Barrett com saltos psicadélicos durante uma canção que envolve um texto do mundo imaginário que Syd tanto admirava. Segue-se Matilda Mother, interpretada pela voz de Richard Wright, com Syd Barrett mais remetido para um plano secundário. A letra apresenta uma espécie de conto de fadas que é interpretada numa canção bastante teatral como se de uma pequena ópera se tratasse. A canção seguinte, Flaming, é inteiramente interpretada pela voz de Syd Barrett mostrando mais uma vez uma letra proveniente dos contos de fantasia com sons que remetem para uma obra inspirada no mundo fantástico. Pow R. Toc H. trata-se de uma mistura estranha de sons dos instrumentos e das vozes de Syd Barrett e Roger Waters, algo muito característico do misticismo do rock psicadélico que na altura ainda se procura reafirmar. Take Up Thy Stethoscope and Walk é a única música do álbum interpretada e composta por Roger Waters, iniciando-se com a batida da bateria de Nick Mason procurando sempre a essência das teclas de Richard Wright e da guitarra de Syd Barrett.
Interstellar Overdrive, sétima faixa do álbum, é considerado por muitos um masterpiece do rock psicadélico. Os quase dez minutos de duração e o facto de ser uma faixa puramente instrumental exibe bem a perícia dos músicos com os seu respectivos instrumentos. A melodia já teria sido interpretada várias vezes ao vivo e fora finalmente editada no primeiro álbum da banda. As variantes sonoras ao longo da canção dão a noção de uma aventura espacial, num estilo de space rock, tal como o nome da melodia assim indica. The Gnome apresenta novamente um conto de fantasia como tantas outras faixas deste álbum, desta vez sobre um gnomo, descrevendo o físico e o modo de vida desta personagem. Assim como Chapter 24 ou The Scarecrow que descreve um mero espantalho numa melodia vivaça. O álbum termina com a décima primeira faixa Bike, uma das canções que realça a presença e a influência de Syd Barrett na banda, e que dá cor a um álbum de estreia bastante apelativo.
Apesar de ter tido um sucesso considerável e de ainda hoje ser considerado um dos mais importantes trabalhos do rock psicadélico, The Piper at The Gates of Dawn estava longe de ser o topo do sucesso da banda britânica, que assim iniciaria a sua caminhada. Pouco tempo depois, os Pink Floyd testemunhavam a decadência de Syd Barrett, estimulada pelo consumo abusivo e irreversível de LSD. No segundo álbum, A Saucerful Of Secrets, os restantes membros chamaram David Gilmour, guitarrista amigo de Syd Barrett, com o fim de o ajudar na gravação do álbum, dando-lhe o apoio musical necessário. O estado psíquico e físico de Syd Barrett era de tal modo frágil que apenas gravaria uma das canções enquanto que David Gilmour gravaria as restantes. A banda necessitava de crescer, de procurar novos caminhos e o afastamento de Syd Barrett estava cada vez mais iminente. Apenas um ano após o primeiro álbum, Syd Barrett era afastado da banda, sendo substituído na guitarra por David Gilmour, e na posição de líder do conjunto por Roger Waters. Os Pink Floyd iniciavam um percurso de reconstrução nunca esquecendo o espírito de Syd Barrett. Após um trabalho árduo na procura do sucesso e com a chegada do mítico Dark Side of The Moon, os Pink Floyd sentiram-se na obrigação de prestar uma homenagem a Syd Barrett. Daí que o álbum seguinte, lançado dois anos mais tarde, em 1975, Wish You Were Here de seu nome, lhe fosse inteiramente dedicado especialmente com a brilhante e duradoura canção Shine On You Crazy Diamond.
Quinze álbuns de estúdio, concertos memoráveis, ideais revolucionárias, desde os tempos primordiais de Syd Barrett, aos caminhos percorridos até alcançarem o sucesso, desde a liderança massiva de Roger Waters até enorme zanga com David Gilmour, desde a refundação por David Gilmour em meados dos anos 80 até ao último álbum lançado em 2015, o percurso e a história de vida dos Pink Floyd é algo absolutamente fascinante e admirável por todos os apreciadores do rock. Qualquer um dos cinco principais integrantes tem o seu contributo, tendo participações únicas em cada música. Curiosamente, o baterista Nick Mason é o único membro presente em todos os álbuns de originais da banda. Porém, a verdadeira essência dos Pink Floyd estará sempre associada ao mentor que fora afastado precocemente, mas cujo espírito permaneceu sempre nos outros álbuns da banda. O espírito do “Diamante Louco”, do músico irreverente e sonhador, cujo brilho iluminou e inspirou a banda desde a primeira até à última canção: Syd Barrett.