“The Wall”, dos Pink Floyd: o muro que destruiu muros

por José Malta,    29 Novembro, 2019
“The Wall”, dos Pink Floyd: o muro que destruiu muros
Capa do disco
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A 30 de Novembro de 1979, os Pink Floyd lançavam o seu décimo primeiro álbum de estúdio, que viria complementar um percurso absolutamente estrondoso da banda britânica durante a década de 70. Depois de um trabalho árduo na procuro do sucesso, o estoiro com Dark Side of The Moon em 1973 foi o início de uma das mais belas eras da música rock. Wish You Were Here, álbum de 1975, que seria uma homenagem ao líder emérito Syd Barrett, afastado da banda numa fase ainda primordial devido ao excessivo consumo de LSD, conseguia complementar esse mesmo sucesso que ainda teria muito para durar. Animals, álbum de 1977, traria consigo letras com críticas bem expressivas às políticas mais recentes no Reino Unido como sinais de uma hegemonia notória da liderança de Roger Waters na banda, enquanto vocalista principal, baixista e letrista.

São muitos aqueles que lhe atribuem os louros pelo sucesso dos Pink Floyd durante os anos 70, tornando-se no principal rosto da banda após a saída de Syd Barrett. Contudo, o sucesso dos Pink Floyd durante esta década não seria o mesmo sem o carismático David Gilmour, vocalista e guitarrista responsável pelos solos de guitarra mais sublimes que existem no universo do rock, Richard Wright, teclista e vocalista ocasional, e também Nick Mason, baterista e único membro presente em todos os álbuns da banda. Para além de ser um álbum duplo com 26 faixas no total, embora com uma capa simples de uma ilustração de um muro com as palavras “Pink Floyd The Wall”, esta seria a confirmação de que a banda britânica conseguiria alcançar uma posição e um legado importantes na música, não só devido à excelência musical, mas também ao lirismo marcado por temas políticos e sociais que seria altamente marcante para as gerações que testemunharam a sua ascensão. É também com este álbum que se confirma que a década de 70 foi um passeio pelas estrelas para os próprios Pink Floyd, onde conseguem adquirir um estatuto lendário na música rock que hoje é bem reconhecido.

Ilustração de Marta Nunes – CCA (@martanunesilustra)

A história de The Wall terá surgido durante a tour do álbum Animals quando um grupo da plateia que estava em frente ao palco mostrava-se em êxtase perante o espetáculo, tendo irritado o próprio Roger Waters. Ao agir de cabeça quente, no meio das emoções e do clima que o concerto proporcionava, terá inesperadamente cuspido na cara de um dos membros desse grupo. A reacção do público foi de choque e de repulsa, o que levou a que Roger Waters tivesse o desejo de criar um muro entre o palco e a plateia após tal acto obsceno. Talvez este tenha sido apenas o episódio que alimentou a ideia de Roger Waters construir muros e de criar um álbum musical que abordasse a realidade dentro e fora dos mesmos. No fundo, porém, acabaria por ser muito mais do que isso. A história de vida do músico, que nunca conhecera o pai, que morreu em combate na Segunda Guerra Mundial quando apenas tinha cinco meses, assim como o seu avô que morrera na Primeira Grande Guerra, foram os alicerces da criação deste trabalho musical. A sua ascensão como estrela rock, o seu passado e os mais recentes acontecimentos na sua vida inspirariam na criação de uma ópera que abordaria diversos temas com letras fortes e com cariz político por detrás, a meio de um século repleto de transformações políticas altamente marcantes e com muitas outras ainda a acontecer.

A história em torno de The Wall teve um impacto tão grande que levou a que Alan Parker realizasse o filme intitulado com o mesmo nome, onde Pink, personagem interpretada pelo músico Bob Geldof, dá vida ao álbum projectado no grande ecrã. The Wall vendeu cerca de 30 milhões de cópias em todo o mundo, sendo o segundo álbum mais vendido da banda apenas superado por Dark Side of the Moon. A produção, sob a alçada do produtor canadiano Bob Erzin, conhecido pelo seu vasto trabalho com bandas e intérpretes conceituados, impulsionaria ainda mais o sucesso e a visibilidade do álbum. Os desenhos característicos da autoria do cartoonista Gerald Scarfe que aparecem em forma de animação no filme e nos concertos, as letras das canções que relatam uma história de alguém que perde o pai em combate, tal como Roger Waters, é oprimido pelos professores na escola, demasiado protegido pela mãe e traído pela mulher. Tudo isto deu origem a uma autêntica epopeia musical à volta de um muro que vai crescendo à medida que o disco vai girando.

O álbum encontra-se dividido em dois discos: o primeiro trata a construção do muro com os tijolos, que lhe conferem uma maior dimensão a cada canção e o segundo trata aquilo que se passa do outro lado desse mesmo muro quando este já se encontra completo. Nos espetáculos ao vivo, que ocorreram apenas em quatro cidades após o lançamento do álbum (Londres, Nova Iorque, Los Angeles e Dortmund), a encenação teatral e de efeitos conseguiram ter uma influência predominante no público, sendo mais conotado como um espetáculo em forma de ópera onde as personagens da história aparecem em palco do que propriamente com um concerto de música rock. Numa carreira posterior a solo, Roger Waters aproveitou a queda do muro de Berlim em Novembro de 1989 para correlacionar com o seu muro, realizando em 1990 um concerto com a sua banda que contou com a colaboração de vários músicos de renome. Anos mais tarde pegou na sua banda e fez uma digressão mundial com o álbum The Wall entre 2010 e 2013, dando exclusividade ao álbum numa autêntica volta ao mundo quando passavam 30 anos desde o lançamento do álbum.

A tour foi uma das mais bem-sucedidas e rentáveis de sempre, tendo passado por Portugal nos dias 21 e 22 de Março de 2011 com lotação esgotada, para além de ter valido um documentário mais profundo que chegou aos cinemas em 2015 onde a digressão e a sua história de vida revelam-nos um lado mais íntimo nunca antes visto. Deste modo, The Wall é mais um álbum mais próximo de um Roger Waters a solo do que de um trabalho colaborativo dos Pink Floyd, como foram os primeiros, pois é com ele que passa uma mensagem muito forte que continua a ser ainda hoje a sua arma de combate aos diversos muros. O próprio tem-se mostrado nos últimos anos um forte crítico em relação ao Muro da Cisjordânia (Israeli West Bank Barrier), tendo até escrito uma carta ao representante de Portugal na Eurovisão, Conan Osíris, com rasgados elogios ao cantor pedindo que não participasse no evento em Tel-Aviv, Israel, como forma de protesto perante os conflitos na Faixa de Gaza e as acções israelitas contra o povo palestiniano. Para além de tudo isto, Roger Waters tem sido uma voz forte contra a actual gestão do presidente Donald Trump, pela suas políticas e também pela proposta na construção de um muro entre os Estados Unidos e o México, críticas essas bem visíveis no último álbum e na sua mais recente tour. A verdade é que os assuntos abordados em The Wall permanecem tão actuais que é considerado uma das maiores obras primas musicais de sempre, e quarenta anos depois continua a ser ouvido como se fosse novidade de última hora.

É no desenrolar de uma melodia suave e tranquila que surge um estouro instrumental, semelhante ao de um bombardeamento, dando início ao espetáculo com a canção In The Flesh?. Com um discurso apoteótico de Roger Waters, semelhante ao de um imperador no coliseu romano, esta é uma abertura ao evento que irá prosseguir, sendo encerrada com percussão intensa e enérgica de Nick Mason. Segue-se Thin Ice, dueto entre Gilmour e Waters que dá uma ideia do nascimento da personagem, que através do gelo fino inicia o drama de uma história de vida que se adivinharia diferente para uma criança acabada de nascer. O compasso característico com os primeiros tijolos a alicerçar o muro surgem com a Another Brick in the Wall Part I. Os versos da canção “Daddy’s flown across the ocean / Leaving just a memory” dão repentinamente a ideia da morte do um pai que partiu para uma guerra e que nunca mais regressou. É nesta faixa que surge o verso “All in all it was just a brick in the wall”, que, mais do que uma simples frase, é uma imagem de marca do próprio álbum, principalmente no primeiro disco à medida que esse muro vai sendo construído através do crescimento e da história de vida da personagem.

Ao som das hélices de um helicóptero, surge a voz de um professor com The Happiest Days of Our Lives, que relata os tempos de escola em que a personagem foi altamente oprimida e humilhada pelo seu professor, tal como alguns dos seus colegas de turma. Daí que a faixa seguinte Another Brick in the Wall Part II e o verso inicial “We don’t need no education” conseguiram celebrizar o álbum e também a própria banda ao retratar o espírito de revolta perante tal opressão. A canção é inicialmente interpretada por Roger Waters, mas numa segunda parte surge um coro de crianças a repetir novamente o mesmo cântico. Os versos “Hey! Teacher! Leave us kids alone! / All in all, you’re just another brick in the wall” acompanhados pelo teclado de Richard Wright finalizando com um solo de guitarra à David Gilmour acompanham os tijolos que vão compondo esse mesmo muro. Contudo, apesar das frases agressivas contra a educação, esta não se trata de uma canção anti-escola, mas sim de uma canção contra certos sistemas educativos a que muitos foram sujeitos. Além do mais, o seu impacto conseguiu ser o suficiente para que ainda hoje seja uma canção altamente marcante no rock dos Pink Floyd e nas gerações que testemunharam o sucesso do álbum. As frases finais de uma grande algazarra entre alunos e o professor, onde este repete “If you don’t eat yer meat, you can’t have any pudding! How can you have any pudding if you don’t eat yer meat?”tornam-se também uma das passagens mais marcantes do reportório da banda britânica.

Segue-se Mother, uma canção que trata um diálogo entre um filho, voz de Roger Waters, e uma mãe bastante protectora, voz de David Gilmour onde uma série de questões são abordadas. As questões nos versos “Mother do you think they’ll drop the bomb? / Mother do you think they’ll like the song? Mother do you think they’ll try to break my balls? / Ooooh aah, Mother should I build a wall?” voltam a dar ênfase aos tijolos que se vão impondo nas canções seguintes. Goodbye Blue Sky, balada interpretada por David Gilmour, amplia esse mesmo muro assim como Empty Spaces, interpretado por Roger Waters. No filme e nas versões ao vivo, esta última canção encontra-se associada com uma adicional chamada What Shall We Do Now que esclarece as dúvidas quanto à decisão da personagem Pink ao não ter outra alternativa que não seja a construção do seu muro. As extravagâncias da vida de estrela rock surgem com Young Lust, onde a luxúria e loucura são exibidas numa canção interpretada por David Gilmour e com o auxilio de Roger Waters no refrão. Uma das raparigas desta canção surge em One of My Turns cuja acção decorre no quarto da personagem, com a introdução pela voz da rapariga acompanhada com o som do televisor ligado. A meio da canção, uma explosão emocional de revolta ocorre, ouvindo-se sons de objectos a cair no chão e a partirem-se terminando com um estridente “Why Are You Running Away”, que dá sequência à faixa Don’t Leave Me Now, onde o protagonista declara uma canção de súplica à sua amada, dando a sensação de que esta o terá abandonado de vez. É assim, após a perda do pai na guerra, a opressão do professor nos tempos de escola, a posição demasiado protectora da mãe, a vida de estrela rock já sem prazeres e a partida da companheira, que surge a terceira parte de Another Brick In The Wall que termina com uma generalização do mundo que o rodeia no seu muro já praticamente completo, onde se repete de forma intensa a frase “All in all it was all just bricks in the Wall”, sendo que a despedida e a oficialização desse muro ocorrem na última faixa do primeiro disco: Goodbye Cruel World.

O segundo disco trata a vida dentro desse mesmo muro, havendo várias tentativas de comunicação entre o interior e o exterior. Começando com Hey You, dueto entre Roger Waters e David Gilmour e que conta com um solo sublime do guitarrista, trata-se de uma das mais emblemáticas canções da banda com uma letra e um simbolismo bastante fortes. A tentativa de contacto entre o interior e o exterior do muro continua com o chamamento de Roger Waters em Is There Anybody Out There, acompanhado pelo dedilhar da guitarra acústica de David Gilmour. De igual modo, Nobody Home, canção com o som de um televisor como fundo, conta com os desabafos da personagem, bem como as tentativas de contactar a sua amada, que não atende as suas chamadas. Após o foco na personagem, surgem as analogias aos episódios da segunda grande guerra com Vera que relembra Vera Lynn, cantora lírica (hoje ainda viva, com uns belos e esplendorosos 102 anos) que se tornou célebre pelas suas canções durante esse mesmo período. A canção seguinte, Bring The Boys Back Home, é uma espécie de ópera que apela ao regresso daqueles que combatem nas guerras a suas casas como um protesto contra os malefícios que as guerras acarretam, destacando-se o verso “Don’t leave the children on their own, no, no”. Esta canção lembra também as crianças que, tal como Roger Waters, nunca conheceram alguns dos seus familiares mais próximos por terem perdido a vida em combate.

É após esta ópera que surge o bater de portas, uma mistura de vozes das personagens anteriores e ainda a voz de Roger Waters proclamando novamente “Is There Anybody Out There” dando início a uma das canções mais emblemáticas do álbum e considerada uma das maiores obras primas da música rock. Estaremos a falar certamente de Comfortably Numb, que consiste numa espécie de conversa entre um médico e um paciente através dueto entre Roger Waters e David Gilmour. Após a interpretação que termina com os versos mais fortes da canção “The child is grown / The dream is gone / I have become comfortably numb” surge um solo absolutamente magistral de David Gilmour que é considerado por muitos como o mais belo solo de guitarra de todos os tempos. Sublime, poderoso e arrepiante, a performance da guitarra de David Gilmour em Comfortably Numb foi provavelmente o maior trabalho do guitarrista britânico que, apesar da liderança predominante do Roger Waters na banda, transmitia uma alma musical apaixonante nos álbuns e nos concertos dos Pink Floyd. Este solo de guitarra permanece inacabado na versão de estúdio contando com diferentes versões quando é interpretada ao vivo, o que faz com que esta canção seja uma peça muito especial da música rock.

O espetáculo não pode terminar, tal como indica The Show Must Go One cantada por David Gilmour, com coros que proclamam uma vontade de regressar a casa, nomeadamente por parte do protagonista. É aqui que, sob o efeito de substâncias previamente administradas em Comfortably Numb, esta personagem julga ser um ditador fascista que tem totais poderes sob o público. Essa ascensão ao poder surge nas canções seguintes, regressando novamente a In The Flesh (sem o ponto de interrogação, como na primeira canção), onde o protagonista toma uma posição de discurso ameaçador perante aqueles que se queiram opor ao seu muro. De seguida, Run Like Hell, que, tal como o nome indica, trata uma espécie de “corre enquanto podes” e onde a frase “You better run!” tem uma letra que relata perseguições e rusgas aos opositores desse mesmo muro, sendo também uma das canções mais icónicas da banda. O regime totalitário impera em Waiting For The Worms, que começa com uma contagem em alemão e onde o marchar dos martelos que surgem no filme e nas versões ao vivo, ao juntarem-se a voz de David Gilmour e ao megafone de Roger Waters, enaltecem toda uma forte ditadura instaurada na canção. Os coros que vão gritando “hammer, hammer, hammer” intensificam-se até que o protagonista grite “Stop!”, onde, numa curta faixa de apenas trinta segundos, cai na realidade, ao dizer que quer tirar o uniforme de ditador e abandonar o espetáculo de vez, estando pronto para ser julgado pelos seus actos.

É aqui que começa o julgamento com a faixa The Trial, uma cena teatral onde surgem várias personagens às quais Roger Waters lhes dá voz. Com um apresentador que inicia o espetáculo que chama o professor, surgem a mulher e a mãe do protagonista a argumentarem, enquanto o protagonista cai na realidade ao pensar que está louco. No final, o juiz concede-lhe a pena máxima perante os seus actos: a queda desse mesmo muro, onde um coro de vozes a repetirem “Tear down the wall!” com um estrondo final, que representa esse mesmo derrubar que dá término à canção. Por fim, Outside The Wall traz de volta a melodia suave e tranquila no início de In The Flesh no primeiro disco, onde Roger Waters proclama uns versos que relatam aquilo que de melhor há do lado de fora do muro, como uma espécie de agradecimento a todos aqueles que permaneceram na esperança de ver esse mesmo muro tombar.

Foi há quarenta anos que o muro dos Pink Floyd se ergueu, abrindo também portas a um novo desígnio no futuro de uma das mais bem-sucedidas bandas rock de sempre. Sob a liderança de Roger Waters, os Pink Floyd ainda lançariam The Final Cut, uma espécie de conjunto de canções que são uma sequela de The Wall mas já sem o teclista Richard Wright que fora afastado pelo próprio por razões que ainda hoje não são claras. Após a gravação desse mesmo álbum, Roger Waters tentou encerrar a todo o custo os Pink Floyd, com o pretexto de que a banda apenas possuía dois dos membros fundadores e que era a altura de prosseguir com o seu trabalho independente. Inicia-se uma guerra com David Gilmour que chega mesmo aos tribunais, num processo bastante complexo. Ficou decidido que os Pink Floyd tinham autorização para prosseguir sob a liderança de David Gilmour, tendo recuperado Richard Wright como teclista, desde que fossem concedidos os direitos de autor a Roger Waters, que prosseguiria com a sua carreira independente.

Os discos dos Pink Floyd numa era pós-Roger Waters conseguiram ter um sucesso muito maior do que os da sua carreira a solo. Porém, anos mais tarde, os concertos e as suas tours conseguiram ter uma maior afluência por exibir grande parte das canções dos anos 70 dos Pink Floyd, pelas suas canções com letras com conteúdo político bastante explícito e por ser visto como o homem de The Wall, aquele álbum que conseguiu encher estádios, rodar vezes sem conta nos gira-discos e cuja mensagem ainda hoje consegue ser bem audível. Apesar de uma reunião dos membros do Pink Floyd em 2005, no célebre Live 8, evento mundial organizado por Bob Geldof, no âmbito da celebração dos 20 anos de Live Aid, a presença de David Gilmour num dos concertos dessa tão aclamada tour do álbum, em 2011 (que também contou com a aparição de Nick Mason mas não com o já falecido Richard Wright), entre outras pequenas ocasiões onde tiveram a oportunidade de tocar juntos, as pazes entre os dois parece ainda estar longe de ser atingida. Aparentemente, terá fracassado novamente num encontro entre ambos que ocorreu em Junho deste ano, continuando a existir, ironicamente, um muro entre os dois maiores comandantes de uma das maiores bandas de sempre.

Em quatro décadas, foram muitos os muros que se ergueram e outros que foram derrubados. As transformações políticas e sociais ao longo dos anos conseguiram ser facilmente associadas ao álbum dos Pink Floyd, que continua a ser ouvido e a apaixonar os mais jovens ouvintes. Recentemente, bandas e intérpretes, como os Foo Fighters, Eddie Vedder dos Pearl Jam ou Billy Corgan dos Smashing Pumpkins colaboraram com Roger Waters na interpretação de temas deste álbum, o que comprova a sua enorme vivacidade com o passar dos anos. Hoje, numa altura em que existem inúmeros muros por derrubar quando há muitos outros a serem construídos, os maiores muros que existem não são propriamente os muros físicos. São os muros socioeconómicos, culturais, políticos ou religiosos que são os mais difíceis de se derrubar e que parecem, por vezes, crescer ganhando anticorpos quanto ao seu possível desmantelamento.

The Wall é, assim, um álbum que continua a ter um impacto notório nos apreciadores de música em geral, mas também uma mensagem muito expressiva quanto aos muros que existem por esse mundo fora e que ainda podem ser derrubados através do pouco humanismo que ainda nos resta. Nos anos que aí virão, os muros vão continuar a crescer e há que os derrubar, de modo a evitar que esses tijolos ajudem na sua construção de outros tantos. The Wall será um álbum que tenderá a ser sempre actual, não havendo dúvidas que continuará a ser ouvido daqui a cem anos como fora no fim do ano de 1979, quando foi dado a conhecer ao mundo. Temos ainda uma dura e longínqua missão pela frente numa História de todos nós que se faz todos os dias. Com The Wall no ouvido, uma noção ampla daquilo que fomos e somos, e o espírito crítico e enérgico de Roger Waters bem assente, cabe-nos trabalhar para um mundo onde os muros deixem de existir, estando apenas presentes nas memórias mais remotas do nosso passado.

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