Jackson Pollock, o pai do ‘dripping’ expressionista
De uma forma bastante sintetizada, foi na década de 30 que muitos pintores europeus se fixaram em Nova Iorque, criando um novo círculo artístico e intelectual; entre eles, estão pintores como Mondrian, Max Ernst e Fernand Léger, etc. Nova Iorque tornou-se, portanto, numa cidade capaz de alargar os horizontes artísticos e a criação de novas formas de ver o mundo. Muitos destes pintores influenciaram uma nova geração de jovens iniciantes na pintura. Foi aqui que surgiu o Expressionismo Abstracto.
O Expressionismo abstracto centrou-se, assim, em Nova Iorque, sendo aqui que ele germinou, como um movimento artístico na pintura norte-americana, e que atingiu alguma popularidade no pós-guerra. Foi também, o primeiro movimento especificamente americano a atingir um predomínio mundial, que colocou Nova Iorque no centro do mundo artístico. Acabou por ser um movimento bastante peculiar, uma espécie de simbiose entre o Expressionismo Alemão, notório tanto no cinema como na pintura, que junta outras escolas abstractas europeias, com a sua estética anti-figurativa, tais como Bauhaus, Futurismo e até mesmo o Cubismo.
O expressionismo é difícil de abarcar e complicado de definir. Um pintor expressionista diz-se ser alguém que distorce as formas de um modo exagerado, ou que aplica tinta de modo subjectivo, intuitivo e espontâneo. É aqui que surgiu e que se encaixa Jackson Pollock, um dos maiores nomes do expressionismo abstracto nos Estados Unidos.
Jackson Pollock nasceu em Cody, no estado de Wyoming, EUA, em 1912. Era o mais novo de cinco irmãos, vinha de uma família sem grande segurança económica e social. Foi abandonado pelo pai aos 9 anos de idade, e mal tinha auxílio da mãe. Habituou-se a viver dentro de uma instabilidade emocional, mergulhado em sentimentos de medo, baixa auto-estima e insegurança, que se agravaram com a sua adolescência. Tinha um carácter indisciplinado e imprudente. Com o avançar dos anos, o problema do álcool, muito presente na sua vida, intensificou todas estas características da sua personalidade. No entanto, e apesar de todas as dificuldades pelas quais passava, sempre manteve o sonho de um dia vir a ser pintor.
Em 1930, muda-se para Nova Iorque, e frequentou as aulas do pintor Thomas Hart Benton. Com ele, tomou conhecimento de alguns conceitos de composição e espaço. Conforme foi desenvolvendo os seus gostos artísticos, ganhou grande interesse por pintores muralistas mexicanos, como Diego Rivera, mas principalmente por David Siqueiros. Interessou-se, sobretudo, pelas técnicas utilizadas nas suas pinturas, tais como: “airbrushing “, “pouring” e “dripping”. Mais tarde, Pollock recebe algumas influências de pintores cubistas, como Pablo Picasso, e pós-cubistas como Miró.
Tudo mudou na vida de Pollock quando conheceu a sua mulher, Lee Krasner, e também quando a galerista Peggy Guggenhaim surgiu na sua vida. Peggy convidou-o para expor na sua galeria, e foi assim que começou a estar rodeado de pessoais mais influentes, artistas e pessoas dentro da elite artística. Conheceu, nesses círculos, o pintor Willem de Kooning, também ele um pintor do movimento expressionista abstracto. O surrealismo também foi algo que lhe causou bastante influência em termos conceptuais.
Na altura, o trabalho de Pollock estava exposto em galerias de arte em Nova Iorque, mas, mesmo assim, não atingiu o seu auge. O pico deu-se, em 1949, com as fotografias a preto-e-branco captadas por Hans Namuth, um fotógrafo alemão.
Jackson Pollock via a arte como um processo de auto-descoberta, de denúncia de medos intrínsecos e de fuga de sentimentos reprimidos. O pintor não pretendia representar, através da pintura, a época em que vivia. Pretendia, sim, ir além da representação de regimes totalitários frequentes na época, além da bomba atómica e da guerra civil. Afinal, cada época histórica tem tendência para encontrar a sua própria técnica. Diz-se que o expressionismo abstracto teve origem em dois acontecimentos marcantes, entre eles, a grande depressão financeira nos EUA, em 1929, e a Segunda Guerra Mundial.
Pollock é uma figura central deste movimento, conhecido pela utilização da técnica “drip + painting = dripping”. “Dripping” é a técnica em que a tinta é lançada directamente sobre a superfície da tela. Ao contrário do que se pensa, o pintor era bastante perfeccionista, cada detalhe nos seus quadros era planeado. Cada traço, cada enquadramento, cada efeito cromático, tudo arquitectado ao pormenor. O pintor dava bastante importância à precisão pormenorizada da cor, da composição, textura, relevo e luz das suas pinturas.
De seguida, decidiu largar a típica pintura em cavalete, e utilizou a tela esticada no chão, a isto chama-se “all over”. Com a tela no chão atirava tinta e com isso abandona assim o tradicional pincel.
“I continue to get further away from the usual painter’s tools such as easel, palette, brushes, etc.”
A preferência pela pintura no chão deve-se a uma maior mobilidade corporal, o que permite o acesso aos quatro cantos da tela e estar dentro dela, sentindo-a.
“On the floor I am more at ease. I feel nearer, more part of the painting, since this way I can walk around it, work from the four sides and literally be in the painting.”
Com Pollock nasce a pintura de acção ”action painting”, onde o movimento, velocidade, e intensidade tomam a devida importância, para obter o resultado pretendido. Estes são tópicos primordiais para o minucioso trabalho do pintor. É aqui onde a questão da temporalidade se torna crucial para as suas pinturas, pois existe uma exploração espácio-temporal até aqui nunca tinha sido tão explorada, no mundo da pintura. Foi em 1947, que ocorreu esta mudança de conteúdo temático, e que se começou a repetir um padrão típico nas obras de Pollock, baseado no “dripping”. Cada gota de tinta ganhava um significado muito próprio e muito privado. Há quem não compreenda a intensidade de cada “drop”, e é certo que ninguém entenderá tão bem como ele entendia. De certa forma, as suas pinturas acarretam uma energia dinâmica que não nos permite ficar indiferente perante tais preciosidades.
Pollock é o eterno pintor da melancolia. Apesar das suas crises depressivas e existenciais, as suas telas manifestavam, por vezes, júbilo, contentamento e liberdade. Tudo relacionado com demonstrações do foro intimo com exclusão de factos exteriores, o que vinha do exterior não lhe interessava minimamente. Era criada uma espécie de comunicação interna entre a viabilidade da arte e a viabilidade da vida.
“Abstract painting is abstract. It confronts you. There was a reviewer a while back who wrote that my pictures didn’t have any beginning or any end. He didn’t mean it as a compliment, but it was.”