Isto é muito simples, caros amigos
Isto é muito simples, caros amigos. E convém realçar a simplicidade de que vos falo logo no início para que não restem mal-entendidos ou posições dúbias quanto ao assunto mais badalado da atualidade sociopolítica: a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, os múltiplos espectadores dispostos na tribuna VIP do lado soviético e as forças que tentam combater a (inserir termo à escolha). O texto que se segue contém ironia, exemplos parvos e muita estupidez. O aviso está dado e a consciência limpa.
Daqui a alguns anos, os livros de História (ou e-books de História) estarão munidos da frase “em 2022, Vladimir Putin ordenou que se invadisse a Ucrânia pela ousadia de a nação tentar proclamar a sua independência e, dessa forma, pertencer à NATO e conviver com os restantes países europeus”. Claro que a oração anterior pode – perfeitamente – iniciar um capítulo de um futuro livro escrito por Alexandre Guerreiro, ex-analista no Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) e agora comentador televisivo.
Certamente que esse mesmo manual não reunirá as posições externas face ao conflito de pessoas influentes como a visada. E bem. Por que razão devia estar redigido o parecer contra ou favorável a uma intervenção militar por parte de uma democracia? Perder tempo com tolices não consta nas diretivas e orientações do Ministério da Educação.
Por falar em manuais, Pedro Correia Marques em Varsóvia: Um Caso de Consciência Internacional expõe um pequeno testemunho de mulheres da capital da Polónia dirigido ao Sumo Pontífice de então relatando que “os exércitos russos estão às portas de Varsóvia e não avançam um passo que seja”. De 1944 a 2022, muita coisa mudou. A Segunda Grande Guerra já lá vai, os conflitos armados idem. Já não se destroem cidades inteiras, hospitais e outros edifícios essenciais a qualquer nação. A Alemanha nazi já não quer dominar o mundo e ser o rosto do expansionismo. A Rússia, como no passado, também nunca o quis ser. Está tudo bem mais controlado. Não era preciso José Milhazes e outros tantos se terem incomodado a contar e recontar páginas da História soviética. Escrever um Ucrânia: Um Caso de Consciência Internacional é ideia que morre pela raiz, certo?
Ainda na senda das escrituras, invoco alguns membros dos partidos assumidamente de esquerda. O livro que os visados andam a ler devem estar revestidos por uma capa inflexível, inquebrantável. Nem a bala mais veloz e mortífera perpassa as páginas antiquadas e bafientas. Uma só voz, uma só palavra, um só pensamento, uma só ordem são os passos que devemos seguir na busca da Honra, do Respeitinho, da Integridade e da Justiça. Recuar é sinónimo de uma demonstração de medo. Só os falíveis agem dessa forma. O que resta do caráter de alguém nessa condição?
Aqui há dias, duas sábias deputadas acusaram o Ocidente, a NATO e a União Europeia de fornecerem armas à população ucraniana. As notícias comprovam o que foi dito. Mas está tudo louco? Fornecer armas para combater um regime tão sagrado? Era algo que eu não admitia. Uma provocação de tom tão hostil urge em ser cessada. Mas quem são as forças do Ocidente para incentivar ao combate e ao erigir de uma possível Terceira Grande Guerra? O Assembleia da República (AR) que atente neste discurso…
O espaço para as questões está aberto. Obrigado!
“Ah, tem graça. Este texto muda completamente a forma de pensar de qualquer pessoa. Já agora, se estiver familiarizado, pode definir-me a Primavera de Dubcek em duas palavras?”
– Claro que sim. Estou familiarizado. Uma intervenção militar.
“Mas ninguém ficou ferido? Quantas pessoas morreram? Qual foi o grau de destruição?”
– Próxima questão. Não vamos entrar nesse debate. No final da palestra, exibirei os dossiês e os factos que remontam à data de modo a facilitar a compreensão.
“Tem graça. E a Guerra Fria? Diz-se nunca existiu nenhum conflito armado. É verdade?
– Claro. Só é chamada Guerra Fria por ser particularmente desempenhada durante os períodos de inverno.
“Entretanto, não tiveram origem outros grandes acontecimentos? A Revolução na China, a Guerra na Coreia, a Crise dos Mísseis em Cuba, a Guerra no Vietname, a Guerra no Afeganistão?”
– Leu isso onde? No manual de História?
“As pessoas afirmam que a culpa da Guerra no Vietname pertence aos Estados Unidos da América!”
– E é a mais pura das verdades. Brindemos a isso com vodka!
“E os restantes conflitos que referi?”
– Tudo culpa da mesma nação. Tudo. Agora cale-se porque só há direito a mais uma questão!
“Qual razão para as meninas serem violadas?”
– Se andassem de calças e sobretudo, considera que existiam violações?