UCIMUN: em Coimbra, a discussão do mundo por estudantes dos seus quatro cantos
Do dia 1 ao dia 4 de setembro, a Universidade de Coimbra recebeu a sua primeira edição do UCIMUN – University of Coimbra International Model United Nations, que congregou estudantes de vários lugares do globo, numa discussão precisa e pertinente sobre as várias problemáticas existentes de um ponto de vista social e global. A última jornada compreendeu as várias deliberações efetuadas nos três dias transatos, para além da participação de figuras de relevo no contexto político nacional, como o ministro dos Negócios Estrangeiros nacional, Augusto Santos Silva. À imagem das predecessoras, esta sessão decorreu na Faculdade de Direito da Universidade, a mais célebre do seu roteiro académico.
Este Model United Nations é uma simulação da própria Organização das Nações Unidas, em que cada participante representa o diplomata de um país num determinado Comité. De Harvard a Pequim, passando pela Índia e Reino Unido, entre muitos outros locais, é um modelo praticado por vários estudantes universitários do Mundo embora tenha parca, ou quase nenhuma, expressão no nosso país. É perante este desafio que o certame pretende intervencionar, fomentando o debate e a abertura de Sociedades de Debates nos mais diversos pólos académicos em território nacional.
Diogo Senra Rodeiro, o secretário-geral do evento, apresentou aquilo que foi o primeiro impacto dos participantes em relação à cidade que os recebeu: “Nós, no primeiro dia, fomos fazer um tour, como previsto, e deu logo para que ficassem a conhecer e apaixonados pela história da cidade, pela sua diferença do que existe.”, para além daquilo que “somos capazes de fazer, enquanto jovens, internacionalistas, membros da comunidade académica, e cidadãos do mundo”. A constituição do evento contou com “80 a 90% de membros beginners, um nível muito abaixo do esperado, tendo o nosso evento começado de forma tímida.” Porém, alude ao pendor efetivo e eficaz do mesmo, expondo o caso do Banco Mundial avançar com quatro draft resolutions. “No geral, o balanço é muito positivo.”
Quanto à importância deste evento no plano social e na discussão das temáticas quotidianas, destaca a imprevisibilidade de uma iniciativa deste tipo, para além dos potenciais proveitos daí, vindo daí o seu lado mais favorável. Para além disso, exorta para uma organização crescente dos jovens, a seu ver dispersos e apáticos, contrariando a anomia social que vem recruscedendo, contextualizando o evento nesse sentido, e para prepará-los crescentemente para os seus desafios futuros. Assim, exemplifica, como desafios, a simulação e a improvisação; e apresentando, como legado, “a vontade de, numa primeira simulação nacional das Nações Unidas, voltar a repetir esta experiência, advinda de vários participantes.”
Por sua vez, o diretor-geral Diogo Videira, também presidente do Conselho Nacional de Debates Universitários, expos a importância de debater a realidade, plasmando em eventos deste tipo: “Acho que o debate tem um papel fundamental na criação de um espírito crítico. A mudança de consciências é necessária porque vivemos cada vez mais num mundo em que há cada vez mais notícias falsas, mais ideias contrastantes, que podem, para algumas pessoas, ser absorventes. Estas ideias devem ser desconstruídas e debatidas.” Quanto ao espírito crítico, reforça que se trata de uma das virtudes mais pertinentes que um jovem tem, de forma a problematizar a realidade em que vive. No que toca ao papel do evento neste plano, apresenta-o como uma plataforma de reflexão, extremamente necessária neste contexto, e com a competitividade a estimular essa crescente adesão de gente a pensar autonomamente, e a conseguir adquirir espírito crítico.
Balançando três dias de discussão interna, o quarto e último dia do UCIMUN contou com o balanço efetuado por parte do, como já mencionado, ministro dos Negócios Estrangeiros português, para além do reitor da Universidade de Coimbra, João Gabriel Silva, o presidente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Rui Marcos, e o presidente do principal parceiro do evento, da empresa SamGarde, Andrew Harcourt. Todos os membros apresentaram as suas intervenções em língua inglesa, a principal usada nas diversas conferências referentes às Nações Unidas.
Assim sendo, o primeiro a discursar foi Santos Silva, que apresentou as diferentes vantagens e desafios referentes e abordados neste evento, para além de exultar o papel de intervenção deste conjunto de sessões. A tónica foi colocada nos tempos desafiantes que chegaram, tanto num plano geopolítico – incluindo a questão da Coreia do Norte – como num referencial mais específico, em questões concernentes aos refugiados e ao desenvolvimento social dos diferentes microcosmos existentes. Também as questões ambientais não perderam uma referência, assim como a problemática do terrorismo, e a importância dos agentes universitários saltou à vista, na medida em que se torna, a seu ver, crucial o seu papel de debate e de discussão sobre as temáticas mais emergentes e globais. O papel do posicionamento de Portugal da nação foi salientado, na perspetiva de que há um papel histórico na trajetória nacional no relacionamento e na promoção da resolução dos problemas levantados.
Por sua vez, o reitor da Universidade refletiu quanto ao papel das Nações Unidas na discussão global da sociedade, para além de expor uma visão mais pessoalizada em relação à própria Universidade de Coimbra, onde se referiu à vigilância feita, no século XVIII, por alguns elementos individualizados e talhados para o efeito nas aulas. Congratulando a organização do evento, para além da formatação do projeto, louvou o trabalho efetuado pelo grupo de participantes envolvidos. A intervenção seguinte tornou-se mais breve, com um lacónico mas assertivo elogio por parte de Marcos, e , já da parte de Harcourt, foi enaltecido o trabalho e todos os moldes do projeto, apontando às perguntas sem resposta na estabilidade sociopolítica na Europa e no mundo, para além do papel da (agora generalizada) tecnologia. Foram mais as conjeturas relativas ao presente e futuro dos dispositivos tecnológicos, para além da sua relação com a atividade política e com os diversos serviços quotidianos, que foram prementes no seu discurso. Todas as discussões sobre a segurança dos dados partilhados e colocados em plena rede foram sumarizadas, mas nunca descuradas, de um importante realçar, que não cansa em se ser enumerado. O fomento de uma sinergia crescente, entre gente jovem e ávida de discutir e de colocar a realidade em dúvida, foi primada e proposta como uma solução consciente e exequível de o combater.
Por fim, Diogo Videira tomou as atenções da audiência, e agradeceu a toda a sua vasta e numerosa equipa pelo trabalho efetuado nos quatro dias durante os quais decorreu o trabalho realizado. Várias gratificações foram, de seguida, entregues aos elementos com mais proficuidade nas ideias propostas e debatidas, nas diferentes áreas constituintes desta simulação, e às nações que melhor se afiguraram. Terminou com uma nota alta, de reconhecimento pelo trabalho e pela (produtiva) discussão feita, em prol de incutir um espírito crítico permanente e patente, e de reforçar o sentido de intervenção e de problematização dos temas e problemas de um mundo de todos, feito por todos.