Konstantin Tsiolkovsky, o sonho e a imaginação de voar mais além
Hoje, dia 5 de Setembro, assinalam-se os 160 anos do nascimento do cientista russo Konstantin Tsiolkovsky, pioneiro no estudo do lançamento de foguetes e, considerado por muitos, o pai da astronáutica. Publicou mais de 400 trabalhos, fez vários estudos na área da física, da química e da matemática, projetou foguetes com propulsores de direção e propulsores multifásicos tendo-os testado experimentalmente. Conseguiu prever missões espaciais no futuro bem como estações espaciais, tendo ainda estipulado sistemas biológicos de ciclo fechado que poderiam fornecer alimentos e oxigénio para futuras colónias espaciais, algo mais virado para uma ficção científica que segundo o próprio poderia no futuro corresponder à realidade. Pelo seu currículo resumido, podemos à partida admitir que Konstantin Tsiolkovsky fora uma cientista de grande renome, um figura que se aproxima daquilo que é vulgarmente designado por “génio”. A verdade é que a vida de Tsiolkovsky foi tudo menos linear e a sua condição física e financeira, obstinaram parte da sua obra em determinados momentos. Tais condições impediram que Konstantin Tsiolkovsky tivesse um maior reconhecimento por parte da comunidade científica e da sociedade russa, mas não o impediu de sonhar e de avançar com os seus projectos científicos.
Konstantin Tsiolkovsky nasceu a 5 de Setembro de 1857 no seio família de classe média polaca numa pequena cidade na província de Riazan, na Rússia. Durante a infância sofreu uma infecção de escarlatina que lhe acabou por afectar a audição, ficando parcialmente surdo para o resto da sua vida. Tal condição impediu-o de ser nas escolas russas e até de conhecer novas pessoas, tendo aprendido em casa até aos 16 anos por si mesmo. Com apenas 26 anos consegue por si só descobre por si só a teoria dos gases, apresentando tal teoria à comunidade científica russa que pensou que se tratava de um louco pois estas descobertas já tinham sido feitas há vários anos e era completamente absurdo alguém ter apresentado tal teoria de algo que já era bastante conhecido. Porém, Dmitri Mendeleev, o pai da tabela periódica dos elementos químicos e o maior químico russo da época, na sua análise compreendeu que Konstantin Tsiolkovsky se tratava de um homem que vivia longe da civilização e que teria todo o mérito em ter conseguido desenvolver tal teoria sem ter recorrido a laboratórios experimentais e a registos bibliográficos de renome científico.
Em 1892, Tsiolkovsky muda-se para Kaluga, a 200Km de Moscovo, onde entra em contacto com outros meios científicos. É aqui que começa a desenvolver em massa os seus trabalhos no que diz respeito ao lançamento de foguetes, desenvolvendo propulsores de natureza química. Tsiolkovsky criou ainda o primeiro laboratório de aerodinâmica na Rússia numa espécie de cabana, na qual permaneceu praticamente toda a sua vida. Em 1903 publica a obra ”A exploração do espaço cósmico por meio de dispositivos de reacção”, o primeiro estudo académico sobre o comportamento dos foguetes, uma obra recheada de fundamentos matemáticos, teóricos e científicos bastante pertinentes. Tsiolkovsky foi o primeiro cientista a calcular o valor da velocidade de escape da Terra para o espaço através da utilização de oxigénio líquido e hidrogénio líquido como propulsores nos foguetes que planeou e testou. A equação básica de foguetes é ainda hoje designada por Equação de Foguetes de Tsiolkovsky e trata-se de uma equação para foguetes ideais, isto é, desprezando atritos e resistências do ar. Matematicamente esta equação considera o princípio do foguete: um aparelho que pode aplicar aceleração ao mesmo empuxo, expulsando parte da sua massa a alta velocidade na direção oposta, tendo em conta a conservação da quantidade de momento.
A revolução Bolchevique permitiu ainda que tivesse mais algum apoio na sua investigação tendo sido eleito como membro da academia Socialista. Trabalhou como professor de matemática em alguns liceus russos até ao fim da sua vida. Projectou ainda a propagação do homem no espaço como solução futura, esboçando até, de um modo preliminar, algo que à primeira vista seria interpretado como uma ideia alucinante. O facto do ser humano poder viajar no espaço estando inserido numa espécie de ecossistema a partir do qual poderia garantir a sua sustentabilidade durante as missões espaciais era visto como algo completamente irreal e inexequível. Nos dias de hoje esta ideia tende a estar próxima do modo como os tripulantes garantem a sua sobrevivência durante as missões espaciais.
Konstantin Tsiolkovsky morreu em Kaluga em 19 de setembro de 1935. O seu trabalho foi pequeno passo que se tornara gigante na execução das viagens espaciais que hoje conhecemos. Na altura da guerra fria entre a União Soviética e os Estados Unidos, o seu trabalho foi muito importante para o sucesso da União Sovética nas suas missões espaciais. Ainda assim o ser humano aproveitou o trabalho de Tsiolkovsky para outras finalidades menos proveitosas, nomeadamente para determinadas armas como mísseis, algo que estava longe do horizonte do sonho e da imaginação de Konstantin Tsiolkovsky. O verdadeiro sonho, que segundo o poeta Rómulo de Carvalho “comanda a vida”, e a imaginação, que segundo Albert Einstein “é mais importante que o conhecimento” levaram a que este cientista russo, surdo desde os 10 anos, e que enfrentou uma série de dificuldades durante a sua vida, conseguisse dar asas para que fosse possível alcançar novos horizontes e, acima de tudo, voar mais além.