“Qual o Futuro do Cinema Português?” foi o tema do debate no Encontros do Cinema Português
Evento contou com a apresentação de 45 projetos de produção nacional.
Promovido pela NOS Audiovisuais e pelo ICA, a 7ª edição dos “Encontros do Cinema Português” decorreu no dia 2 de junho, nos Cinemas NOS Alvaláxia, com a apresentação de 45 projetos de produções portuguesas, o maior número desde a sua primeira edição, em 2015. O evento contou com a presença de mais de 180 pessoas do setor da produção cinematográfica nacional, incluindo exibidores, produtores, realizadores, atores nacionais, assim como o ICA, RTP e outros organismos institucionais.
O convidado especial desta edição foi Arturo Guillén, vice-presidente executivo e diretor administrativo global da divisão de cinema da Comscore, empresa espanhola que disponibiliza dados de bilheteria de cinema. Eleito um dos 40 mais influentes executivos da indústria cinematográfica europeia, durante o evento, Arturo Guillén juntou-se aos presentes via zoom, disponibilizou dados relevantes relativamente ao setor cinematográfico na Europa, e reforçou a importância da aposta na produção nacional de qualidade, com especial destaque para os filmes de comédia, afirmando que o cinema entrega uma experiência única ao espectador, uma experiência social, que não pode ser replicada em casa.
Na 7.ª edição dos Encontros do Cinema Português debateu-se o futuro da produção cinematográfica nacional sob o mote “Qual o Futuro do Cinema Português?”. O painel do debate, moderado pelo jornalista Vitor Moura, contou com a participação de Henrique Dias (Argumentista), José Fragoso (RTP), Luís Chaby (ICA), Pandora da Cunha Telles (Produtora), Paulo Branco (Produtor, Distribuidor e Exibidor Cinematográfico) e Susanna Barbato (NOS Audiovisuais).
O debate teve início com a intervenção de Susanna Barbato, que reforçou o papel e o empenho da NOS no setor do entretenimento em Portugal: “a NOS Audiovisuais continua a sua aposta no mercado cinematográfico nacional“, encarando-o como uma oportunidade e reiterando a importância de fazer chegar cinema português de qualidade às salas de cinema. A diretora da NOS Audiovisuais, reforçou ainda o contributo da distribuidora no incentivo à produção local, que passa também pelas vertentes de marketing e comunicação das obras, e acrescentou que “o cinema português não pode ser um cinema de nicho“. afirmou Susanna Barbato.
Já Luis Chaby, presidente do ICA – Instituto de Cinema e Audiovisual — referiu-se aos resultados do cinema português como “resultados que não nos satisfazem“, e que “o afastamento do público português relativamente aos conteúdos portugueses está ligado também às dinâmicas próprias do mercado, quer de distribuição, quer de exibição“, realçando “a falta de diversidade, implementação geográfica e a dimensão do mercado“, como fatores determinantes.
José Fragoso, afirmou que, no que respeita à RTP “neste momento estamos a fazer muito. Muito dos projetos apresentados nesta edição tem o apoio da RTP. Somos um parceiro muito ativo nesta área do cinema e do audiovisual“. O diretor de programas da estação pública de televisão considerou também que o cinema português depende muito dos apoios públicos e referiu a importância de fazer chegar mais filmes de comédia aos cinemas nacionais, não deixando de tecer elogios à criatividade e à dinâmica dos projetos apresentados nesta edição, mesmo perante as dificuldades que a produção nacional tem enfrentado nos últimos anos.
Para o argumentista Henrique Dias, o cinema depende do argumento e, na sua perspetiva as comédias são, claramente, os filmes mais abrangentes e que chegam a mais espectadores. Henrique Dias considera que, entre o cinema de autor e o cinema comercial, há um caminho enorme que não é explorado no cinema português, dando como exemplo “Listen”, (o filme da realizadora Ana Rocha de Sousa, premiado em Cannes), como o filme que “tem claramente um cunho autoral e de grande abrangência“. “Este tipo de cinema não está a ser feito em Portugal“, afirmou o argumentista, referindo que a atividade cinematográfica, para além de cultural, é também uma atividade económica e que deve ser entendida pelo Ministério da Economia como tal.
Pandora da Cunha Telles foi perentória em afirmar que “não devemos comparar o mercado do cinema em Portugal com mercados divergentes, quer pela cultura, quer pelo número de espectadores“. A produtora da Ukbar Filmes defendeu que: “devemos comparar-nos com países que tenham estruturas populacionais próximas da nossa, com mercados que produzam quantidades de obras semelhantes às produzidas pelo nosso mercado, senão temos a sensação de que o cinema português está no fim do universo” e continuou, acrescentado ainda: “em Portugal, temos uma rede de distribuição deficitária, situação que afeta claramente o futuro do cinema português“. Para Pandora da Cunha Telles é importante “criar condições para que existam mais cinemas de rua, e não só cinemas dentro dos centros comerciais“, concluindo que “a questão sobre o futuro do cinema português é mais complexa, não passa apenas pelo apoio à produção de filmes de comédia“.
“Não há cinema de nicho, nem cinema comercial. O cinema é só um.“, são as palavras de Paulo Branco, da Leopardo Filmes, que afirmou que, “para poder sobreviver na situação em que nos encontramos em Portugal, é importante conquistar espaço nalguns territórios internacionais e conseguir comercializar os filmes, por forma a que as nossas estruturas possam sobreviver. Estruturas essas que não sobrevivem a fazer um filme por ano“. O produtor destacou ainda a importância de antecipar a comunicação dos títulos em estreia e as condições de projeção das salas de cinema, como fatores que podem influenciar a falta de afluência de espectadores, assim bem como o facto de os filmes em exibição terem intervalo, como uma das razões para determinados targets não irem ao cinema.
Luis Nascimento, Administrador da NOS Audiovisuais e da NOS Cinemas, fez o discurso de encerramento da 7.ª Edição Dos Encontros do Cinema Português, e referiu que “podemos esperar nos próximos anos um aumento do fluxo de filmes internacionais, e que é importante que também os filmes locais com abrangência comercial cresçam em número“. “Existe uma oportunidade para os filmes portugueses nos cinemas e que estes têm de transitar para outras janelas de exibição, potenciando a sua rentabilização“. Para Luis Nascimento, um dos grandes desafios da indústria cinematográfica passa por produzir filmes que tragam os portugueses com mais de 45 anos às salas de cinema, garantido o crescimento do setor como um todo, e que os filmes portugueses aumentem o seu espaço nesta indústria.
Referiu também que a NOS vai continuar a dinamizar o Cinema Português, promovendo este tipo de iniciativas, como os Encontros do Cinema Português, juntando todos os Agentes do Setor. “Acreditamos que o cinema português são todas as emoções, mas temos que assegurar que as emoções são suficientemente fortes para tirar os portugueses de casa“.
Na 7.ª edição dos Encontros Do Cinema Português houve ainda espaço para analisar alguns dados relativos ao mercado do cinema em Portugal. Os números refletem uma estimativa de crescimento otimista para 2022, na ordem dos 83% face a 2021. Ano em que, apesar da recuperação, a produção nacional recuperou 22%, enquanto o resto da indústria chegou aos 49%, o que significa uma perda de quota de mercado efetiva dos filmes portugueses e que, em 2022, os resultados estão ainda muito aquém do esperado. “Salgueiro Maia – O Implicado”, do realizador Sérgio Graciano, foi o filme português mais visto nos primeiros 4 meses do ano, com 13 mil espectadores, seguido de “O Homem Que Matou Dom Quixote”, de Terry Gilliam, que levou 7 mil pessoas às salas de cinema e de “KM 224” de António Pedro Vasconcelos, com 2800 espectadores.