Entrevista. Ruben Martins: “Há jornalistas que têm 10 ou 15 anos de casa e que recebem o mesmo desde que começaram”
“A Minha Geração” é um podcast da Antena 3, com versão televisiva na RTP3, da autoria de Diana Duarte, que conta com o apoio da Comunidade Cultura e Arte na divulgação de novos protagonistas millenial e gen-z.
Ruben Martins é um jovem adulto, jornalista no Público, apaixonado por rádio e viciado em trabalho. Nasceu em 1995 em Vila Franca de Xira e, apesar de ter tirado ciências no secundário, acabou por seguir jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social, muito pela paixão que já tinha pela telefonia. O segundo ano de faculdade foi feito por exame porque entrou na Academia RTP, na RTP Porto. Tinha um programa na Antena 1 chamado “Vida de Estrada” e nessa vida não dava para ir às aulas. Fez parte da equipa fundadora do Sapo 24, antes de ir para o Público lançar a secção de áudio do jornal. Tem também um podcast diário, o P24, e edita uma boa parte do portfólio de conteúdos do jornal. Acabou ainda recentemente o doutoramento em ciências da comunicação no ISCTE, depois de quatro anos a fazer investigação, em “Novas Expressões do Áudio”, mais concretamente sobre “O Podcast no Ecossistema Mediático Português”.
Podcasts
Ruben Martins, quando questionado no “A Minha Geração” sobre o formato podcast, afirma que este “tem ainda uma história de vida muito curta e que, como termo, surge em 2004. É, portanto, um bebé que, numa primeira fase, era uma coisa de geeks e, depois, morreu. Ressuscitou, mais tarde, à boleia de um fenómeno que conhecemos por “Serial”, nos EUA – um podcast de investigação sobre crimes verdadeiros – que gerou uma onda de explosão de conteúdos nos EUA e, posteriormente, virou uma onda de choque em vários países”.
“Em Portugal, o podcast chega em força a partir de 2015-16, quando é abraçado, também, pelos jornais. Este acaba por ter conteúdos amadores que já têm repercussão por parte de figuras públicas, em especial os humoristas”. Afirma Ruben Martins na entrevista com Diana Duarte.
Sobre a sua tese, e respondendo à pergunta de partida, se “o podcast em Portugal representa a afirmação de um novo meio no ecossistema mediático português”, o jovem jornalista diz que o “Fumaça foi um programa de entrevistas que se conseguiu converter num órgão de comunicação social e que, efectivamente, trabalha os seus guiões, trabalha com sonoplastia. Também há outros, depois, que não têm grandes características diferenciadoras da rádio e que replicam os modelos tradicionais da rádio”. Ruben Martins refere ainda que concluiu, com a sua tese, que “em Portugal estamos a muitos passos atrás daquilo que se passa lá fora porque o mercado comercial é pouco desenvolvido e as próprias equipas de produção de podcasts, tirando três ou quatro formatos mais específicos, ainda são muito pequenas.”
Ciências da Comunicação e Jornalismo
Não há capacidade nas redações para acolher tantos formados nas áreas de ciências da comunicação e do jornalismo, afirma Ruben Martins. Segundo frisa a Diana Duarte, “um dos grandes problemas, em Portugal, é que há demasiados formados na área de Ciências da Comunicação e na variante de jornalismo. Isso cria algumas frustrações [porque] (…) as redações não têm capacidade para acolher todos. Claro que nem todos querem jornalismo e temos de ser muito sérios com estes miúdos. Não temos capacidade, hoje, para acolher todos os que estão a ser formados nas nossas universidades”, assume.
Apesar deste cenário, o jornalista do Público não recomenda que quem já está no curso mude. Ruben Martins sugere, sim, que tenham a noção de que no final do curso vão chegar a uma redação e que vão ter um currículo igual a tantos outros deste país. Deixa o alerta que “não é uma nota, ou uma média com mais ou menos uma décima, que vos vai diferenciar. O que vos vai diferenciar é o que fizeram para além do curso”.
Quanto ao facto da área ser tão fundamental para a nossa democracia e ser, ao mesmo tempo, tão precária, o autor do podcast P24 do Público diz que “por muito que queiram fazer do jornalismo um modelo de negócio rentável, dificilmente será rentável. Se estamos num grupo de WhatsApp onde partilham jornais e, por causa disso, deixámos de comprar o jornal, se calhar estamos a fazer algum dano às redações. Se não somos assinantes de nenhum, se calhar devíamos passar a ser — há ofertas muito baratas.”
Ruben Martins sugere, ainda, que se devia voltar a olhar para a profissão. Esclarece que “a Assembleia da República, os partidos políticos, a própria Comissão De Carteira Profissional De Jornalista (CCPJ) e a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) deviam olhar para o que é ser jornalista hoje e esquecer, um bocadinho, os estatutos que já temos.” Urge perceber que “isto já está um bocadinho desatualizado face à realidade que temos hoje”. Na sua ótica, isso leva a que “a precariedade seja uma constante nesta profissão e que seja muito fácil teres um estágio, mas muito difícil ficares”. O jornalista vai mais longe e fala, também, da frustração dos jovens com esta realidade e da pressão quando têm, ainda, de pagar rendas elevadas: “Uma pessoa que está a pagar um quarto em Lisboa e precisa de algum rendimento para conseguir, efectivamente, manter-se nesse quarto, mas vai para um estágio não remunerado e anda a saltar de estágio não remunerado em estágio não remunerado, ao final do terceiro muda de profissão.”
Sobre as remunerações dos jornalistas, Ruben Martins reitera também que “normalmente entra-se na profissão com o salário nivelado ao estágio do IEFP — hoje em dia estamos a falar de 900 euros.” Ressalva, no entanto, que “há jornalistas que têm 10 ou 15 anos de casa e que recebem, exatamente, o mesmo [desde que começaram].”
A ferrovia e Espanha são outros dois assuntos que Ruben Martins aborda nesta entrevista da autoria de Diana Duarte e que podes ver de forma completa por aqui: