A semana do Nobel
A primeira semana de Outubro é inevitavelmente marcada pelo anúncio dos vencedores daquele que é considerado o prémio maior que alguém pode receber na sua carreira enquanto cientista, escritor ou pacifista: o Nobel. Atribuído desde 1901 em honra do inventor sueco Alfred Nobel, o prémio conta com seis categorias onde os vencedores são escolhidos por diferentes academias e entidades: Fisiologia ou Medicina decidido pelo Karolinska Institutet, na Suécia; Química, Física e Economia decididos pela Academia Real das Ciências da Suécia, sendo a Economia uma categoria cujo prémio fora só atribuído a partir de 1968; Literatura, decidido pela Academia Sueca; e Paz, decidido pelo comité nomeado pelo parlamento Norueguês. O reconhecimento do esforço e do trabalho por parte das academias e de um júri altamente selectivo e exigente, não é para todos. É por isso que receber um prémio como o Nobel é um feito absolutamente louvável, digno dos vencedores ficarem com um lugar na História. Porém, a atribuição do prémio Nobel será justa para uns e injusta para outros seja qual for a categoria em questão. É sempre difícil escolher qual a pessoa ou conjunto de pessoas que se destacou mais na sua área em cada ano, sendo este um prémio que gerará sempre controvérsia independentemente de quem o vença.
Contando com mais de um século de história e com um pequeno hiato entre 1940 e 1942 devido à II guerra mundial e também algumas categorias onde alguns dos prémios não foram atribuídos entre 1915 e 1918 devido à I guerra mundial, o Prémio Nobel teve dos mais indiscutíveis vencedores até àqueles que foram admiráveis e controversas surpresas. Alguns deles tiveram a proeza de repetir por duas vezes a sua atribuição como foi o caso de Marie Curie, Nobel da Física em 1903 e da Química em 1911 (a primeira pessoa a ser laureada duas vezes com o Prémio Nobel, e em categorias diferentes); Linus Pauling, Nobel da Química em 1954, e da Paz em 1962 (a única pessoa que até agora foi laureada duas vezes sem ter compartilhado o prémio com outra); John Bardeen, duas vezes laureado com o Nobel da Física em 1956 e 1972 e ainda Frederick Sanger, laureado com o Nobel da Química em 1958 e 1980. Tendo em conta a enorme disputa por uma medalha Nobel, podemos considerar absolutamente fascinante o facto destas quatro pessoas terem sido laureadas por duas vezes, o que demonstra um enorme esforço não só nas suas áreas mas também o esforço em dar um contributo maior à humanidade. Porém poder-se-ia também fazer uma lista de pessoas que mereciam tal prémio e que nunca passaram além da lista de nomeados ou possíveis hipóteses de vencedores.
Escritores com um prestígio e uma marca importante como Lev Tolstoi, Franz Kafka, Marcel Proust ou James Joyce nunca chegaram a ganhar tal medalha apesar de terem tido obras literárias que ainda hoje são lidas e que serão certamente eternas. O pai da tabela periódica, Dmitri Mendeleev, nunca chegou a receber o Nobel da Química sendo ele um dos mais influentes químicos de toda uma era, apesar de ter falecido em 1907. Os inventores da lâmpada, Thomas Edison, e do telefone, Alexander Bell, nunca chegaram a receber o Nobel da Física e são considerados ainda hoje dois dos maiores inventores de sempre. Mahatma Gandhi, o grande responsável pela independência da Índia e um dos maiores pacifistas de sempre nunca chegou a receber o Nobel da Paz. O pai da psicanálise, Sigmund Freud nunca recebeu o Nobel da Fisiologia ou da Medicina (consta-se que também tenha sido nomeado para a categoria da Literatura) e foi uma das personalidades mais influentes da era contemporânea. Poderíamos ficar um dia inteiro a mencionar nomes e mais nomes de pessoas que mereciam um maior reconhecimento por parte da academia sueca e que nunca saíram da lista de apostas, ficando de algum modo esquecidas.
Quanto aos laureados haverá sempre surpresas e vencedores óbvios, sendo esta uma questão muito subjectiva pois a opinião variará sempre de pessoa para pessoa, desde o espectador comum que acompanha a sua atribuição até aos mais entendidos no assunto. As razões pelas quais cada prémio é atribuído ficarão para sempre em sigilo para com as academias que o atribuem. O Nobel foi um modo de incentivo para com aqueles que procuram fazer esforços em diversas áreas que visam dar um maior contributo à humanidade. Contudo é necessário realçar que um prémio como o Nobel será um patamar altíssimo na carreira de um cientista, escritor ou pacifista, mas nunca o topo. O topo da carreira de um cientista será sempre ter o total conhecimento do seu objecto de estudo, assim como o topo da carreira de um escritor será escrever o seu melhor livro e de um pacifista atingir os seus objectivos humanísticos procurando resolver todos os conflitos, e estes são horizontes quase intangíveis mesmo até mesmo para aqueles que foram laureados duas vezes com tal prémio.
O Prémio Nobel é um prémio que é indubitavelmente uma promoção às diversas categorias a que é atribuído, mas a verdadeira promoção da ciência será sempre feita com os métodos científicos e com novas ideias, assim como a promoção da literatura e da paz serão sempre feita com as mesmas. Vença quem vencer será justo, assim como será injusto para quem ficar de fora. Não esquecer que foram vários os nomes de relevo esquecidos que tenderão sempre a aumentar até porque se fosse atribuído antes de 1901 esta lista seria ainda maior do que aquela que hoje eventualmente existe. Falar-se-á sempre todos os anos daquele nome ou do outro que também merecia porque o vencedor não merecia tanto. No entanto a história do Prémio Nobel, que esperemos que perdure durante muitos mais anos, trará ainda muitas mais controvérsias, justiças e desavenças como qualquer outro prémio.
Começa assim hoje, dia 2, a atribuição dos prémios com a Fisiologia e Medicina a inaugurar a lista de laureados de 2017. Seguir-se-ão a Física no dia 3, Química no dia 4, Paz no dia 6, Economia no dia 9, terminando com o laureado na Literatura que será anunciado mais tarde. Poderá ser tudo acompanhado no site https://www.nobelprize.org/ que já prepara a contagem decrescente para anunciar os vencedores, vencedores esses que causarão sempre agrado a uns e menos agrado a outros. A grandeza do prémio faz com que este seja o maior reconhecimento por parte da humanidade a um conjunto de pessoas ou identidades que deram o seu melhor para alcançar tais feitos, descobertas e objectivos. Apesar do seu prestígio e do valor monetário que oferece aos laureados, o Prémio Nobel será sempre um prémio como qualquer outro, independentemente do impacto que provoque numa sociedade que o reconhece como o maior prémio que alguém pode receber. Pois é mesmo disso que o Prémio Nobel se trata: de um prémio, nada mais.