‘Antwerpen’: uma viagem ao maravilho mundo de Surma
No mesmo dia em que o tão aguardado álbum de estreia de Surma era lançado, uma outra notícia marcava o dia desta artista: Surma torna-se a primeira portuguesa a ser confirmada na edição do próximo ano do prestigiado South By SouthWest, um festival em Austin, Texas, nos Estados Unidos da América.
Com 5 anos, Débora Umbelino pedia à mãe para aprender bateria, mas acabaria por começar a dar os primeiros passos na música por meio da flauta. Passaria pela aprendizadem de vários instrumentos até formar a sua primeira banda aos 14 anos, com amigos de liceu, onde tocavam covers. Dos covers até aos originais, Débora adquiriu sintetizadores, guitarras e veio a tornar-se numa one-woman-band, que em palco se torna uma extensão dos instrumentos que a circundam, e nos leva numa viagem transcendental com a sua música. Antwerpen é o resultado de um trabalho com a gravadora Omnichord Records e a Casota Collective, do qual fazem parte três membros dos First Breath After Coma, também eles de Leiria como Surma.
Depois de no ano passado se estrear com «Maasai», Surma surge agora com o seu primeiro projeto de originais, isto depois de já ter percorrido Portugal e a Europa em concertos, tornando a chegada de Antwerpen ainda mais aguardada. Na passada sexta, dia 13 de outubro, chegou finalmente o dia de podermos ouvir o trabalho de Surma na íntegra.
O álbum abre com «Drög», e a viagem pelo mundo que Surma criou tem assim início. Uma atmosfera é aqui criada, com uma sonoridade que convoca o noise, mas também o experimental e ainda uma nuance de post-rock. Um êxtase de sensações engole-nos em «Plass», e a voz de Surma envolve-nos enquanto a música nos invade o corpo como uma avalanche; deixamos de ser seres exteriores à música, somos parte dela, extensão da criação de Surma.
Segue-se «Hemma», o tema deste trabalho que já tinha sido lançado como single anteriormente, mas que não nos cansamos de ouvir. Um tema do post-rock a cimentar-se na essência mais pura da palavra clássico. «Kismet» é uma perfeita fusão de géneros, com direito a jazz; e se dúvidas existissem acerca da versatalidade de Surma, estas desfazem-se em pó com temas como este, em que cada segundo é uma viagem pelas notas, sons e batidas criadas pela artista. «Saag» é o tema mais longo do álbum e revela uma composição brilhante, onde cada som, cada batida e a voz se entrelaçam numa atmosfera só possível de descrever como ‘a sonororidade única da Surma’.
Segue-se «Miratge», uma mistura de sonoridades embalada pela voz doce e cheia de ecos, que culmina num êxtase que nos remete para a música seguinte: «Voyager». Ela mesma uma viajante, e nós também, viajantes neste conjunto de sensações provocado pela criação do mundo da artista. «Bregrenset» é um tema com menos de dois minutos, em que ouvimos apenas notas de piano e a voz de Surma. Parece pouco mas é o suficiente para preencher qualquer vazio, qualquer silêncio na nossa existência e nos tocar de forma singular.
Já nos aproximamos do final quando chega «Nyika», que se afigura como um tema experimental, em que a voz de Surma parece falar-nos de longe, e nos transporta para um plano transcendental. Acabamos o álbum com «Uppruni», e as palavras já nos faltam para descrever a beleza da criação que Surma conseguiu com este álbum. Do início ao fim, a viagem passa por uma sonoridade que explora os sons de cada instrumento, o ambiente que cada batida cria, uma atmosfera em que a voz de Surma é fada madrinha. Nós deixamo-nos levar nesta viagem, neste mundo que Surma criou e que agora nos apresenta e agradecemos-lhe podermos fazer parte deste.
Antwerpen partilha agora connosco a sua luz, tendo sido um dos álbuns portugueses mais aguardados do ano, e não desiludindo com a sua sonoridade coesa e brilhantemente composta. Com este álbum, Surma inscreve o seu nome no mundo da música portuguesa como uma artista capaz de grandes feitos, e coloca os nossos olhos e ouvidos em Leiria.