#30 Essenciais do Cinema – ‘The War Trilogy’
Se estás a ler isto é porque chegaste ao “Essenciais do Cinema”– uma da CCA para quem quer descobrir um pouco mais. Com temáticas menos generalizadas, por vezes menos actuais mas igualmente relevantes. Com tudo isto, é normal que por aqui encontres – e temos mesmo de te avisar – mais texto. Bem-vindo ao “Essenciais do Cinema”.
The War Trilogy (1945-1948)
Realizador: Roberto Rossellini
Protagonizado por: Anna Magnani, Carmela Sazio e Edmund Moeschke
Trinta edições merecem uma atenção redobrada e um filme que valha por toda esta secção de filmes essenciais. Mas, neste caso, não será apenas de um filme que iremos falar, mas de três formidáveis filmes, uma trilogia que marcou a história do cinema e que, ainda hoje, se demarca como uma das trilogias de todos os tempos. “Roma città aperta,” “Paisà,” e “Germania Anno Zero” compõem aquela que é a melhor trilogia sobre a Segunda Guerra Mundial, os dois primeiros falados em italiano e o último falado em alemão. Algo raro, naquela altura, era haver filmes sobre guerra falados em alemão. A trilogia apresentou o factor novidade na indústria, apresentando três filmes com sensibilidades factual, emocional e psicológica novas, que foram especiais e inovadoras no cinema.
Não querendo especificar cada um dos filmes e cada uma das sinopses dos filmes, nem querendo tão pouco divulgar a história dos filmes, é importante perceber o contexto de cada um deles, para se poder entender a força e a qualidade de cada um deles. Nos três filmes, há um caminho cronologicamente factual e que avança, segundo os factos da Segunda Guerra Mundial. No primeiro filme, a ocupação Nazi faz estremecer a cidade de Roma, apesar de a força Nazi estar em decrescendo, no ano representado no filme, 1944, existe um sentimento de “ir atrás do prejuízo,” tentando apanhar e capturar tudo e todos que vão contra a ideologia Nazi. Neste caso, Giorgio Manfredi é perseguido e amedrontado pelos Nazis e vê-se obrigado a procurar refúgio, numa cidade com medo. No segundo filme, como diz a tradução portuguesa, existe um sentimento de “libertação”. É uma antologia sobre a invasão dos Aliados, para ocupar a inimiga Itália, são seis pequenas histórias cada uma versada no amor, angústia, desespero e esperança. O terceiro filme, o meu preferido e provavelmente o melhor filme da trilogia, conta a história de um menino que tem de sustentar a sua família numa Alemanha destruída, no rescaldo da Segunda Guerra Mundial. Aliás, este filme foi muito polémico e uma grande novidade para a indústria: foi a primeira vez que um filme alemão de guerra teve a repercussão que teve, mostrando uma Berlim totalmente destruída, aniquilada pela pobreza e pela sensação de perda e culpa. O que torna este filme numa obra-prima é o final, com um dos mais tristes e dramáticos finais da história do cinema.
É uma trilogia completa, diversa – e mais importante – factual. Não conta factos, mas baseia-se em factos verídicos, algo muito importante para qualquer filme de guerra. É a melhor colecção do cinema sobre o assunto e obrigatória para o conhecimento de qualquer pessoa, não só para fãs de cinema. É a grande obra de Roberto Rossellini, tendo ganhado, com esta trilogia, reputação e estatuto como um dos melhores e mais corajosos realizadores da indústria cinematográfica. Não é por acaso que esta trilogia foi escolhida como o artigo 30 da nossa especialíssima secção de Essenciais do Cinema. A alma, o sentimento, a veracidade, a inovação e a coragem foram os grandes motivos para esta escolha; para além da qualidade cinematográfica na realização, produção, argumento e interpretação dos intervenientes que é, em todos os níveis, magistral.