‘Stranger Things 2’ adiciona novos ingredientes à receita e mantém-se fiel à fórmula original
Um dos principais sucessos da Netflix no ano passado, Stranger Things, regressa para uma segunda temporada, dando continuidade à homenagem aos clássicos de ficção científica da cultura cinematográfica que começou na sua estreia. Numa fórmula semelhante, crescendo aqui em diversos sentidos diferentes, a série criada pelos irmãos Duffer faz regressar a equipa de miúdos que brilhou na primeira temporada, adiciona novos elementos e coloca uma ameaça diferente no seu caminho. Mais do que oferecer algo de novo, procura-se oferecer uma base para a continuidade da série por mais algumas temporadas.
Will Byers (Noah Schnapp), que teve um ano particularmente difícil na primeira temporada da série, volta a ser a principal vítima da segunda, através de sucessivas alucinações e encontros com o upside down – e com uma ameaça gigante em particular – enquanto que a sua mãe, Joyce (Winona Ryder), continua a destruir a casa da família na tentativa de descobrir informação para salvar o seu filho. Os miúdos continuam a ser as principais estrelas, com destaque inevitável para Dustin (Gaten Matarazzo), Eleven (Millie Bobby Brown) mantém-se como a principal esperança para salvar o dia nos tempos de maior apuro e o laboratório no centro da pequena localidade de Hawkins é mais uma vez o principal centro de todo o mal.
De um modo geral, as semelhanças entre as duas temporadas são numerosas, mas também muito as distingue. No segundo ano de Stranger Things, a preocupação em criar bases para temporadas seguintes é mais óbvia, não procurando esta terminar em si mesmo, como poderia ter acontecido na primeira. São apresentadas novas personagens, com destaque para Max (Sadie Sink), que assume destaque na equipa principal das crianças, e Kali, que será certamente um elemento importante no futuro da série. Sean Astin espalha empatia na pele do novo herói improvável da série, Bob Newby, ao mesmo tempo que se relembra a fugaz passagem de Barb pela série, numa vertente da história que nunca ganha suficiente força. No role de novas personagens, surge também Billy (Dacre Montgomery), meio-irmão de Max, cuja função parece ser apenas competir com Steve (Joe Keery) pelo título de pior cabelo da série.
Os primeiros episódios oferecem inúmeras referências a clássicos dos filmes de terror, com a mais óbvia a serem os disfarces de Ghostbusters dos miúdos no segundo capítulo, Trick or Treat, Freak, durante o Halloween. Estes momentos deliciosos preenchem os primeiros episódios, onde parece haver pouco interesse em avançar com a narrativa, criando lentamente bases para a segunda metade. A ausência inicial de Eleven é bastante notada e só percebemos verdadeiramente o que estamos a perder quando o foco cai sobre esta em episódios mais tardios. É a última fase da temporada que mostra o melhor que a criação dos irmãos Duffer tem para dar, deslumbrando em todos os sentidos, compensando a falta de ritmo da fase inicial.
Os focos sobre grupos menos numerosos de personagens são também um dos pontos mais interessantes, preenchendo cada uma delas com mais conteúdo, indo além de uma identidade de grupo. As aventuras de Dustin com Steve mostram uma das relações mais cómicas da temporada, Nancy (Natalia Dyer) e Jonathan (Charlie Heaton) continuam a tentar descobrir algo que todos já percebemos há demasiado tempo e o efeito que Max tem no grupo principal, especialmente em Dustin e Lucas (Caleb McLaughlin), mas também em Mike (Finn Wolfhard), oferece algo de novo na dinâmica do grupo, com um conflito interno por atenção.
Entre campanhas de marketing geniais e uma banda sonora que volta a electrizar a série, Stranger Things regressa para marcar uma posição como uma das mais interessantes propostas actuais no género. A principal preocupação de Matt e Ross Duffer aqui é criar raízes para continuar a crescer no futuro, abrindo os horizontes. O capítulo sete, The Lost Sister, mostra-nos as possibilidades no mundo fora da pequena vila de Hawkins, com a personagem de Kali a lembrar que há muito para explorar neste universo além dos já habituais Demogorgons (ou a variação canina dos mesmos). Também o upside down vai continuar presente, com a sua principal ameaça nesta temporada a surgir como um provável elemento a ter em conta também no futuro da série.
Stranger Things 2 deixa mais pontas soltas do que a primeira temporada, abrindo portas para a sua continuidade prolongada com o objectivo a ser, desde início, deixar aspectos por explorar para lá regressarmos mais tarde. O desenvolvimento da narrativa acaba por sair prejudicado, especialmente numa primeira fase, mas esta nunca perde força, mostrando-nos inúmeras vezes porque é que nos deixámos convencer pelo grupo de miúdos na estreia da série no ano passado. Este foi o difícil momento de afirmação da proposta da Netflix, superado com uma boa demonstração de qualidade. Foram adicionados novos ingredientes à receita, mas esta manteve-se sempre fiel à fórmula original.