‘Eat the Elephant’, dos A Perfect Circle, é um regresso seguro ao rock dos anos 2000
14 anos após o lançamento do último álbum de originais, os A Perfect Circle estão de volta com Eat the Elephant, uma demonstração de que a banda mantém a mesma identidade e, acima de tudo, uma crítica social bastante forte, algo que é apanágio das bandas de Maynard James Keenan.
É importante destacar que, neste caso em particular, o homem do leme é Billy Howerdel, o guitarrista da banda americana. Howerdel é o compositor e mentor de todo o projecto, ao qual Maynard empresta a sua voz, presença e criatividade. Além destes dois génios, há que destacar o guitarrista James Iha (The Smashing Pumpkins), o baixista Matt McJunkins (Eagles of Death Metal, Puscifer) e o baterista Jeff Friedl (Ashes Divide, Puscifer), nenhum deles membros originais da banda.
A Perfect Circle é sem dúvida uma das bandas de culto do rock dos últimos anos, com uma carreira em actividade bastante curta, mas com uma expressão enorme a nível mundial, graças principalmente ao génio de Maynard e ao excelente trabalho de Howerdel como compositor.
Eat the Elephant chega com bastante expectativa aos ouvidos dos fãs. Os Tool não lançam um álbum de originais desde 2006; os Puscifer, que têm encarado com mais seriedade o seu projecto, são sempre uma incógnita; e Maynard está sempre mais preocupado com o seu vinho do que propriamente em criar música nova. Há uma boa e má noticia para os fãs de A Perfect Circle, o novo álbum tem exactamente a mesma identidade que a banda tinha nos álbuns anteriores, mas não vai além disso. É pobre em novas ideias e em 2018 parece algo desactualizado.
Ninguém esperava que lançassem um novo álbum em 2018, quanto mais um álbum totalmente inovador, portanto não será essa a maior falha do disco. Pelo contrário, esta viagem até ao rock do início dos anos 2000 é nostálgica e cai bem, principalmente com o revivalismo de tantas bandas do Nu Metal nos últimos anos, seja Deftones, Korn ou Limp Bizkit (embora estas duas últimas sejam bastante diferentes de A Perfect Circle).
A primeira faixa do álbum, de seu nome “Eat the Elephant”, é uma excelente introdução ao que se segue, uma música de rock bastante coesa, com um encanto especial por ser a primeira vez que ouvimos a voz de Maynard neste álbum, e que incrível que é! Algo que já vem sendo apanágio da banda é a capacidade de tornar praticamente qualquer música dos seus álbuns num possível single. E é aqui que aparece “Disillusioned”, um dos singles oficiais do álbum e uma música incrível a todos os níveis, desde a entrega vocal de Maynard, à capacidade fantástica que Howerdel tem em anexar a melancólica voz do vocalista ao instrumental da banda. Este é um dos pontos fortes de A Perfect Circle – e principalmente de Howerdel – esta capacidade de compor todos os instrumentos de forma a navegarem juntamente com a voz e não apenas em seu redor.
Se em Tool assistimos à revolta, fúria e exclamação, aqui assistimos ao pensamento crítico, serenidade e interrogação das questões que rodeiam a vida. “The Doomed” e “So Long, and Thanks for All the Fish” são exactamente isso, uma reflexão social sobre diversos tópicos actuais, mas sem a necessidade de grito e intervenção imediata. É uma incógnita como irão resultar estas músicas ao vivo. Embora várias tenham sido já tocadas, a tour de apresentação só começa a 12 de Maio.
“TalkTalk” e “By and Down the River” são mais dois grandes exemplos de como os A Perfect Circle criam canções para single. É incrível ouvir a coesão instrumental criada por Howerdel e a voz calma, mas sempre no ponto, de Maynard. “Delicious” e “DLB” fazem-nos duvidar um pouco do caminho do álbum, mas, poucos minutos depois, a banda oferece-nos aquela que é a melhor música do álbum e uma das melhores da banda, “Feathers”. Nesta, todos os detalhes são elevados até ao topo, tanto a nível instrumental como vocal, tudo faz sentido e o culminar da composição é quase arrepiante.
Há quem diga que este não era o álbum que se esperava dos A Perfect Circle, mas a verdade é que após 14 anos de silêncio no que toca a novas composições, Eat the Elephant é quase uma obra-prima, um álbum de rock seguríssimo com vários mestres da música dos últimos anos. Podemos achar que falta criatividade ou talvez algum risco, mas a identidade da banda está aqui toda, com novas canções a fazer lembrar os anos 2000 e letras bastante actuais.