Novos desafios e perfis diferentes é o retrato feito por três jovens portugueses a viver na Alemanha
Novos desafios e perfis diferentes, com emigrantes altamente qualificados, é o retrato feito por três jovens portugueses a viver na Alemanha 60 anos após a assinatura do acordo bilateral entre os dois países.
“Falamos de comunidade portuguesa em geral, mas há uma grande diferença entre a comunidade atualmente e a de há 60, 70 anos. Na altura, os que saíam de Portugal faziam-no para trabalhar, sem escolaridade, ou apenas com a 4ª classe. Hoje emigram com títulos académicos nas mãos”, aponta Nélson Pereira Pinto.
O lusodescendente nascido em Colónia, com pais de Lamego, tem contacto com a língua portuguesa desde sempre e está intensamente envolvido no movimento associativo, mas admite que esse é cada vez mais um desafio da nova comunidade.
“Antigamente o problema era aprender o alemão para vir trabalhar. Agora o problema é quase inverso, para as terceiras e quartas gerações o desafio é aprender o português”, acrescenta o historiador e membro do Gri-Dpa, o Grupo de Reflexão e Intervenção da Diáspora Portuguesa na Alemanha.
Para Tiago Pinto Pais, a viver há 14 anos na Alemanha, “a comunidade portuguesa é diversa entre as gerações e os destinos”.
“Globalmente, continua a tratar-se de uma comunidade com facilidade na integração e que não gera controvérsia com a sua presença na Alemanha. Com o crescimento do turismo alemão para Portugal, há também maior exposição do país aos alemães, gerando mais empatia e envolvimento também da parte deles”, revela.
“O associativismo também tem evoluído, com várias associações no que se entende por ‘tradicionais’ e que foram essenciais no apoio social e socialização iniciais a encerrar e a definhar, com honrosas exceções que vão de vento em popa, a par da emergência de novas associações, algumas em diálogo com outras comunidades de língua portuguesa, e com objeto diferente, trabalhando nomeadamente conceitos que eram atípicos”, adianta o empresário e diretor do jornal Portugal Post.
Para Flávio Ramos, presidente da ASPPA, a Associação de Pós-Graduados Portugueses na Alemanha, fundada em 2012, a comunidade portuguesa está “desconectada ou desligada”.
“Desligada com Portugal e consigo própria (…). Cada vez mais associações fecham, perdem membros, e ninguém procura ativamente juntar-se com gente da comunidade. O que é engraçado é que, ao mesmo tempo, quando nós tentamos conectá-los de volta com a comunidade vemos uma grande necessidade de que isso aconteça”, comenta.
“O modelo anterior das associações em que existia um espaço em que alguém liderava e as pessoas vinham, está a morrer. Mas quando existe uma procura ativa de gerar interações entre a comunidade, ela responde ativamente. A necessidade está lá (…) quando é a associação a perguntar às pessoas o que é que precisam, temos sempre respostas bastante positivas”, continua.
O português, a viver há seis anos na Alemanha, primeiro em Hamburgo e agora perto de Lübeck, acredita que o fenómeno não se restringe à comunidade portuguesa.
“O mundo ficou assim, não vivemos apenas de interações em restaurantes, em bares ou em espaços de lazer. Vivemos num misto de mundo virtual com mundo local, em que as duas têm de ter uma certa ligação”, sublinha em declarações à Lusa.
Para Nélson Pereira Pinto, é “importante existirem estrutura para aprender o português”.
“Para manter os nossos laços, os nossos vínculos com Portugal vivos. Não só a temas ligados com a família, mas também para o futuro, porque o português é uma das línguas mais faladas do mundo, por isso é uma mais-valia”, sustenta.
“Hoje, com o mundo mais global e maior exposição pelo menos ao inglês, a integração e socialização são inicialmente mais fáceis e é comum criarem-se laços fora da comunidade com outros estrangeiros e alemães”, partilha Tiago Pinto Pais, a viver em Berlim.
“É um dos destinos mais dinâmicos a nível da imigração portuguesa jovem e qualificada, pela sua vertente internacional e de empresas criativas e start-ups. Na capital alemã o número de portugueses tem crescido significativamente”, embora frequentemente se observe tratar-se de uma emigração de curto prazo, contrastando com a emigração “de ‘Gastarbeiter’, que assistiu pessoas a fazerem vida na Alemanha e ainda hoje cá permanecerem pela família que criaram no destino do país”, conclui.
Devido à escassez de mão-de-obra, nos anos 1950, o Governo da República Federal da Alemanha recrutou trabalhadores temporários no estrangeiro através do programa “Gastarbeiterprogramm” para a reconstrução do país.
Em setembro deste ano comemora-se a assinatura do acordo bilateral entre Portugal e a Alemanha em 1964.