Entrevista. José Valente: “A minha música é cada vez mais desempoeirada, direta e livre”

por Lucas Brandão,    21 Novembro, 2024
Entrevista. José Valente: “A minha música é cada vez mais desempoeirada, direta e livre”
Fotografia de Rui Oliveira/CMP – DR

Talvez possamos dizer que José Valente é um dos segredos mais bem guardados da música em Portugal. Num caminho que já vem longo (“Os Pássaros Estão Estragados” ou “Serpente Infinita” já têm mais de cinco anos), mesmo com uma recente referência feita num canal generalista da televisão, ainda por cima em horário nobre, não são muitos os sinais vitais da escuta ativa da sua música fora do meio, pelo menos de forma evidente. Ainda assim, muitos já terão passado e acabado por se sentar e se deslumbrar com a sua viola de arco (familiar do violino), que é bem mais do que passar das pautas às cordas. A música de José Valente desafia-se sempre a ir mais longe, à procura de diálogos e de plataformas de encontro com outras realidades, com outras musicalidades, mostrando que é mais o que as une do que aquilo que as separa. “Quem é o José Valente?”, é o repto lançado pelo seu novo trabalho discográfico, em muito resultado desses desafios pessoais e dessas descobertas. A resposta foi aquilo que procuramos obter (leia-se a segunda parte da entrevista aqui).

Como é que todo este caminho na música começou?

O meu caminho na música começou porque os meus pais estavam atentos e perceberam muito cedo que existia uma grande atração da minha parte por tudo o que envolvesse o som e a música. A sua intuição, acertadamente, fez com que me inscrevessem nas aulas de iniciação musical de uma pessoa bastante relevante em Coimbra, o Maestro Virgílio Caseiro, fundador dos ”Heróis da Música”. Eu fui, com muita satisfação e orgulho, um “Herói da Música” (apesar de eu ter nascido no Porto, nós mudamo-nos para Coimbra quando eu tinha 3 anos). E é ali que começa tudo. 

Mais tarde, por indicação do Virgílio, optei pela viola de arco. O que eu queria era fazer música, portanto, era-me um bocado irrelevante o instrumento. Quando eu tinha 9 anos, o Maestro perguntou-me que instrumentos é que me seduziam. E eu falei das cordas, como violino, violoncelo e tal. Ele olhou para mim e respondeu que eu tinha pinta de violetista. Acontece muitas vezes os alunos começarem primeiro com o violino e depois transitarem para a viola de arco. No meu caso, não foi assim. O meu primeiro instrumento foi a viola d’arco. Realizei o trajecto normal do conservatório… não foi normal, porque foi uma experiência insuficiente. Não adorei o meu tempo no conservatório de música de Coimbra, mas cumpri o currículo. 

Entretanto, surgiu uma oportunidade. Eu ainda era adolescente, tinha uns 12 ou 13 anos, e abriu-se uma porta para eu ir estudar para a Áustria. Naquela altura era raro um aluno de música ir estudar para o estrangeiro. Porém, fiquei em Portugal para terminar o 12º ano. Após o 12º, fui para a Áustria e, da Áustria, passei muito fugazmente pela Alemanha. Depois fui para os Estados Unidos. Estive 10 anos fora do país. Ter sido emigrante e músico no estrangeiro durante 10 anos foi essencial para a composição da minha visão artística.

O que é que o teu doutoramento em Arte Contemporânea (na Universidade de Coimbra) contribuiu para este trilho?

Foi bom para a minha música. Não acrescentou muito se o escrutínio for somente de foro financeiro ou quotidiano. Contudo, do ponto de vista estritamente artístico, ofereceu-me várias coisas. Uma delas foi a possibilidade de aprofundar um espaço crítico e uma sensibilidade para com as outras disciplinas artísticas que eu, antes, não tinha. Hoje em dia, sinto que consigo contribuir positivamente na construção de obras de arte de outros colegas devido a esse tempo de tentativa e erro, alicerçado em várias colaborações que desenvolvi. Participei em inúmeras criações multidisciplinares nessa altura e todas elas estiveram envolvidas, de alguma maneira, com o doutoramento. 

Na realidade, o doutoramento acompanhou uma parte da minha evolução: o progresso de um músico já com alguma maturidade, mas que, em Portugal, especificamente, ainda estava a descobrir o caminho. Portanto, é curioso, porque o término do meu doutoramento está muito longe de corresponder à minha plenitude estética. Mas está a par e passo com um crescimento importante que me fez chegar a “Os Pássaros Estão Estragados”, o meu primeiro disco. É um disco em que eu me apresento já com alguma substância e solidez, digo um “olá, eu sou o José Valente!” ao mundo musical. O doutoramento foi muito importante nesta formação, nesta descoberta e, claro, numa série de conexões que estabeleci com outros artistas que me permitiram, justamente, beber de outros processos criativos e ser influenciado por outros pontos de vista. De igual modo, também me ajudou a percepcionar Portugal.

Fotografia de André Henriques (www.ahphoto.pt / ig @ahphoto_gigs)

És um globetrotter da música, porque passaste por Nova Iorque, pelo Chipre e até pela Índia, mas deu-te para assentar agora por cá. Porquê?

Foram razões emocionais. Foi para estar com a família. Quando regressei, eu ainda quis criar a ilusão dentro de mim de que Portugal é o início da Europa e de que nós, os artistas portugueses, iríamos conquistar o mundo com o nosso potencial. Mas depois, passado um ano, percebi que isso seria muito difícil.

Eu considero que Portugal até tem capacidade de conquistar o mundo. Por exemplo, o fado vai conseguindo isso, mas, no resto, tem sido mais difícil.

Portugal é muito mais do que o fado. É muito mais do que isso, claro. E se tu conheceres países que vivem numa intensidade cultural permanente, reparas que todos os seus fenómenos culturais são exportados. Toda a gente sabe que em França há muito além da chanson française.

Por muito que viajes e por muito que faças, tens a tua base de trabalho na Musibéria, que é um centro de criação artística de cariz ibérico bem deslocalizado dos grandes centros, estando em Serpa. Qual é a força que te impele a por lá ficar para as tuas gravações? 

Eu vivo no Porto. Portanto, no caso do Musibéria…bom, o que acontece é que, de vez em quando, nós somos agraciados com boas notícias. É raro. Em 100 notícias, há para aí dez que são boas. Estou a falar especificamente a nível profissional, não no que diz respeito à vida ou outras coisas. Um dia, fui, felizmente, surpreendido pelo diretor do Musibéria. Antes disso, fiz aquilo que eu considero ser o processo correcto de aproximação a qualquer instituição ou programador. Nestes contactos, o esforço do músico deve ser somente de anunciar que existe através da sua obra artística. Eu trabalho com pessoas que depois fazem o resto, como enviar propostas, etc. Mas mesmo relativamente a enviar propostas, há métodos que eu considero que são os corretos e outros que eu considero que são errados, pouco éticos. E o habitual em Portugal são os métodos pouco éticos.

Quando soube da existência do Musibéria, percebi que este Centro teria condições muito boas para eu criar. E por isso, decidi enviar-lhes o disco “Os Pássaros estão estragados”. O diretor interessou-se por aquilo que ouviu e telefonou-me. É curioso porque ele ligou-me exatamente quando eu estava a dar uma volta pelo Porto, para reflectir sobre o meu segundo disco. Ou seja, quando estava a inventar o “Serpente Infinita” na cabeça, porém, ainda sem um plano. Não sabia quais os contornos da obra, para onde é que a mesma iria etc. Naquela fase, só estava a pensar sobre o conceito e princípios para a composição. Nós conversamos um pouco e assim se despoletou uma dinâmica de criação. Eu fui ao Musibéria gravar e o “Serpente Infinita” correu bastante bem. Foi com este disco que começou uma excelente relação com a equipa do Musibéria. Com “Serpente Infinita” ficou estabelecido um enquadramento e uma confiança que continuam a confirmar-se sempre que visito o Centro.

Há uma outra característica muito importante no Musibéria. É uma estrutura extremamente honesta. Quando nos reunimos para discutir as minhas intenções, sou recompensado com excelentes pontos de vista da parte do diretor, porque ele preocupa-se verdadeiramente com o meu caminho artístico e, por isso, muitas vezes dá dois passos atrás e é capaz de observar certas nuances da proposta de uma forma muito mais abrangente. O César Silveira, o diretor, é um tipo brilhante e sagaz na análise que faz sobre o estado da arte em Portugal e no Alentejo em particular. Há decisões como a data de lançamento de algo, ou o porquê de inventar este disco agora, que não nascem exclusivamente da minha vontade. São também fruto destas conversas, das circunstâncias e do aconselhamento de algumas pessoas que me rodeiam: o meu agente, a minha produtora, a minha namorada, a minha família e alguns amigos essenciais. No caso do Musibéria já aconteceu, inclusivamente, do César ter imaginado propostas muito cativantes que, infelizmente, não se concretizaram. É bom dialogar com uma editora que te quer bem do ponto de vista artístico, e não do ponto de vista estritamente comercial.

O Musibéria também é extremamente realista quando se debruça sobre as expectativas logísticas. Eu consigo elaborar muito melhor um lançamento, quando me informam com transparência sobre as diversas condicionantes: conseguimos fazer x discos, conseguimos garantir isto e aquilo, etc. O Centro não se comporta como outros equipamentos culturais, que me prometem inúmeras facilidades logísticas e operacionais, que se escudam com falinhas mansas nas reuniões, para mais tarde, no momento da verdade, denunciarem que afinal de contas o panorama era outro, transformando o objecto numa impossibilidade ou numa versão que fica aquém da previsão. Portanto, a postura responsável do Musibéria dá-me muita segurança. Quando, em 2021, gravei “Trégua” – não foi através do Musibéria, nem podia ser, era impossível que fosse através do Musibéria -, vivi uma experiência extremamente cansativa e, em muitos aspectos, revoltante e frustrante. Poucos meses depois, regressei ao Musibéria para gravar 6 Violas e senti outra vez o conforto de uma sintonia na maneira de funcionar e de organizar. Enquanto o Musibéria me confiar a chancela, eu vou aproveitar para crescer. 

Trazes, no teu repertório mais recente, “Trégua” (2021), feito ao lado da Orquestra Filarmónica Gafanhense, e “Águas paradas não movem moinhos” (2022, entrevistamo-lo a propósito deste), com o coletivo 6 violas, sendo ambos reconhecidos no meio. O que é que trazes destes momentos de partilha para a tua individualidade? 

Trouxeram-me experiência, a percepção de mais uma série de fatores que, se calhar, eu já sabia, mas que ainda não tinha testemunhado pessoalmente, dentro do panorama nacional e do funcionamento da sua orgânica. Por exemplo, um dos cansaços de “Trégua” resultou neste pensamento: “então é assim que se fazem os projectos, é assim que acontecem os discos? Fazemos candidaturas, ganhamos o apoio, criamos qualquer coisa, e a obra acaba por falecer por falta de capacidade do próprio país em alimentar e suportar a densidade cultural que os seus artistas desenvolvem?”. No final do processo desse disco senti-me desiludido. Porque quase acreditei que não havia mais nenhum segredo para desvendar, nenhuma alternativa para subverter os procedimentos massudos e monótonos, propícios a esquemas e oportunismos processuais e criativos que definem a rotina das candidaturas. Fiquei preocupado: era isto que nós (equipa) iríamos fazer agora para o resto da nossa vida? O meu disco a solo é, em parte, uma resposta, uma reação. Preferi regressar a uma energia de self-made man, a uma dimensão que alimentou certos estágios marcantes do meu percurso. Quis voltar ao posicionamento em que não estou propriamente à espera do sistema e à espera de Portugal para fazer qualquer coisa, para corromper, de alguma forma, com aquilo que costuma ser o procedimento subserviente de criação, de edição e de estreia de músicas.

Quanto ao sexteto, é um projeto que eu considero muito especial. Bastante bem feito, musicalmente falando. Com “Águas paradas não movem moinhos”, tenho usufruído do imenso talento dos violetistas que me acompanham. Promovemos (eu e a minha produtora) uma realidade de convívio e de labor artístico extremamente agradável, que pode vir a deixar um legado para o repertório da viola de arco (se tal não acontecer, também está bem). Num outro nível de análise, se calhar, mais social do que musical, reparei num fenómeno bastante triste. É muito bonito dizer que se gosta e que se adora José Mário Branco ou Zeca Afonso, ou qualquer outro autor de Abril mas, no final do dia, o que a malta deseja é o de sempre: o que querem é ouvir um cover ligeiro, para que todos sintam que fazem parte de um sentimento global de pertença revolucionária, para que depois fique tudo exatamente nas águas paradas que o José Mário tanto detestava. É inacreditável o quão perverso isso é.

Os dois álbuns foram uma aprendizagem. São discos que demonstram uma exuberância criativa e uma capacidade de execução, de diálogo, de organização, disciplina e liderança. Elementos que são fundamentais para a construção de projectos de maior envergadura. Por isso mesmo é que nos últimos tempos, tenho recebido encomendas e propostas que são consequentes da percepção, da parte de algumas pessoas, de que eu tenho uma dimensão abrangente, sim, mas ao mesmo tempo única e exclusiva. De certa forma, alcancei “Sibila Bilingue” ou “Sibila Bilingue” alcançou-me porque gravei estes dois discos.

Como é que todo o tal caminho que percorreste, com tantas nuances e com tantas variantes, culminou neste novo disco?

Bom, eu recebi poucos concertos com os dois álbuns anteriores. Por isso, achei que precisava de adoptar uma táctica que facilitasse a contratação e a logística. A primeira intenção foi prática, é certo. Mas, logo de seguida, pensei: qual é o pretexto? A determinada altura, eu comecei a gravar músicas que fui tocando ao longo dos anos nos recitais a solo, mas que nunca foram registadas em disco. Agora podia gravá-las a partir de um prisma muito mais crítico e evoluído comparativamente ao momento em que estas foram compostas. Como, com a pandemia, aprendi a gravar em casa, até porque comprei um bom microfone, decidi gravar tudo no meu escritório. Porque gravar em casa iria proporcionar-me um espectro ilimitado de hipóteses. Tinha o tempo do meu lado, podia experimentar quanto quisesse, como eu quisesse, etc.

Ao contrário de muitas outras ocasiões, para “Quem é o José Valente” eu compus muito menos no papel. Muitas vezes, tinha uma ideia, gravava e analisava. Este dispositivo facilitou processos criativos completamente diferentes, muito giros para mim, muito motivadores. Por exemplo, no tema “Novo álbum?”, o que aconteceu foi: fui dar uma volta e lembrei-me da sonoridade um bocado esquizofrénica de alguém estar a dizer ininterruptamente, com tonalidades, dinâmicas e velocidades diferentes: “novo álbum.”, “novo álbum?”, “novo álbum!”. A partir desta maravilhosa confusão, quando cheguei a casa, gravei meia hora de nonsense e, depois, comecei a cortar e a editar as passagens que achei mais interessantes e provocadoras. Excertos esses que estimularam logo outras ideias adjacentes, como: “aqui quando eu digo X, posso reforçar ou contrariar esse X com um coro, e a viola pode tocar uma passagem barroca neste sítio, como que uma resposta. Então, o melhor é eu fazer um quarteto de violas”. Foi tudo nascendo a partir daquela meia hora de deambulação e evoluiu para uma declaração inspirada num disco de Frank Zappa (“Joe’s Garage”): a música é o melhor (“Music is the best!”).

“Quem é o José Valente” gerou-se a partir de uma necessidade que, automaticamente, fruto da minha personalidade artística, se transformou em algo mais profundo e relevante. Só um último lamiré: quando eu editei “Os Pássaros Estão Estragados”, preocupei-me em fazer um disco decisivo, retumbante. O mesmo aconteceu com o “Serpente Infinita”. As oportunidades para gravar em Portugal são escassas. Por isso, há quase 10 anos atrás (“Os Pássaros estão estragados” é de 2015), compus discos que foram, ao mesmo tempo, afirmações de estilo, convicções estéticas, e provas derradeiras (porque poderiam ser as últimas) de que eu não estou na música para me distrair ou para fabricar produtos superficiais. Daí os meus três primeiros álbuns terem sido alavancados a partir de uma pesquisa filosófica extremamente pertinente e densa, que delineou conceitos determinantes para a composição musical. Hoje em dia, o rigor continua a ser fundamental. O rigor é a maior demonstração possível de humildade na Arte. Só que, entretanto, como já comi mais feijoada musical, adquiri valências e uma confiança que me permitem pegar num Malhão, por exemplo, e imaginar algo esteticamente significante. Porque neste período do meu percurso, tenho uma linguagem cada vez mais definida, cada vez mais “josévalenteana” que abraça todas as componentes que considero importantes na música.

Noto que este disco é, talvez, aquele em que estás mais próximo de um ouvido menos treinado, ou seja, de um público mais abrangente. Esta chegada a mais ouvidos é intencional ou é parte do teu percurso?

Tem a ver com o percurso, com o facto de eu hoje me expressar musicalmente melhor do que antigamente. A minha grande amiga Marta Bernardes diz frequentemente que o nível artístico que todos sonhamos atingir é o do Chaplin. O objetivo máximo é alcançar uma expressão que é universal e, ao mesmo tempo, extremamente subjetiva e profunda. Eu ainda não vi a segunda nem a terceira temporada, mas um bom exemplo disto é o “Afterlife”, do Ricky Gervais. A primeira temporada é genial, porque a entrega, a mensagem e o humor conseguem atingir toda e qualquer pessoa. No entanto, os assuntos abordados, assim como a poesia de cada episódio, são muito complexos. Quando chegas a esta capacidade com o teu idioma, estás no ponto de rebuçado, artisticamente falando. Eu sinto-me feliz por notar que estou cada vez mais próximo desse lugar ao qual nunca irei chegar. Portanto, para mim, o que dizes só está relacionado com a vantagem da minha música ser cada vez mais desempoeirada, direta e livre.

Voltas a trazer a figura de José Mário Branco para a tua música, assim como outras figuras, como Naná de Vasconcelos, Beethoven, Fela Kuti ou Frank Zappa. Quem mais te inspirou neste caminho?

É engraçado, se me perguntasses isto há uns anos atrás, eu nomearia, provavelmente apenas dois nomes, que seriam o Carlos Paredes e o Zappa. Bom, na realidade, acho que descartaria a pergunta, porque, efetivamente, não concordo com essa frequente preocupação, da parte de quem entrevista, em identificar as principais influências de um músico. Eu não faço a mínima ideia quais são as minhas influências. Porque o meu interesse é a música, sou muito apaixonado por música. E não só pela música que me deslumbra e me afecta. Às vezes, aquilo que não me agrada também é relevante enquanto influência. Há imensas perspetivas por detrás de uma obra, de uma situação musical. Há imensos estímulos. Estes músicos que estão na capa de “Quem é o José Valente” são músicos que tiveram uma grande preponderância numa fase qualquer de aprendizagem ou de escuta. Houve um período qualquer da minha vida em que fiquei extremamente fascinado com a sua obra. Estes são músicos que eu não hesitaria em ir ver e, hoje em dia, eu hesito com quase tudo.

Tive o enorme privilégio de ver o Naná Vasconcelos ao vivo. Foi um concerto absolutamente extraordinário. Se fosse possível, teria visto ainda mais espetáculos dele. São músicos que eu considero muito generosos dentro de uma lógica musical. Estão numa dimensão que ultrapassa a espuma dos dias. Infelizmente a espuma dos dias, o ramerrão, o quotidiano normalizado é mediano. E ser mediano é ser medíocre. A sociedade perde imenso tempo com este quotidiano. Quando leio reportagens sobre festivais, concertos, novos lançamentos, quando vejo as notícias, quando passo os olhos pelas redes sociais, etc., concluo sempre que se perde imenso tempo com hipóteses e histórias medianas. É uma pena.

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