“O fim foi visto” de Teresa Coutinho entre as 15 propostas artísticas do Teatro do Bairro Alto para 2025
A programação do Teatro do Bairro Alto (TBA) para o primeiro trimestre de 2025 transforma as crises em espetáculos, com 15 propostas artísticas, que incluem “O fim foi visto”, de Teresa Coutinho, a partir de “Cassandra” de Christa Wolf.
Os artistas de dança Davi Pontes & Wallace Ferreira, a companhia Plataforma285, a artista interdisciplinar Inês Campos, a atriz e comediante Lucy McCormick, a dançarina Inés Sybille Vooduness, o músico Tashi Wada e o acordeonista João Barradas são outros nomes que vão passar pelo TBA, de janeiro a março do próximo ano.
“O fim foi visto” é um espetáculo escrito e criado pela atriz, criadora e dramaturga Teresa Coutinho, a partir de “Cassandra” de Christa Wolf e de uma extensa pesquisa em torno da Caça às Bruxas, que será apresentado de 25 de fevereiro a 01 de março.
Cruzando pesquisa e ficção, elementos históricos e reflexões acerca de desfechos políticos futuros, Teresa Coutinho efabula sobre uma futura ditadura, em que as mulheres, acusadas de bruxaria, voltam a ver os seus direitos brutalmente restringidos.
De acordo com a programação, esta é uma homenagem à “intuição, tantas vezes menosprezada”, mas também “uma fábula sobre o medo, a passividade e a repetição cíclica dos mecanismos de opressão”, numa reflexão sobre os perigos do crescimento da extrema-direita em toda a Europa.
Este espetáculo é um dos exemplos referidos pelo diretor do TBA, Francisco Frazão, que avisou que neste trimestre o teatro recebe “crises feitas espetáculos, negações da negação”, respostas em forma de espetáculo ao “não” que “quem resolveu dedicar-se a fazer arte” se habituou a ouvir.
“Entre janeiro e março, veremos como a intuição pode reescrever a História; como interrogar palavras e poses pode desmascarar a violência estrutural; como focar o detalhe revela universos; como os sonhos são políticos”, acrescenta.
Na programação do TBA, a primeira proposta do ano pertence a Inês Campos, o espetáculo de dança e performance “Fio ^”, que teve estreia absoluta no DDD – Festival Dias da Dança, que entrelaça as linguagens da dança, da música, do teatro visual, da poesia e do ‘storytelling’, numa viagem íntima pelos recantos da mente, que convida a explorar os caminhos recônditos da intimidade e da vulnerabilidade, em cena entre 09 e 11 de janeiro.
Um concerto dos Netos de Bandim, que representam a cultura guineense, terá lugar no dia 17 de janeiro e, no dia 22, abre-se uma assembleia para conversar sobre “Imaginação radical como prática de libertação”, com intervenções de Aissatu Seidi, Apolo de Carvalho, Mavá José, Rezmorah, Vanessa Amaral e Vânia Doutel Vaz.
A performance “Crice crice baby”, da Plataforma285, que pensa sobre a obsessão humana pela crise, cruzando artes performativas, dança, artes visuais e um concerto ao vivo, em cena entre 20 de janeiro e 01 de fevereiro, completa a programação para o primeiro mês.
A dupla brasileira Davi Pontes & Wallace Ferreira, cujo trabalho artístico se situa na intersecção entre a dança, a performance e as artes visuais, estreia-se em Lisboa, em fevereiro, com a apresentação de três propostas que compõem o seu corpo de trabalho mais recente: o filme/instalação “Delirar o racial” (dias 07 e 08) e as duas últimas peças da trilogia repertório – Repertório n.º 2 e Repertório n.º 3 (respetivamente, a 07 e 08 de fevereiro).
Para concluir este programa, o público é convidado a conhecer melhor o pensamento que sustenta as suas obras, numa conversa mais abrangente, subordinada ao tema “Coreografia da palavra”, que conta com a presença de artistas locais, nomeadamente Natacha Campos, Lukanu Mpasi e Jorge Cipriano.
No mesmo registo, está prevista uma conversa performativa, no dia 05 de fevereiro, com Lola Rodrigues a.k.a. SoundPreta, intitulada “Da boca ao universo”.
Nos dias 14 e 15 sobe ao palco a peça “Lucy and friends”, de Lucy McCormick, um espetáculo de cabaret ‘queer’, que mistura de forma caótica dança do varão, imitação de gatos, uma vidente e políticas sociais reformuladas à pressa.
O mês de março começa com um concerto do compositor e músico norte-americano Tashi Wada (filho do artista japonês Yoshi Wada, do grupo Fluxus), que no dia 05 apresenta “What is not strange”, ao lado da sua parceira Julia Holter, acompanhado por Corey Fogel na bateria e percussões.
No dia 06, André de Campos protagoniza a conversa performativa “Da boca ao universo”, a partir do ensaio “Alianças antissistema: varrer as ruínas e adiar o fim dos mundos”, da escritora brasileira Helena Silvestre.
Entre 14 e 16, a dançarina e investigadora cultural Inés Sybille Vooduness apresenta-se no espetáculo de dança a solo “Simbi em águas astronómicas”, e no dia 23, atuam o acordeonista de música erudita e jazz João Barradas e o coletivo Ensemble Supernova (Festival Rescaldo).
A terminar a programação do mês de março, o artista e investigador Henrique J. Paris apresenta uma conferência-performance, no dia 28, intitulada “Humming as a praxis”, na qual encena movimentos, lamentos e coreografias de significado contra-colonial.