‘Solo’ explora ainda mais a fundo o universo Star Wars
Nota: o final da crítica poderá conter spoilers.
Vamos descer ao mundo da cultura pop e dos nerds – que me inclui, como é óbvio. Chegou mais um filme vindo do mundo das estrelas e das galáxias. Mas este é diferente, felizmente.
Com o recomeço da saga Star Wars, a maioria dos filmes que foram produzidos, na minha opinião, ficaram muito a desejar. Caíram em erros tão óbvios como o de agradar às massas – algo esperado após a compra da LucasFilm pela Disney e considerando que cada filme ia sendo realizado por uma pessoa diferente que, obviamente, tinha interpretações e abordagens diferentes. Porém, foi com o filme independente de Gareth Edwards, Rogue One, e agora com este spin-off do Han Solo que a minha esperança e alegria cresceram. Ambos conseguiram contrariar a realidade do século XXI e do seu público, fugindo ao esbanjar de dinheiro em humor parvinho e infantil, efeitos especiais desnecessários e um enredo para agradar às novas massas, algumas que não cresceram com o surgimento deste mundo.
Acima de tudo, este filme é inteligente. Consegue conjugar dois mundos, ou seja, dois tipos de público: um que vai pelo simples prazer e outro que estudou a matéria em casa. Aqui podemos conhecer um pouco do passado de Han: como surgiu o seu apelido (Solo), como se tornou num aventureiro da galáxia, as suas amizades e tristezas, e ficámos deslumbrados com o carisma dele. Mas não fica por aqui. O realizador compreendeu que o que nos atrai mais neste mundo não é tanto os sabres de luz, que já tanto conhecemos, ou os jedis. É exactamente por conhecermos tão pouco do universo que o próprio espectador se torna num aventureiro entusiasta que quer conhecer mais planetas, mais raças, mais locais misteriosos. Assim, a personagem de Han Solo acaba por não ser o foco principal em todos os momentos, mas sim as personagens que o rodeiam e que, para o bem e para o mal, o tornaram posteriormente numa das pessoas mais famosas da galáxia. Porém, ele é apresentado, como não poderia deixar de ser, como um jovem carismático, charmoso e cheio de iniciativa no início de tempos conflituosos.
Para além disto, com este filme contribui-se para dar dois passos em frente no mundo do cinema e na forma como olhamos para a saga. Um primeiro relativamente às personagens femininas, com duas mulheres com um papel fundamental no filme, a quem foram dadas personalidades complexas e interessantes. São heroínas, são lutadoras, mas, acima de tudo, sobreviventes, e isso em si é sempre de elogiar. O segundo passo vai em direção a uma maior abrangência nas relações raciais, que era sempre explorada pela perspectiva meramente exótica, nunca aprofundando minimamente o que isso poderia significar, algo realmente deplorável tendo em conta que estamos numa época (na obra em si) em que a ideia do ser humano hetero ser o centro do foco é ridículo.
A única coisa que acabou por me desiludir foi a falta de um verdadeiro carisma e exuberância que esperava de Lando Calrissian. No meio de jogos de sorte em bares escondidos cheios de contrabandistas e mil e uma personagens, de um estilo dandy recheado de lenços e capas coloridas, perdeu-se a oportunidade de ver Donald Glover brilhar. A personagem não foi verdadeiramente explorada, o que é pena, porque é algo que o actor e músico consegue fazer perfeitamente. Já nos próprios videoclipes das suas músicas, ele consegue criar facetas e personagens muito expressivas, como acontece no caso da sua mais recente música, “This Is America”.
O fim não poderia ter decorrido de forma mais interessante para quem segue religiosamente a saga. Qi’ra trai Han e decide juntar-se às forças do mal lideradas por Darth Maul. Assim, deixou em aberto um possível desenvolvimento da história e deu uma maior complexidade à personagem feminina, que desde o início continha uma aura misteriosa.