NOS Primavera Sound 2018: as nossas recomendações
Nos próximos dias 7, 8 e 9 de Junho, a cidade do Porto voltará a ser invadida por música em mais uma edição do NOS Primavera Sound. Como já é apanágio deste festival, o cartaz apresenta vários nomes de qualidade como Nick Cave, Lorde ou Grizzly Bear, artistas já conhecidos e queridos do público português. Mas esta edição será também uma ocasião de estreias para muitos dos artistas que vão pisar o Parque da Cidade, como A$AP Rocky, Superorganism ou Arca. O cartaz do Primavera Sound apresenta um universo musical expansivo, com uma diversidade que certamente apelará aos fãs dos mais variados géneros. Aqui ficam alguns dos artistas que não perderemos na edição deste ano.
Tyler, the Creator (7 de Junho, 23:20, Palco SEAT)
Passados oito anos da sua estreia na música, Tyler, the Creator é muito mais do que o rapper e produtor zangado que mostrou em Bastard, a sua mixtape de estreia. A sua abordagem “furiosa” e voraz foi aperfeiçoada e culminou com o fantástico Flower Boy, lançado o ano passado. As suas rimas são biográficas, sentimentais e mostram uma subjectividade tocante e emocional, ao passo que os seus instrumentais tanto conseguem deixar os ouvintes a reflectir como pô-los a saltar com vontade, ao som de teclados abrasivos e batidas dilacerantes, mostrando o enorme talento do artista na mesa de produção. Depois de ter cancelado a sua estreia em Portugal o ano passado, certamente que irá compensar com um concerto potente ao qual ninguém ficará indiferente.
Vince Staples (8 de Junho, 22:15, Palco NOS)
Vincent Jamal Staples é um dos rappers mais discretos do panorama musical actual. Mas a sua discrição esconde um artista de rimas claras, incisivas, que vão direitas ao assunto e que nos prendem através do timbre agudo do nativo de Long Beach, na Califórnia. A sua sonoridade é suavemente distinta, destacando-se dos seus contemporâneos através das escolhas de produtores com quem decide trabalhar. Aos 24 anos de idade, conta já com dois álbuns de originais sob a sua alçada, e na sua estreia em Portugal vai certamente tocar vários temas do seu pragmático álbum Big Fish Theory, lançado o ano passado. Promete ser um concerto digital, embalado pelas rimas sibilantes do músico norte-americano e bangers que rivalizam com os mais opulentos dos rappers.
Unknown Mortal Orchestra (8 de Junho, 01:00, Palco Pitchfork)
Os acordes dissonantes dos Unknown Mortal Orchestra, embrulhados no ambiente psicadélico em que as suas músicas se apresentam, constituem uma das mais autênticas assinaturas das bandas desta década. Reconhecemos de imediato um instinto de autoria, fruto da musicalidade fervilhante de Ruban Nielson, o compositor e líder das hostes. Os últimos dois álbuns revelam tudo isto num groove mais dançável e balanceado, ao qual é difícil ficarmos indiferentes. Num misto de descontracção e temas mais pesados, as guitarras assumem a predominância, em jogos divertidos e inesperados, com acordes estranhos e improváveis ao virar de cada esquina. Os Unknown Mortal Orchestra constituirão uma excelente alternativa ao cabeça de cartaz A$AP Rocky para quem na hora não se sentir tão chamado ao hip hop, num concerto que encantará o ‘novo’ Palco Pitchfork, no recanto verde mais afastado da zona principal do festival.
Floating Points (8 de Junho, 02:30, Palco Pitchfork)
Em 2016, Floating Points apresentou-se neste mesmo festival acompanhado de banda, dando um dos melhores concertos que o Parque da Cidade viu nesse ano. A sua electrónica tingida de jazz e música ambiente, com batidas produzidas para estimular as sinapses cerebrais, desta vez será apresentada a solo. O horário dá a entender que terá batidas mais dançáveis como base, mas decerto será uma experiência imersiva, como Sam Shepard nos tem habituado, também pela sua componente visual: em 2016, lasers desenhavam padrões geométricos numa tela, tornando-se impossível desviar o olhar; em 2017, no NOS Alive, um harmonógrafo traçava os padrões do ritmo analógico a que o público dançava (ou não). Passados três anos do maravilhoso Elaenia, veremos que surpresas Floating Points tem na manga para o público português.
Oso Leone (9 de Junho, 17:00, Palco Super Bock)
Para a história ficará para sempre a estreia de Oso Leone em Portugal numa tarde de agosto de 2014, ao qual os espectadores assistiam preguiçosamente, deitados na encosta relvada do anfiteatro natural de Paredes de Coura. Espanhóis pouco ou nada conhecidos no nosso país, tomaram o palco maior com a sua música lânguida, composta por baixos profundos, batidas esparsas e guitarras cálidas, que amaciam e envolvem, embalando o pouco público que lá estava. Hoje é difícil relembrar o concerto com exactidão, mas há impressões que ficam e que persistem, réstias de Mokragora, o seu primeiro álbum de originais, que ainda hoje tranquilizam.
Wolf Parade (9 de Junho, 21:45, Palco SEAT)
A presença dos Wolf Parade no festival portuense é uma surpresa, mas sem dúvida bem-vinda para aqueles acérrimos ouvintes de indie rock do virar da década – altura em que Expo 86 impressionou com canções musculadas como “Ghost Pressure” ou “What Did My Lover Say? (It Always Had to Go This Way)” – ou então para aqueles que nunca perderam de vista o álbum de estreia da banda, o definitivo Apologies to the Queen Mary. Sejam quem forem, provavelmente perderão o concerto destes canadianos em detrimento do portento que é Nick Cave, mas aconselha-se pelo menos uma espreitadela para testemunhar ao vivo o carisma vocal de Spencer Krug e as guitarradas potentes de Dan Boeckner.
Nick Cave and the Bad Seeds (9 de Junho, 22:05, Palco NOS)
A última vez que Nick Cave e os seus Bad Seeds estiveram em Portugal foi no Primavera Sound de 2013, num concerto que paira ainda hoje na memória de muitos. 5 anos volvidos, um álbum e documentário concebidos no meio de uma tragédia pessoal, Nick Cave volta ao Parque da Cidade para celebrar a música que tem composto nos últimos 30 anos de carreira. Em palco, Nick Cave alimenta-se do público e o público adora-o, num quase culto e é no meio deste turbilhão de emoções que viveremos, durante pouco mais de 80 minutos, com a plena e absoluta certeza de nada será igual depois deste concerto. Culminará, possivelmente, numa invasão de palco, porque para Nick Cave o público é tão importante como quem cria, sem vedetismos, sem barreiras, com nada menos do que perfeição.
Nils Frahm (9 de Junho, 23:40, Palco Super Bock)
A música clássica não é hoje como há cem anos, nem há cem anos era igual à da Renascença. Nils Frahm é uma contemporânea expressão do piano clássico com a música ambiente e a electrónica, a partir de bases minimais que crescem em elevada e emotiva sensibilidade. O alemão, que soma quase década e meia de carreira, nunca veio a Portugal. O anfiteatro natural do Palco Super Bock será o lugar privilegiado onde as suas composições ganharão corpo nos ouvidos que escolherem este utópico encerramento do festival. Esperamos que a acústica permita captar os silêncios e as pausas de um som talvez demasiado delicado para um festival. Nils Frahm afirmou, em entrevista, que exige muito dos seus próprios espectáculos: a marca positiva que deixa nas almas que o ouvem compensa a pegada ecológica de uma digressão mundial? Queremos acreditar que sim, e seremos cobaias dessa bela e hipnotizante experiência.
Arca (9 de Junho, 02:30, Palco Pitchfork)
Alejandro Ghersi é um explorador sónico. A maneira como o venezuelano – mais conhecido como Arca – mistura música electrónica e sensações mostra um artista disposto a explorar as fronteiras para exibir a sua arte por vezes transcendente, focado e simultaneamente disperso pelo amplo espaço sónico que desvenda. No seu último projecto, Arca, Ghersi descobriu a sua voz e um lado mais emocional da música, depois de um conselho dado pela amiga Björk, com quem também colabora frequentemente. E não é a única: Arca já emprestou os seus dotes na mesa de produção a artistas como FKA Twigs ou Kanye West, mostrando que o seu talento tanto singra na vanguarda da música pop como nos grandes artistas do seu presente. Na sua estreia em Portugal, veremos sem dúvida um concerto imersivo, com abrasão calculada e intimista que se fará ouvir pelo Parque da Cidade.
Artigo escrito com contribuições de Bernardo Crastes, Linda Formiga, Miguel Santos e Tiago Mendes.