Até quando vamos optar pelo silêncio e ignorar o poder que temos?

por Ricardo Costa,    13 Março, 2025
Até quando vamos optar pelo silêncio e ignorar o poder que temos?
Parlamento Português / Fotografia de Carlos Pombo, 2009

Nos últimos dias, após a publicação do meu artigo de opinião, recebi centenas de mensagens e comentários. Palavras de apoio, de revolta, de frustração, mas, acima de tudo, de resignação.

“És um verdadeiro exemplo de quem deveria liderar o país… mas lá está! Tens empresa, és empreendedor… O sistema não o permite. Se fosses e arruinavam-te os negócios!

“Devia ir para o governo, mas cuidado, não estrague a sua vida.”

“O sistema está montado para destruir quem quer fazer algo pelos portugueses.”

“Não há ninguém que consiga fugir dele.”

“Sei que não avança pelas suas empresas, iam acabar com elas.”

“Tem o meu voto, mas pense no que isso pode fazer à sua família.”

Estas frases, vindas de cidadãos comuns, são o reflexo de um problema profundo e enraizado: a perceção de que a política em Portugal não é um espaço para quem quer servir, mas sim um campo minado onde poucos entram sem se corromper ou sem serem destruídos.

E a pergunta que me inquieta é: até quando vamos aceitar isto como um dado adquirido?

Até quando vamos continuar a ver os melhores profissionais da sociedade – os mais competentes, os mais íntegros, os mais preparados – recusarem qualquer papel na política porque sabem que, inevitavelmente, serão atacados, descredibilizados e usados como alvos de um sistema que protege os que já lá estão?

Até quando vamos permitir que os que verdadeiramente querem mudar o país fiquem de fora, porque a política se tornou sinónimo de sacrifício pessoal, destruição profissional e instabilidade familiar?

O problema não é apenas dos políticos. É nosso também. Porque nos resignamos. Porque aceitamos como inevitável. Porque nos calamos.

A democracia não se esgota no ato de votar. Ela exige cidadãos ativos, exigentes e dispostos a lutar por uma política que seja, de facto, um espaço de serviço público e não um palco de interesses pessoais.

Se continuarmos a afastar da política os mais capazes, quem vai governar? Se continuarmos a permitir que os jogos de poder sejam mais importantes do que as pessoas, que país vamos construir?

Portugal tem de romper com esta cultura de conformismo. Precisamos de coragem para exigir mais, para apoiar quem quer mudar as coisas e para deixar claro que não aceitamos uma política de mediocridade e oportunismo.

Se queremos um país melhor, está na hora de parar de dizer “é assim e sempre será” e começar a perguntar “como podemos mudar isto?”.

E essa mudança começa em cada um de nós. No que exigimos. No que aceitamos. No que estamos dispostos a fazer.

A política não pode continuar a ser um espaço onde só sobrevive quem faz parte do sistema. Tem de voltar a ser um espaço onde os melhores querem e podem estar.

Até quando vamos fingir que não temos poder para mudar isso?

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