O futurista Vladimir Maiakovski

por Lucas Brandão,    30 Julho, 2018
O futurista Vladimir Maiakovski
Vladimir Maiakovski (1893-1930)

Vladimir Maiakovski é um rosto emblemático da expressão artística nos primeiros passos da revolução soviética. Embora com uma relação oscilante com esta, acompanhou a sua maturidade enquanto expressava o seu génio poético, tendo até colaborado na elaboração de alguns posters propagandísticos. Porém, o seu rasgo vanguardista seria demais para uma conciliação estável com a União Soviética. Ele, um assinante do manifesto futurista, via-se constrangido pelo surgimento da censura e pela doutrinação do realismo socialista. De caráter satírico e provocador, o poeta, que se suicidaria, acabou aclamado pelo governo soviético, a quem disferiu tantos dissidentes dissabores.

Vladimir Vladimirovich Maiakovski nasceu a 19 de julho de 1893, na cidade de Baghdati, na Geórgia, parte da Rússia czarista do final do século XIX. Crescendo nos arredores do Cáucaso, cresceu no cruzamento das culturas russa, georgiana e ucraniana, sendo a sua descendência maternal desta origem. Geórgia seria o lugar eternizado no íntimo do poeta como o lugar que representava o paraíso, a sua referência quando pensava em algures alegre. Aos 14 anos de idade, integrou-se nas primeiras iniciativas de cariz socialista, na cidade de Kutasi, onde estudava. Foi neste período que foi desenvolvendo o seu criativo mais vanguardista, deslocado das tendências existentes. Por via da morte do seu pai, ele, a sua mãe e as suas duas irmãs passaram a viver em Moscovo, onde se deliciou com a literatura marxista. Associou-se, assim, formalmente ao Partido Trabalhista Social-Democrático Russo, mesmo após sair do gymnasium (liceu) onde estudava por falta de verba para pagar as suas propinas.

A sua atividade dissidente prosseguiu, tornando-se num ativista bolchevique, que distribuía propaganda e que transportava um revólver, mesmo sem licença para o seu porte. Por colaborar na fuga de várias ativistas políticas femininas da prisão, acabou a ser condenado com uma pena de onze meses de prisão solitária em Moscovo. Aqui, entregou-se à poesia para canalizar todo o instinto revolucionário que emanava no seu espírito. Pela sua idade precoce, conseguiu escapar a uma pena de detenção avultada e dedicou-se à sua carreira literária de forma exclusiva. Para isso, deixou o partido e focou-se naquilo que queria criar, a “arte socialista”. Entrou, em 1911, na Escola de Arte de Moscovo e estabeleceu uma amizade com o futuro artista e autor David Burlyuk. O emergente futurismo russo surgia e embrenhava as intenções e as motivações de ambos, sendo duas vozes do grupo Hylaea, vocacionado para libertar a arte das tradições académicas. Para isso, recitavam poesia nas ruas, atiravam chá às suas audiências e compareciam em várias das iniciativas pré-definidas para, nelas, criar a disrupção desejada.

Burlyuk surgiu, assim, como a inspiração necessária para que Maiakovski se afincasse na poesia, para além de corroborar o Manifesto Futurista, ao lado dos artistas Velemir Khlebnikov e de Alexey Kruchenykh, para além do seu amigo Burlyuk. Pushkin, Dostoievski e Tolstói eram, desta forma, parte de um passado que não era abraçado pela modernidade, e que contrastavam com o que o russo escrevia. Assim, surgiu, em 1913, a notável tragédia lírica “Vladimir Mayakovsky”, uma sátira à vida urbana e um apelo à revolução da força laboral industrial, num misto de dramatismo e de bizarria. Foi representada em São Petersburgo, num misto de recitação e de interpretação, que se apresentou com uma ilustração adequada e com edições literárias imprimidas, agrupadas às coleções de poesia que iam surgindo.

Em 1913, os membros do Futurismo Russo fizeram um périplo por 17 cidades russas, em iniciativas que geravam o entusiasmo de quem os via e o descontentamento das forças de segurança imperiais, que se faziam impor. Maiakovski vestia-se de forma extravagante e provocadora, destinada a escandalizar. No entanto, as contrapartidas seriam danosas, com Maiakovski e Burlyuk a serem expulsos da escola de arte, perante a dissociação dos princípios defendidos em relação às suas aparições públicas. Porém, nem tudo corria mal ao poeta, que tinha ganho 65 rublos numa lotaria, que lhe permitiu viajar um pouco mais e terminar “A Nuvem de Calças” (1915, originalmente intitulada “O Décimo-Terceiro Apóstolo”). A obra inspira-se no seu amor não-correspondido por Maria Denisova, transmitindo as extremidades das suas emoções num registo declamatório, ritmado e efervescente, em estrofes que se deslocavam totalmente dos preceitos poéticos russos. No rescaldo desta obra, conheceu o autor socialista Maxim Gorky, o pintor realista Ilya Repin e o poeta infantil Korney Chukovsky.

“Se gostares
Eu serei uma furiosa carne elementar,
ou – mudando para tons que o pôr do sol desperta – se gostares –
Serei extraordinariamente gentil
não um homem mas – uma nuvem de calças.

“A Nuvem de Calças” (1915)

Entretanto, eclodiu a Primeira Guerra Mundial, para a qual se voluntariou, tendo sido rejeitado por desconfiança política. Passou, assim, a trabalhar numa empresa de desenho de luboks (pinturas populares russas derivadas de mitos e de lendas locais), adaptando-as ao nacionalismo soviético; assim como a redação de poemas anti-bélicos e satíricos no jornal “Nov” e na revista “New Satyrikon”. Maiakovski apaixonar-se-ia por uma mulher casada, Lilya Brik, que se tornaria na sua musa, e, ao mesmo tempo, tornar-se-ia amigo próximo do seu marido, o crítico literário Osip Brik. Este seria responsável por lançar várias das obras do poeta, para além de apoiar o seu movimento, o Futurismo Russo. Tendo já um caso com a irmã de Lilya, Elsa, foi o autor que, numa reunião de família, plantou o gosto pela literatura no casal, recitando o poema “A Nuvem de Calças”, dedicando-o precisamente a Lilya.

Maiakovski com Lilya Brik (1915)

A conjugação destes fatores desencadearia uma fase de grande produção poética do autor, surgindo “A Flauta Vértebra” (1915, sintonizada com as agruras da paixão perante o conforto da segurança e do estatuto social, levando à crueldade e à equação da morte), “A Guerra e o Mundo” (1917, novamente numa toada anti-bélica, obra apoiada por Maxim Gorky), e “O Homem” (1918, que antecipou o fim do Maiakovski, sendo o poema protagonizado por um homem que sente a injustiça social no seu íntimo e que, no alto do seu universalismo e do seu romantismo, ainda acredita numa subversão social).

Com o final da Primeira Guerra Mundial, surgiu a prometida Revolução Bolchevique, à qual se associou de alma e coração. Para consumar essa associação, criou um jornal (“Futurist Paper”) e realizou vários filmes mudos, sobrando “A Dama e o Hooligan” (1918, com mais um trama de um amor problemático e problematizado). Juntou-se ao comité central de artistas do Partido Comunista, no qual coordenou ideias e iniciativas de exultação da causa soviética. Entretanto, apresentou a peça “Mistério-Bufo” (1918, com a apresentação narrada e ficcionada de uma espécie de Arca de Noé soviética), propondo uma transformação constante do seu enredo, durante os tempos e os diferentes contextos. Neste caso, surgem os sujos (proletários), que vencem os limpos (burgueses), da qual advém uma alegria contagiante para as massas. No entanto, o registo difícil e obtuso da peça não ajudou na sua transposição para a sétima arte.

“Homens, amarrotados como lençóis em hospitais,
E mulheres, golpeadas como provérbios em demasia.”

Em 1919, passa a viver e a trabalhar em Moscovo, colaborando com a Agência Telegráfica do Estado Russo, na criação gráfica e textual de posters satíricos, para a informação das comunidades mais iletradas do que se vinha sucedendo no seu dia-a-dia. Aqui, viveu com o casal Brik, com quem trabalhou em vários projetos artísticos. A sua popularidade ganhou um grande impulso neste período, embora o vissem com grande ceticismo, nos quais se enquadra Lenine. Por sua vez, o dramaturgo e político Anatoly Lunacharsky apoiava os seus laivos futuristas, que voltaram em 1921, com “150 000 000”, um poema alegórico rumo à visada revolução mundial. Representada na figura de Ivan, o Terrível, a Rússia confronta o capitalismo dos Estados Unidos, simbolizada por Woodrow Wilson, presidente naquele período.

Os dotes comunicacionais de Maiakovski destacaram-no crescentemente, que se denotavam tanto na oralidade como na já sobejamente reconhecida escrita, que se perpetuava nos periódicos soviéticos, na poesia propagandista e nos livros didáticos para crianças. Contudo, em 1922, viajou por Riga, Berlim e Paris, que lhe permitiu contactar com as realidades ocidentais. Teve a oportunidade de, entre outros, visitar os estúdios de Pablo Picasso. Desta viagem, resultou “O Oeste”, narrando, entre outros, a sua reação em relação ao cinema emergente e envolvente de Charlie Chaplin. Ainda assim, permaneceu como um membro de esquerda, reforçado na sua presença na Frente da Arte de Esquerda, fundando o jornal LEF, ao lado de Osip Brik, do dramaturgo Sergei Tretyakov e do irreverente artista Alexander Rodchenko. Com este, visava reexaminar as práticas ideológicas do governo, refutando o individualismo e apontando o valor da arte no desenvolvimento e amadurecimento do comunismo. Isto decorreu num período em que Maiakovski e Lilya Brik já se tinham afastado, com cada um a arranjar uma nova paixão, embora mantivessem uma relação querida, de familiares. Essa relação seria o mote para alguns trabalhos poéticos, como “Sobre Isso” (1923), no qual procurou exorcizar aquilo que o atormentava da nova paixão de Brik, o político Alexander Krasnoshchyokov.

Duas mortes pautariam a sua alteração na perceção do regime. O assassinato do diplomata e crítico literário Vatslav Vorosky e a morte do líder Vladimir Lenine, a quem dedicou o poema épico “Vladimir Ilyich Lenin” (1924), recitando-o no Teatro Bolshoi, numa ovação que se estendeu em vinte minutos. No ano seguinte, voltaria a viajar para a Europa, mas também passaria pelos Estados Unidos, pelo México e por Cuba, sobre os quais deixou vários ensaios em “A Minha Descoberta da América” (1925). O jornal LEF, agora “Novo LEF”, recebia uma nova roupagem pouco tempo depois, direcionando-se para a arte documental, embora em gradual desagrado com a direção assumida pelo resto da equipa editorial. Separava-se, mesmo continuando a colher opiniões favoráveis no que redigia e no que recitava, ocupando os principais espaços culturais da Rússia soviética.

Cartaz propagandístico da autoria de Vladimir Maiakovski

(Tradução do cartaz: “QUER? JUNTE-SE / Quer conquistar a frieza? / Quer conquistar a fome? / Quer comer? / Quer beber? / Apresse-se para se juntar à equipa de ataque ao trabalho exemplar”)

Entretanto, conheceu, ainda nos Estados Unidos, a emigrante Elli Jones, com quem teve uma filha, de seu nome Patricia, que viu somente uma vez, em 1928, em Nice, quando esta tinha 3 anos. Viria a transformar-se, no seu percurso profissional, numa professora de filosofia e investigadora de estudos femininos, lançando o livro “Maiakovski em Manhattan” (1993), sobre o período que antecedeu o nascimento da filha do autor. Pouco tempo depois da derrocada da União Soviética, iria lá para descobrir um pouco mais das suas origens, adotando o nome Yelena Maiakovska. Quando passou por Paris, também teve uma paixão fervorosa pela modelo Tatyana Yakovleva, a quem viria a dedicar poesia da sua autoria, à imagem do que fez a quem amou durante a sua vida. Tentou que esta voltasse consigo para o território russo, mas não conseguiu, por razões burocráticas sobre as quais se considera que Lilya Brik contribuiu para que se tornassem impeditivos do regresso.

Em 1929, celebrou-se o vigésimo aniversário da carreira literária de Maiakovski, que teve uma celebração da efeméride. No entanto, a ausência de membros associados ao regime comunista fez-se notar, o que formalizou implicitamente o afastamento que se tinha dado entre o autor e o agora poder estalinista. Redigiria, de seguida ao certame, duas peças, que desejava que fossem interpretadas no Teatro do dramaturgo e encenador Vsevold Meyerhold. “O Percevejo”, de 1929, foi uma crítica ao que a NEP (Nova Política Económica) tinha trazido à União Soviética, em particular um desinteresse pelo que aqueles artistas vinham produzindo, numa utopia que encaminha a narrativa para cinquenta anos após o protagonista ser congelado numa cave no dia do seu casamento. Por sua vez, “Os Banhos” (1930) ridiculariza, de forma excêntrica, o oportunismo e a burocratização trazida por Estaline à Rússia, num texto que era constantemente reinterpretado e reformulado quando era recitado pelo próprio Maiakovski.

Seriam obras que provocariam uma enorme onda de depreciação, que inaugurariam uma autêntica perseguição àquele que era considerado um poputchik nos tempos de Lenine, nunca se tendo declarado como leninista, ao contrário dos bolcheviques que apoiavam a governação soviética. No dia 12 de abril de 1930, a sua companheira, a atriz Veronika Polonskaya, ouviu um tiro na residência que partilhava com Maiakovski: havia sido este que o tinha deflagrado, terminando a sua conturbada e manifestada vida naquele momento. Antes de o fazer, tinha escrito uma nota, procurando discrição no que havia feito e pedindo ao governo uma vida decente para aqueles que eram os seus familiares, a sua companheira de então e Lilya Brik. O seu funeral ocorreria cinco dias depois, reunindo quase 150 mil pessoas, uma multidão que se aproximava daquela que havia estado no de Lenine e que estaria no de Estaline.

“Uma hora da tarde. Deves ter ido para a cama.
A Via Láctea transborda prata pela noite.
Não tenho pressa; com telegramas relâmpago
Não tenho motivos para te acordar ou incomodar.
E, como dizem, o incidente está encerrado.
O barco do amor foi esmagado contra a rotina diária.
Agora tu e eu estamos fora. Para quê te preocupares, então,
Para equilibrar tristezas, dores e mágoas mútuas.
Vê o que quieta se instala no mundo.
A noite envolve o céu em homenagem às estrelas.
Em horas como estas, uma sobe para abordar
As idades, a história e toda a criação.”

Sepultado no cemitério de Novodevichy, existe alguma controvérsia em torno deste suicídio, que era já uma ideia que estava inculcada na mente de Maiakovski. O ato tinha sido antecedido por uma discussão com Polonskaya, que se mostrava indisponível para se divorciar do ator Mikhail Yanshin. A nota de suicídio que se descobriu foi escrita dias antes da sua morte, para além de outras versões do ocorrido afirmarem que ouviram dois tiros, o que aumentou o rumor de terem sido as forças de segurança soviéticas a assassinarem o autor. Pouco tempo depois, o casal Brik, íntimo de Maiakovski, foi expatriado, para além de outros indícios que se foram percecionando a partir de 1991, com o desmoronar da União Soviética, mas que não conseguiram comprovar a teoria do assassinato.

Maiakovski deixou um testemunho diferenciado e demarcado das tradições artísticas russas, na forma do contributo vanguardista do Futurismo Russo. As inovações tecnológicas eram abraçadas com a possibilidade de, com elas, articular um caminho surrealista e fragmentado, com e sem significados, munido de uma linguagem urbana e disruptiva. Queria, com isto, criar a “linguagem democrática das ruas”, a partir de experimentalismos que subvertiam os preconceitos da religião, da arte, da indústria e do amor. Tal era o seu rasgo virtuoso e revolucionário que, numa expressão tão vivida e desconstruída das frustrações e fúrias pessoais e sociais, eram alguns aqueles que o mandavam internar. O ímpeto de louvar a Revolução Bolchevique, no desejo incessante e palpitante de ser contrário e renovador, conduziu-o numa propaganda recheada de mensagens provocadoras e subversivas, com neologismos e estilos gráficos diversificados. Os seus malabarismos, num registo de manifesto e de agitação histórico-política, conduziram a novos fulgores poéticos, como “Muito Bem!” (1927), cruzando o heroísmo lírico com a ironia e a sátira, onde ainda louvava a Revolução Russa.

“Ao maquinista
coberto pelo pó do carvão
e ao mineiro que morde os veios
tributas o incenso
com unção,
louvando o trabalho dos homens.
E amanhã,
em vão São Basílio clamará,
seus guindastes e vigas
implorando clemência.
Teus canhões de focinho suíno
há muitos milênios o Kremlin rebentam
O “Slava”
geme em sua viagem derradeira.
Lançam as sirenes afogados apitos.
Envia marinheiros
ao barco que se afunda,
onde,
esquecido,
mia um gato.
E então?
Gritavas, inebriada, em manada.
Ergo o bigode, bizarro, bravio,
E a coronhadas atiravas da ponte
encanecidos almirantes
de cabeça ao rio.
Lambes tuas feridas para estancá-las,
e vejo de novo tuas veias abertas.
– Três vezes maldita! –
diz o filisteu.
– Mil vezes gloriosa! –
te exalta o poeta.”

No entanto, o seu trajeto tornou-se incompreendido e pouco apreciado pelos burocratas soviéticos, que foram subtilmente criticados na sua dramaturgia, levando ao palco armas de fogo perante a falta de escrúpulos do governo estalinista. Seriam vários aqueles que, após a sua morte, o manteriam vivo e são em nome da autonomia artística e cultural da população, como os autores Boris Pasternak e Valentin Katayev, e a poeta Marina Tsvetaeva. Isto num contexto muito específico e recatado, tendo em conta o esquecimento inicial da imprensa soviética em relação a Maiakovski. Após uma carta de Lilya a Nikolai Yezhov, chefe do NKVD, o ministério do Interior de Estaline, o seu legado foi homenageado e transportado para píncaros inigualáveis. O nome da cidade do seu nascimento transformou-se no seu, assim como foi criado um museu e biblioteca em sua homenagem em Moscovo, que acolheu a alteração da Praça Triunfal para Praça Maiakovski; assim como a abertura da estação de metro Mayakovskaya. Tornara-se, assim, no poeta da Revolução, embora muito da sua criação tivesse sido censurado e deturpado em prol da causa comunista.

A sua fama voltaria a ser cultivada, muito por via da nova geração de escritores que, em busca da liberdade criativa e expressiva, invocava o legado de Maiakovski no ativismo e no vanguardismo que se procurava assumir. Os próprios nomes dos poetas Pablo Neruda e Louis Aragon seriam influenciados pelo russo, que foi granjeando uma fama atlântica, contrastando com a fama radicalista que foi colhendo pelo já reumático sistema soviético. A sua rebeldia conheceu, desta forma, um impacto tão ou mais válido do que aquele que gerara em vida, perante os comodismos czaristas e os excessos comunistas.

“Como dizem:
caso encerrado,
o barco do amor
espatifou-se na rotina.
Acertei as contas com a vida
inútil a lista
de dores,
desgraças
e mágoas mútuas.
Felicidade para quem fica.”

Excerto da carta de suicídio de Vladimir Maiakovski, datada de 1930

Vladimir Maiakovski foi um espírito livre, amplo, aberto, sentido. As causas que incorporou sempre estiveram sintonizadas com o seu sentimento, com o seu percurso lírico, com a sua pujança expressiva. De momentos radicais, de elevações emocionais, de laivos irracionais foi feito um futurismo incompreendido pela maioria dos contemporâneos, embora imortal nos sucessores. Entre as estrofes, as falas e os cartazes, foram vários os caminhos pelos quais se pode ler, ouvir e sentir a expansão criativa de Maiakovski, com olhos de futuro. O vanguardismo deste russo empreendeu, com isto, numa escalada de exultação pela revolução, numa dedicação que, entre o amor e a dor, se cumpriu na sua imaterial libertação.

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