A culpa é do pão ou da manteiga? 25 anos de dilema
Há coisa de 25 anos aconteceu uma coisa muito estranha ao meu corpo. Eu, que fui durante os primeiros 30 anos da minha vida magríssimo sem precisar de fazer nada para assim me manter, comecei inexoravelmente a engordar.
Engordei, engordei, engordei. Fiquei gordíssimo. Ver uma fotografia do meu doutoramento em 1999 (quando eu tinha 35 anos) é-me tão penoso. Não consigo. Estava mesmo disforme. Quando vim para Coimbra em 2009, mais gordo ainda eu estava. Cheguei a usar calças n.º 48 (hoje uso n.º 42 – e já cheguei a usar 40).
Em Janeiro de 2010, inscrevi-me num ginásio; e a 1 de Outubro desse mesmo ano comecei a treinar com António Oliveira, com quem treino ainda. Considero o «Tozé» um verdadeiro amigo, além de excelente PT.
Uma coisa que rapidamente se me impôs na consciência foi a ideia de que, treinando com um PT, não fazia sentido ter essa despesa e não ver no espelho qualquer resultado. Já agora, eu queria ver um corpo bem desenhado (atendendo, claro, às limitações da minha idade).
Para isso, porém, não bastou treinar. Uma das muitas mentiras da indústria alimentar é que um corpo tido como «bonito» é fruto de exercício físico.
Não é.
Antes fosse. Mas não há exercício físico que desempenhe o papel da dieta – mesmo entendendo por «dieta» o conceito grego de δίαιτα, «modo de vida». Posso treinar todos os dias no ginásio, mas se a dieta não for certa, o espelho vai-me mostrar o mesmo Frederico gordo.
Então que dieta?
Já experimentei tudo. Quando comecei a dedicar-me há 9 anos ao esforço de voltar a ser magro, o que estava na moda (isto nos anos remotos de 2010-2015) era uma dieta baixa em hidratos de carbono e rica em gorduras e proteína. Havia a noção contra-intuitiva de que o que engorda no pão com manteiga não é a manteiga: é o pão.
Deixei, assim, de comer pão e reduzi ao mínimo os hidratos de carbono (quase não comia arroz, massas, batatas – açúcar sempre proibido, claro). Passei a comer bastante mais proteína animal e gorduras. No entanto, dei-me conta de uma coisa chata no meu corpo: essa dieta «low-carb, high fat» só funcionava se eu não bebesse vinho (a única bebida alcoólica de que gosto). Para ficar magro em regime «low carb, high fat», tinha de ser abstémio.
Coisa que eu detesto. Pois vinho é para mim quase uma bebida de alcance filosófico: não me faz sentido uma dieta em que não possa beber vinho.
Há coisa de uns meses – felizmente com boa disposição do meu marido André! – tentei uma coisa nova: decidi descobrir o que seria cortar a manteiga e comer o pão. Por outras palavras: o que acontece ao meu corpo se eu lhe der hidratos de carbono e lhe tirar as gorduras?
No dia 8 de Maio em que fiz 55 anos, fiz um pedido especial ao maravilhoso cozinheiro que é o André no sentido de fazermos um almoço totalmente vegano. A partir daí, tenho-me interessado por alimentação vegana e descobri que, eliminando da minha dieta gorduras animais e reduzindo ao mínimo as gorduras isoladas (isto é, gorduras como azeite ou óleo), ingerindo somente gorduras no seu estado natural – azeitonas em vez de azeite; amêndoas e nozes, etc. – o que acontece é que emagreço vertiginosamente sem o mínimo esforço, sem sentir fome, comendo feijão e lentilhas e pão e arroz e massas e fruta e vegetais… e, acima de tudo, sem precisar de cortar o vinho.
E assim sucede que, depois de tantos anos em que eu pensei que era o pão que engordava, chego à conclusão de que, afinal, é mesmo a manteiga.
O óbvio às vezes até faz sentido.