A despedida de Arménio Carlos e Ana Avoila
Arménio Carlos (líder da CGTP) e Ana Avoila (coordenadora da Frente Comum) serão substituídos nos próximos dias por novos protagonistas. Sei que os comunistas não gostam de salamaleques, mas ainda assim julgo importante escrever o que me parece ser da mais elementar justiça: tanto um como o outro souberam, em tempos difíceis, manter a CGTP como uma força com poder e influência. Uma força que, com o aparecimento de sindicatos inorgânicos, ganhou ainda mais poder institucional.
Foram quatro anos certamente difíceis de gerir. Com um difícil equilíbrio entre o trabalho que tinha de ser feito e a necessidade de respeitar um acordo com o PS. Arménio Carlos conseguiu fazê-lo. A CGTP ganhou internamente uma espécie de dinâmica revolucionária e operária (que começava a perder com Carvalho da Silva) e isso é muito relevante.
Anos complexos também para o PCP. Com perda de algumas câmaras e alguma dificuldade de posicionamento no quadro de um acordo parlamentar. Era vital que não se perdesse o poder das ruas, julgo que Arménio Carlos cumpriu o objetivo. Com a ajuda de vários dirigentes onde destaco a combativa Ana Avoila – radical e impulsiva, mas sempre leal e coerente com os objetivos que iam sendo definidos.
Num tempo de meias tintas é importante reconhecer isto. Um tempo em que assistimos à ascensão de projetos populistas, também nos movimentos sindicais. Um tempo em que vemos a UGT dilacerada e a deixar de ser respeitada pelo próprio governo do PS. Por tudo isso, é vital para a democracia existir um sindicato que não navegue em função das marés e dos interesses de cada momento e de cada personagem.
Arménio Carlos e Ana Avoila despedem-se e acredito que estejam de consciência tranquila. Têm razões para isso. Porventura muitos estarão a aplaudir as suas saídas – suponho que tenham feito as papinhas da cabeça a alguns –, mas essa é a prova de algodão de que souberam estar à altura do que o tempo lhes pedia.