“A Forma Justa”, de Sophia de Mello Breyner Andresen (poesia)

por Guilherme Gomes,    7 Março, 2017
“A Forma Justa”, de Sophia de Mello Breyner Andresen (poesia)
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Sobre Sophia há tanto a dizer que tudo o que se escreva aqui será pouco, e repetido — como a imagem que ela nos oferece com as ondas do mar. Prefiro falar sobre o porquê de escolher este poema, o porquê de gravar neste cenário:

Sophia é, para mim, uma das autoras (e escrever que é uma das autoras é o mesmo que dizer um dos Autores) que mais me toca: desde a poesia aos contos, passando pela inevitável tradução de Hamlet, de Shakespeare, tudo o que vou lendo do que escreveu me toca de forma profunda. A Grécia, o Mar, a Dignidade do Homem. Tudo coisas tão presentes na poeta, tudo coisas urgentes (palavra que associo à poesia de Sophia) no meu tempo. Este poema é, como tantos dos seus escritos, algo que gostaria que no seio da política se ouvisse — como, aliás, chegou a acontecer: contam-se histórias de pessoas a ler poemas, textos, em reuniões de partidos, em comícios. E não o esconde Sophia ao escrever: têm uma dimensão política os seus poemas. “O Nome das Coisas”, livro onde aparece este “A Forma Justa”, é um livro que reflecte o momento histórico do 25 de Abril — nele acompanhamos, em poemas, o pensamento de uma mulher que, ao abrir os olhos, nos alonga os horizontes; é nele que aparece a madrugada que eu esperava/O dia inicial inteiro e limpo.

O poema foi escrito depois do dia, atenta às injustiças que continuamente poluem a água que, incansavelmente, corre pela vida. A partir dele poderíamos pensar sobre a justeza das coisas naturalmente: por isso escolho um sintoma de humanidade, rodeado de mar e gaivotas, para gravar. Um lugar onde há-de um dia o mar engolir o cimento — como me pareceu ver uns dias depois de gravar, uma destas manhã, ao passar de mota por aquele lugar: o passadiço parecia mergulhado, como se não existisse. Pensei: Poderia ter gravado nestas condições: imaginei que parecesse que estava de pé sobre as ondas. Não foi assim, e ainda bem: o que importa neste vídeo é a luta entre o Homem e o Mar.

Alongar-me-ia sobre este tema. Voltarei a falar de Sophia mais tarde. Entretanto, estou sempre por aqui:

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