‘A Noite da Iguana’, uma peça de grandes interpretações
Tudo promete nesta “Noite da Iguana” no Teatro Nacional São João (TNSJ) no Porto – um elenco de prestígio, uma co-produção de uma das melhores companhias de Portugal, Os Artistas Unidos, a dramaturgia de Tennessee Williams (conhecido no teatro e cinema por textos como “Um eléctrico chamado desejo” ou “Gata em Telhado de Zinco Quente”) e um espaço lindíssimo que é o TNSJ. Por estas ou por outras, casa cheia. Parece que, nos últimos anos, o público de teatro aumentou bastante, mas não se pode ignorar o facto de em palco estar um dos mais aclamados atores do momento em Portugal, Nuno Lopes.
Estamos no México e o cenário é a fachada de uma pensão com tanto calor e dolce far niente que apetece mesmo sair da plateia e ir preguiçar ao sol (fictício) enquanto uma bebida fresca nos chega por milagre às mãos. Nuno Lopes é Shannon, um padre americano afastado da igreja que agora se dedica a fazer visitas guiadas e que chega visivelmente perturbado, por febre e assombrações, à pensão, deixando assim penduradas um grupo de professoras de uma visita guiada. Shannon contava encontrar Fred, um amigo de longa data, mas apenas encontra a esposa, Maxine, uma “viúva alegre” interpretada por Maria João Luís, que começa logo a fazer tudo para que ele ali fique com ela. Daqui para a frente, há muitos pequenos acontecimentos, mas, na verdade, a peça não conta uma história, fala-nos antes de um percurso psicológico muito rico do personagem principal (um homem que não se sabe perdoar e que parece ter algum gosto em dar-se mal com a vida) e dos que orbitam à sua volta, sem nunca haver o clímax (ponto alto de tensão do drama). Um estilo de dramaturgia complexa, carregada de metáforas e labirintos psicológicos, que pode afastar alguns espetadores, ainda que a qualidade destas interpretações, encenação e produção façam com que isso seja pouco provável de acontecer.
Entre os atores em palco, é absolutamente visível a entrega e comunicação de todos. As cenas são fluídas e os artistas servem com grande dedicação e mérito cada um dos seus personagens. Destaque para Nuno Lopes, que fica em palco as duas horas e meia sempre ao seu mais alto nível parecendo que faz cada coisa pela primeira vez, e Maria João Luís, que tem uma linguagem corporal deslumbrante, de fazer inveja a muitos atores por esse país fora. Esta é uma peça de grandes interpretações, beleza visual e encenação rica e eficiente.
“A Noite da Iguana”, estreada em Lisboa (São Luiz Teatro Municipal) no passado mês de janeiro, continua em cena no Porto (TNSJ) até dia 23 de fevereiro e faz depois uma passagem pelo Teatro Aveirense no dia 4 de março, não havendo até à data mais espetáculos previstos.
Ficha Técnica:
A NOITE DA IGUANA, de Tennessee Williams;
Tradução de Dulce Fernandes;
Com Nuno Lopes (Lawrence Shannon), Maria João Luís (Maxine Faulk), Isabel Muñoz Cardoso (Judith Fellowes), Joana Bárcia (Hannah Jelkes), Pedro Carraca (Hank Prosner), Tiago Matias (JakeLatta), João Meireles (Herr Fahrenkopf), Vânia Rodrigues (Frau Fahrenkopf), Pedro Gabriel Marques (Pancho), Catarina Wallenstein (Charlotte Goodall), Américo Silva (Nonno), João Delgado (Pedro), Bruno Xavier (Wolfgang) Ana Amaral (Hilda);
Cenografia e Figurinos Rita Lopes Alves;
Luz Pedro Domingos;
Som André Pires;
Coordenação Técnica de João Chicó;
Produção de João Meireles;
Assistência de Encenação de Nuno Gonçalo Rodrigues e Bernardo Alves;
Encenação de Jorge Silva Melo;
Uma produção Artistas Unidos/SLTM/TNSJ
Fotografia de: Leonardo Negrão / Global Imagens