A segunda edição do FICLO leva o cinema Gótico Tropical a Olhão

por Comunidade Cultura e Arte,    13 Fevereiro, 2020
A segunda edição do FICLO leva o cinema Gótico Tropical a Olhão
La Región Salvaje, de Amat Escalante
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Uma dezena de filmes integram o ciclo que a segunda edição do FICLO – Festival Internacional de Cinema e Literatura de Olhão dedica ao Gótico Tropical. Agrupa títulos dos realizadores colombianos, Carlos Mayolo e Luis Ospina, do grupo de Cali, e outras produções da América Latina que partilham a sua ética e estética.

A história surge a partir duma conversa entre o escritor Álvaro Mutis e Luis Buñuel. Mutis quer escrever um romance gótico em terras quentes. Buñuel mostra-se completamente céptico em relação a esta empresa. O resultado: La Mansión de Araucaima, uma história que se inscreve dentro da antropologia do mal com uma paisagem tropical como cenário. Até aí Buñuel ainda tinha razão. Só quando Carlos Mayolo leva o romance ao cinema é que este consegue recuperar o verdadeiro espírito subversivo do gótico, porque muito para além da paisagem, enfatizar-se-ão as relações de dominação coloniais e pós-coloniais.

Em Olhão, o festival mostrará alguns dos títulos do surpreendente género gótico tropical. Desde Agarrando Pueblo (Carlos Mayolo e Luis Ospina, 1977), um falso documentário que satiriza e deixa a descoberto a porno-miséria como mercantilização da pobreza pelo cinema miserabilista, a Carne de tu carne (Carlos Mayolo, 1983), passando por Pura sangre (Luis Ospina, 1982), baseado em casos reais e inspirado no universo mitológico de série B, até La Mansión de Araucaima (Carlos Mayolo, 1986). A programação do Ciclo Gótico Tropical integra ainda Zombi Child (2019), um filme que retoma a figura do zombie a partir da sua génese crítica, o zombie enquanto escravo submetido à exploração colonial; com algumas variações da figura, o zombie feminista de Los que Vuelven (2019) da argentina Laura Casabé; a comédia gótica Juan de los muertos (2011) que retorna ao zombie num contexto pós-colonial cubano. Há ainda a destacar o filme mexicano La Región Salvaje (2016) de Amat Escalante, com uma poderosa crítica à sociedade conservadora, corrupta, homofóbica e patriarcal.

Com regresso apontado para os dias 28 março a 5 abril, o FICLO – Festival Internacional de Cinema e Literatura de Olhão já havia anunciado uma retrospectiva da filmografia de Albert Serra e um seminário com o realizador espanhol a ter lugar entre 4 e 6 de março. O festival anunciará mais programação nas próximas semanas.

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