“Acordem!”, gritou Greta Thunberg aos políticos no Parlamento Europeu
“O meu nome é Greta Thunberg, tenho 16 anos, venho da Suécia, e quero que entrem em pânico.”
Foi assim, com estrondo, que começou o discurso de Greta Thunberg no Parlamento Europeu, ao início da tarde de hoje, numa sessão especial dedicada às alterações climáticas. Greta é uma jovem ativista sueca que tem corrido o mundo numa tentativa de fazer acordar os líderes políticos para a dimensão deste problema e para a necessidade de agir – e depressa.
O discurso começou por falar sobre as projeções para 2030, que revelam um cenário bastante catastrófico. Se não reduzirmos as nossas emissões, se não rejeitarmos os plásticos, se não fizermos um esforço por reflorestar e limpar o planeta, o futuro está mesmo em causa. E não é a opinião de Greta, é claro. “Estes cálculos e previsões não são opiniões ou palpites. Estas projeções são baseadas em evidência científica apoiada por todos os países através do IPCC [Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, das Nações Unidas].”.
Aliás, é em torno da ciência que Greta pede que todos se unam. “Unam-se em torno da ciência. Coloquem a melhor ciência disponível no centro da política e da democracia”. Com Greta têm saído à rua milhares e milhares de jovens em toda a europa, fazendo greve à escola em nome de um planeta saudável. Em Portugal, a última greve aconteceu no dia 15 de março, e a próxima está já marcada para dia 24 de maio, na véspera de um fim de semana muito especial: o das eleições europeias.
Estas eleições serão de uma importância tremenda para o futuro da política ambiental global. A União Europeia tem liderado um conjunto de países ao nível das Nações Unidas para que se faça o possível e o impossível para salvar o planeta. No dia 26 de maio, elegemos os eurodeputados que estarão no Parlamento Europeu entre 2019 e 2024, mas elegemos também o presidente da Comissão Europeia e sinalizamos aos nossos governos os projetos de futuro que queremos para a Europa. Temos, portanto, uma oportunidade única para influenciar a política ambiental, não apenas na Europa, mas em todo o mundo.
(a propósito, tens aqui um artigo que contém listas e programas eleitorais, feito por mim para o ID-Europa, um projeto do Conselho Nacional da Juventude para acompanhar estas eleições de forma a envolver os jovens e a responder às suas questões.)
As eleições europeias não têm sido marcadas por grandes debates. Aliás, nem grandes, nem pequenos. Quando os líderes falam, falam sobre si próprios e sobre os seus pares, revelando a pequenez que representam e a miserabilidade intelectual que caracteriza a política dos nossos tempos. Razão para desistirmos? Vontade não falta, compreendo, mas não será assim que se salva o planeta. É mesmo razão para ir a jogo. Não podemos esquecer que a mudança pode partir de nós também. “Todos e tudo precisa de mudar, para quê perder tempo a discutir sobre o quê e quem deve mudar primeiro?”, diz-nos Greta, tão acertada.
Mas é mesmo para os líderes que Greta mais fala. “Todos e tudo precisa de mudar, mas quanto maior o teu palco, maior a tua responsabilidade.” A pancada mais forte que Greta dá aos líderes europeus é quando os confronta para o facto de já terem realizado 3 cimeiras extraordinárias sobre o Brexit, mas nenhuma devido ao colapso ambiental e climático que a ciência, de forma unânime, vaticina. É, de facto, misteriosa a inação de um conjunto enorme dos líderes (não de todos, nem de todos por igual, mas da maioria daqueles que representam a porção mais significativa do eleitorado). A esses, uma mensagem: “Li que alguns partidos não me queriam aqui hoje porque estão desesperadamente a evitar falar sobre o colapso climático.”
A União Europeia tem um poder enorme para agir neste campo. Mais concretamente, os Estados-Membros da União – nunca se esqueçam, a Comissão Europeia pode estar em Bruxelas, mas é nas capitais que se tomam as decisões mais profundas e estruturantes. Podemos, em conjunto, alterar os regimes fiscais para beneficiar alternativas mais “verdes”. Podemos reabilitar a ferrovia na Europa. Podemos concluir a União Energética (basicamente, a interligação física e económica das redes energéticas nacionais), para que as renováveis sejam uma alternativa mais fidedigna e viável. E podemos também influenciar os outros países a fazer melhor. A União Europeia é o maior bloco comercial do mundo. O que acham que acontece se a União impuser regras ambientais muito mais apertadas a empresas e países terceiros? Acham mesmo que empresas e países se podem dar ao luxo de desprezar as vendas para a União? Esta é uma das principais justificações de uma União Europeia atualmente, mas convém agir de acordo com ela.
E assim voltamos aos líderes, responsáveis por conduzir essas ações. Quando Greta lhes pede pânico, não está a pedir alarmismo. Está a pedir a união da União Europeia em torno de uma perspetiva de futuro para ela e para a sua geração. Está a pedir urgência e ação. Vejam o minuto 5 do discurso, que é paradigmático. Enquanto vai listando as consequências da ação humana no planeta, tenta conter as lágrimas, escondidas atrás de uma voz quebradiça e de uns olhos ruborizados. É o rosto do desespero, mas é também a força da coragem e a coragem da força, a força para dizer a um auditório cheio de gente “importante” que têm de se sentar e cooperar, que não podem continuar a ignorar o problema, que serão uma vergonha para os seus filhos e netos se tentarem escapar-se à necessidade de agir.
Para os líderes, as últimas palavras: “Peço-vos que acordem e tornem possível a mudança necessária. Fazer o vosso melhor já não suficiente. Temos de fazer aquilo que é aparentemente impossível.”
Aconselho o seu discurso na íntegra. Podem fazê-lo aqui. E, no dia 26 de maio, votar nas eleições europeias, como vos pede a Greta: “Vocês têm de nos ouvir, àqueles que não podem ainda votar. Vocês têm de votar por nós, pelos vossos filhos e netos.”.