Andrew Salgado tem nova exposição em Nova Iorque, e respondeu a algumas das nossas perguntas
Andrew Salgado é um dos artistas dos tempos modernos que mostra que a arte está mais que viva e que a compra e venda de boa arte não é coisa do passado. Através da sua arte tenta mostrar partes do seu percurso de vida ou do seu próprio estado de espírito. Com ainda poucos anos de carreira, Andrew, um artista que para além de incrivelmente único em termos técnicos, sempre se preocupa com retribuir à comunidade o que ela lhe deu, prepara-se agora para inaugurar ‘The Fool Makes a Joke at Midnight’ na Thierry Goldberg Gallery na cidade que nunca dorme.
Aproveitámos a ocasião para fazer algumas perguntas ao artista, podes ler uma seleção da nossa entrevista aqui.
Consideras esta a tua maior exposição até à data?
Andrew Salgado: Cada exposição que faço tem de ser a mais importante. Invisto tudo a cada nova exposição, porque como artistas, somos apenas tão relevantes como as nossas obras mais recentes. Já mapeei mentalmente as minhas exposições para os próximos dois anos, mas sim, neste momento esta exposição é tudo. E daqui a dois meses, a próxima será tudo.
Consideras que Nova Iorque é o melhor sítio no mundo para expores a tua arte?
Certamente que é um sítio fenomenal para expor, e tem uma energia criativa próspera e genial. Mas não acho que devamos falar em termos tão superlativos. É a melhor? Melhor que qualquer outro sítio no mundo? Não necessariamente. Gostava de vir viver para Nova Iorque daqui por uns anos e respirar toda esta energia, mas também aprendi muito ao viver em Londres durante grande parte da última década. As tendências são diferentes em Nova Iorque do que são em grande parte da Europa e experienciei isso em primeira mão, e acho que isso me tornou num artista melhor. Claro que ainda tenho muito para aprender, mas sou uma pessoa porosa, gosto de aprender, não sou arrogante o suficiente para achar que já sei tudo. E depois há a questão da arte que se mostra em sítios específicos. No ano passado fiz uma exposição para Miami chamada ‘A Quiet Man’ e acho sinceramente que ela não teria funcionado em qualquer outro sítio que não Miami. Estou marcado para Lauba na Croácia em 2017 e estou muito expectante em relação a isso. É um espaço brilhante e um novo público e estou realmente ansioso para perceber como o meu trabalho se vai adaptar e mudar em resposta a isso. Estou também em negociações para voltar a expor no meu país natal, o Canadá. Será a minha primeira exposição no Canadá em anos, e vai ser um momento gigante para mim.
Porque é que esta exposição se chama ‘The Fool Makes a Joke at Midnight’? E qual foi o principal tema ou objetivo que tentaste representar ou atingir com estas telas?
Houve algumas ideias que tive durante o processo criativo para este espetáculo. Mas é sempre estranho porque como artista, o título tem de ser criado antes das obras, e isso pode ser aterrorizador. Mas uma primeira ideia para a exposição foi a de alguém ou algo a operar por detrás de uma máscara, como no Feiticeiro de Oz. Isso desenvolveu-se para algo como uma fachada ou capa, tanto literal como figurativamente, em qual os objetos e pessoas que represento aparecem mascarados, mas também caem na distração por causa da dantesca quantidade de ‘barulho’ nas telas. Em certos aspetos estes trabalhos são sobre tantas outras coisas que não a figura nelas representada. Depois morreu David Bowie enquanto preparava os trabalhos, e encontrei um novo significado para eles, a ideia da tolice da natureza humana, os elementos tragicómicos das nossas vidas, o agridoce, e até ideias de máscaras mortuárias. Há nas obras vários palhaços como metáforas sobre aquilo que todos nós somos, o que soa um pouco banal e cliché mas acho que consegui fazer as coisas funcionar. O próprio título da exposição é uma brincadeira, e acho que a exposição levanta muitas mais perguntas do que as respostas que oferece. Acho que as pessoas se vão divertir muito a explorar as telas num número de níveis: conceptualmente, tecnicamente, formalmente… Será difícil mesmo apenas as pessoas deixarem os trabalhos assentar nas suas mente. Há muita coisa para onde olhar. Queria que fosse algo esmagador em termos de estímulos visuais, e acho que consegui atingir essa meta. É também uma ruptura a nível pessoal. Quem me acompanha sabe que estou sempre a tentar surpreender o público dos meus trabalhos. Não há duas exposições iguais. Estou orgulhoso desta exposição, mas é também a mais carnavalesca. Diverti-me muito a fazê-la, e acho que isso se mostra.
As pessoas nos teus quadros são pessoas que tu conheces?
São quase todos exclusivamente estranhos. Quase.
Achas que a tua arte mudou nos últimos anos?
Absolutamente. Mas não tenho tempo para artistas que não evoluem. Isso não tem interesse para mim.
Contribuíste recentemente com uma quantidade considerável de dinheiro para caridades que combatem o vírus do HIV/Sida, nomeadamente a Terrence Higgins Trust. É algo que faças com regularidade? Conseguir angariar dinheiro para pessoas que realmente precisam dele é algo que te motiva a fazer o que fazes?
Trabalho com uma mão cheia de caridades internacionalmente, uma delas é a THT. Sou muito procurado por elas, mas só conseguimos ajudar até certo ponto, certo? A nova exposição vai trabalhar com uma caridade para crianças vamos vender pipocas à entrada e vamos doar todo o dinheiro resultante a caridades, é como se estivesses num Carnaval ou numa feira, mas todos os fundos vão para crianças em necessidade. Gosto de pensar em maneiras inteligentes e criativas de doar, e sinto-me muito inspirado por elas. Em certas medidas, conseguir originar alguns milhares para uma caridade faz-me mais feliz do que vender toda a exposição. Acredito em retribuir… E tento sempre fazê-lo… Vamos ser sinceros, nós como artistas conseguimos juntar muito dinheiro para outros, portanto é ótimo conseguirmos fazer coisas que são menos auto-indulgentes. Às vezes vejo campanhas e promoções e penso ‘porque não doam algum dinheiro estas pessoas a caridade?’. É muito fácil esquecermo-nos de que há outros pelo mundo que estão a sofrer, e nós podemos ajudar bastante facilmente. Nos últimos quatro anos consegui contribuir com cerca de 50 000 dólares para a THT. Contributos pequenos acabam por se amontoar e fazer a diferença.
Como começaste a carreira? Como conseguiste meter o teu nome nos ouvidos das pessoas?
Passos de bebé, não é? Houve muitas atividades pequenas no início. Tenho pouca paciência para artistas que se tornam amargos e invejosos, que pensam que de alguma maneira consegui chegar onde cheguei através de sorte ou nepotismo, ou que me foi ‘dado’ tudo o que tenho agora. Quando era mais novo, fiz as coisas acontecerem para mim. Trabalhei muito e continuei a trabalhar muito durante anos. Nunca se consegue obter sucesso facilmente, mas ele sabe muito melhor e torna-se mais merecido se o atingirmos desta forma.
Que concelho darias a jovens artistas?
Trabalha o dobro, preocupa-te pela metade!