As virtudes de se crescer em comunidade
Nascemos, crescemos e evoluímos no seio de comunidades. Na raiz, temos sempre aquela onde se estabiliza a nossa família, consanguínea ou não, mesclada com amigos, ou não. Vamos crescendo e privando com aquilo que o mundo tem para oferecer. Pelo meio, todo o traço cultural que acompanhou diferentes gerações permanece bem vivo como motivo de honra e de admiração pelo que foi feito e pelo que há a ser composto. No entanto, importa não esquecer que há tantas e tantas linhas nas quais se coze uma comunidade. É por isso que a diferença é uma benção no caminho que nos desperta para a diversidade e para o enriquecimento do planeta no sentido criativo e social.
O nosso rumo é ascendente. Conhecemos sempre mais do que na semana anterior e menos do que a semana ainda por vir. Vamos entrosando-nos mais com aquilo que é a realidade e a atualidade, por muito que sejamos nostálgicos. Aliás, fortalecem-se alguns laços com o que já se faz em tempos de desencanto pelo que se faz. Isto em certos casos nos quais a comunidade se perspetiva em vias de renovação e de inovação, mas que se prende pelas restrições já idas. A comunidade evolui em conformidade com aquilo que as pessoas são e que, unidas, querem ser. É bonita, esta ligação mútua e comunitária entre os seus elementos, mostrando o quão belo pode ser o esforço criativo e recreativo da humanidade. Na benevolência da comunidade, assiste-se à maravilha dos miúdos e graúdos a crescerem em conjunto. Uns, na sua natural progressão anatómica e mental, outros, na sua redescoberta e na deteção de novos desafios e de novas oportunidades nas quais lançar os dados do seu potencial.
O ser humano desde sempre se viu em comunidades. A entreajuda foi sempre um valor primordial para que as práticas fossem pensadas, descortinadas e usadas. Desde os usos e meios mais primitivos até aos mais complexos e até algorítmicos, a comunidade esteve sempre lá. Um ponto de convergência são os idiomas inventados e estruturados para um uso regular e intensivo, que permite essa aproximação dos membros de uma comunidade entre si. Consoante vivemos, vamos conhecendo mais e inserindo-nos em mais comunidades e, por sua vez, conhecendo novos dialetos e novas formas de expressão. Tanto no trabalho como no prazer, tanto na partilha de esforços como na de emoções e de experiências. Tudo isto reflete as qualidades e virtudes que uma comunidade possui quando os seus constituintes se revelam e se exprimem em conjunto, formando identidades consistentes e que cumprem com aquilo que cada um pretendia. Retirar o melhor de cada um começa desde cedo e não descarta uma educação sólida e esforçada, onde o bem prevalece sobre o mal. Pode parecer superheróico, mas não é por acaso que crescemos com filmes de animação ou demais livros nos quais o bem da comunidade é o valor a ser estabilizado e assegurado. Não nos vemos sem elas naquilo que é o nosso amadurecimento e a nossa estruturação mental e emocional. O outro deixou de ser o tal estranho alheio ao que somos e tornou-se parte integrante daquilo que vamos sendo.
A diversidade nem sempre foi vista com total unanimidade. O mesmo se prende com as comunidades e com a sua variedade. O fundamento da formação e formulação de algumas desperta desconfianças desnecessárias, estas que se baseiam em juízos de valor. Claro que muito varia daquilo que é a estrutura ética e a valorística de cada um, levando alguns a recriminar e a lamentar o teor e as tendências de determinada comunidade. São questões delicadas, assim como tudo aquilo que ameaça e que perturba a aparente transparência moral. No entanto, aquelas nas quais se sustenta a criação, educação e construção de uma identidade e de um ser humano são muitas vezes olhadas pela intolerância umbiguista. Ou porque a religião é estranha, ou porque se vestem de forma incomum, ou porque a língua é impercetível, ou porque possuem mau aspeto, ou porque as pernas não cabem nas calças. São todos os argumentos e mais alguns que emergem nesta avaliação. Toda e qualquer comunidade tem o direito de existir e de se congregar em prol do bem comum e individual, seja composto por um grupo restrito ou numeroso de pessoas e tendo crenças ou ideais mais ou menos discrepantes daqueles que a comunidade que o observa tem.
No fundo, a comunidade é parte de nós, assim como nós somos parte da comunidade. É uma premissa mútua e que se cumpre consoante cada um se dá a conhecer e se valoriza em conjunto com os demais. Tanto seja num compromisso profissional, como numa consagração artística, como num vínculo emocional, essa união é fundamental para que o sucesso e a realização pessoal sejam parte da realidade. A comunidade proporciona-nos as condições para tudo isso, mostrando cada vez mais que, sozinhos, pouco mais conseguimos realizar e concretizar. Aliás, nem dá gosto andarmos tanto e irmos tão longe desacompanhados. Se temos uma comunidade que nos oferece tanto e que nos possibilita tanto, desde inspiração até ao processo de criação, que tal aproveitar? Que tal usufruir deste potencial virtuoso e glorioso? Sonharmos juntos, cantarmos juntos, lermos juntos, refletirmos juntos, conversarmos (ainda mais) juntos, sentirmos juntos aquilo que é nosso no expoente da partilha e da simetria comunitária. Às comunidades que existem, somam-se as que nascem hoje, amanhã, depois e assim sucessivamente…