Axl Rose supera expectativas e alegra fãs de AC/DC
A já histórica banda australiana AC/DC começou ontem a tour europeia no Passeio Marítimo de Algés, em Lisboa, e nós estivemos lá para ver. Entre vários precalços quanto ao alinhamento da banda (o problema de audição de Brian Johnson, os problemas de saúde de Malcolm Young e a detenção do baterista Phil Rudd), os AC/DC anunciaram a «contratação» do vocalista de Guns n’ Roses Axl Rose para substiruir Johnson. Stevie Young e Chris Slade substiruiram Malcolm e Phil neste concerto, respetivamente.
Após várias horas de espera para poder ser apreciada a música das duas bandas que tocaram, Tyler Bryant and the Shakedown subiram ao palco que escondia ainda as letras da banda que os seguiria para apresentar o seu rock moderno inspirado no Glam Rock dos anos 70 e 80 e no Rock n’ Roll clássico de Tennessee, de onde a banda é natural. Nem a chuva, nem o vento nem o frio levaram o público português a mostar menos apreciação por uma banda ainda em ascensão que com certeza dará que falar, e mesmo sendo virtualmente desconhecidos, o público dançou, gritou e acarinhou a banda que os separava dos dinossauros AC/DC. A chuva, como que a mando de Deus, amainou e parou completamente apenas minutos antes da entrada da banda americana em palco. Tinham sido concedidas as benções para se poder cantar o Rock. Após um breve mas enérgico concerto, todo o público voltou a uma fase expectante, para poder julgar a chegada da nova formação da banda australiana, e comprovar ou desmentir os medos que foram sentidos quanto ao espaço de Axl Rose na banda.
A chegada do outrora pesado, desleixado e desconcentrado Axl Rose à banda favorita de tanta gente causou furor na internet, e as redes sociais explodiram com textos de fãs zangados e pedidos de reembolso dos bilhetes (que acabaram por ser aceites), pois aos olhos dos fãs da banda australiana, Axl Rose não tinha o que era necessário para encher os sapatos de Brian Johnson (lembramo-nos de um comentário que dizia algo do género: «Os AC/DC substituiram um vocalista que não consegue ouvir por um que não consegue cantar»). E em parte foi verdade. Axl Rose não conseguiu – isto porque não tentou sequer – preencher o espaço de Brian Johnson. Axl encontrou o seu próprio espaço e a sua maneira de encaixar na banda, nunca imitando ou tentando ser parecido com Johnson, o que caíu bem aos fãs da banda, que viram que Axl tem algo de diferente para oferecer a uma banda que parecia ter encontrado a única fórmula de sucesso possível. Axl entrou ainda preso a um trono (diferente daquele dos concertos de Coachella) e sentado fez o que muitos não conseguem em pleno das suas capacidades físicas.
O concerto de AC/DC fez-se no seu grosso com os clássicos da banda. Músicas como ‘Highway to Hell‘, ‘Thunderstruck‘ ou ‘Back in Black‘ foram cruzadas com algumas menos famosas como ‘Riff Raff‘ ou ‘Whole Lotta Rosie‘, temas que a banda não tocava ao vivo há anos, às vezes talvez décadas. O que um Axl Rose preso a uma cadeira pecava em termos de energia em cima do palco, o sempre fantástico Angus Young recompensava com a energia de um jovem músico de 20 anos possuído por um pequeno demónio, ainda a dar tudo por tudo a cada novo concerto. Não tendo nada a provar neste momento, Angus não deixou que isso o parasse de se entregar de corpo e alma ao público português (e nós agradecemos). Através de iconografias em vários vídeos que passaram nos ecrãs gigantes, uma ‘Rosie‘ insuflável de no mínimo uma dezena de metros, ou adereços como um gigante sino ou canhões no palco, todo este concerto foi um revisitar ao reportório já dantesco dos AC/DC, que encantaram como há já algum tempo não o faziam.
Tendo sido este um concerto com a alma de Angus Young, o público chegou a pedir mais de Axl Rose, a puxar pelo vocalista, que corretamente fez questão de através de uma pequena ação mostrar que ele não é a banda e que não era nele que se tinham de focar. O vocalista pôs todas as 55 000 pessoas a gritar o nome de Angus enquanto este nos pedia para gritarmos cada vez mais alto. Esta foi a melhor versão de Axl Rose de que há memória a partir de 1995 aquando do acabar da formação original de Guns n’ Roses. Humilde, simpático, conversador, e acima de tudo com uma voz como já há várias décadas não se ouvia, a sua adição aos quadros foi a melhor decisão que a banda australiana podia ter tomado. A química em palco foi muito forte (Axl parecia pertencer há anos) e não roubando nunca os holofotes aos restantes membros da banda, Axl ia reunindo consenso no público como uma escolha acertada. Ouvimos comentários de todos os tipos e graus de aceitação, desde «ele até se safa» a «está a cantar melhor do que o Brian». De facto as saudades não foram muito sentidas e o público saiu de Algés rendido. Os únicos comentários que não ouvimos foram os negativos (esses parecem ter ficado pelas redes sociais). E sejamos sinceros – com um Axl deste calibre, quem não quereria ver Angus Young a fazer a sua famosa dança em frente a ele?
Fotografia do artigo: Público