‘Balada de um Batráquio’: a curta-metragem anti preconceito
Em exibição nas salas portuguesas em conjunto com a nova longa-metragem de Richard Linklater está a curta-metragem sensação do Festival de Berlim, e do cinema português. Balada de um Batráquio conquistou o Urso de Ouro em terras germânicas da mesma forma com que nos irrompe pelo ecrã, e pelas lojas: sem pedir autorização. E ainda bem.
Fresca e descomplexada, Balada de um Batráquio mistura elementos autobiográficos de filmes caseiros da infância da realizadora a uma história, fábula, tudo para nos dar um contexto para o que a seguir se passará no ecrã.
Em jeito quase punk, “parvo” (como se referiu Leonor à sua curta quando ganhou o prémio no Berlinale) e desenvolto, a curta de Leonor, sendo ela meio-cigana, “quebra” o silêncio. Energicamente, Leonor vai (-se gravando) partindo aqueles horríveis e ultrapassados sapos de loiça que se encontram (ou encontravam?) à entrada das lojas e restantes estabelecimentos comerciais com o objetivo de afastar ciganos de entrar nesses espaços. Mito antigo só seguido pelos antigos neste uso ultrapassado, mas ainda assim não esquecido.
Balada de um Batráquio não quer contar uma história, quer partir a loiça (literalmente e figurativamente). Um filme em forma de intervenção, um soco no estômago da xenofobia. Leonor Teles parte os pobres batráquios em mil pedaços com a mesma saudosa leveza e destreza com que o faz ao preconceito.
É de salientar a vitalidade da curta, e o espaço que as mesmas podem (e devem) ter no circuito mais comercial de cinema sem nos fazer esperar por um meio não convencional de visionamento ou pela saudosa RTP2, que, qual salvadora, nos vai permitindo ver conteúdos de qualidade na televisão nacional. Faça o obséquio de entrar também por “esta loja” que é o meio “comercial”. Pode fazer estrago à vontade, nós agradecemos. Há muitos “batráquios” por aí a impedir que conteúdo de qualidade nos chegue à vista.