Bons Sons, Boom, Iminente, N2, MIL, MEO Kalorama e Rock in Rio com bilhete de acompanhante gratuito. Quais serão os próximos?
O assistente pessoal ou acompanhante de uma pessoa com deficiência não pagar bilhete num espectáculo continua a ser um problema em Portugal, mas cada vez menos. Vimos isso nos festivais de 2022 com o Bons Sons, Boom, Iminente, N2, MIL, MEO Kalorama e Rock in Rio. Todos incluíram a entrada gratuita de acompanhante na compra do bilhete da pessoa com deficiência.
Quando criámos a Access Lab, no Verão de 2021, era uma realidade apenas do Bons Sons e Boom. Um dos nossos propósitos, enquanto startup de impacto social, é dedicar horas semanais ao advocacy e estímulo do diálogo entre os players de mercado, independentemente de colaborarem ou não formalmente connosco. O sector pode hoje orgulhar-se de ter 7 festivais a incluir a pessoa com deficiência sem discriminá-la economicamente. A grande questão é: quais serão os próximos?
Sabemos que muitíssimo continua por fazer. Sentimo-lo na pele, em contacto com a comunidade. 2022 teve grandes conquistas mas teve igualmente casos flagrantes de discriminação: festivais sem estacionamento; a maior parte sem bilhete de acompanhante gratuito; demasiados a esquecerem-se de casas de banho dignas e plataformas elevadas.
As plataformas, que são um lugar contemplado no decreto-lei 163/2006, e devia ser licenciado pelas autarquias, continuam a ser, maioritariamente, um espaço que despreza a dignidade humana. O mercado continua a sobrelotá-las porque não cria uma tipologia de bilhete dedicada, como seria lógico, e como é feito em salas de espectáculos. Devido à sua sobrelotação, continuam a separar-se as pessoas dos acompanhantes, deixando-as isoladas em experiências desenhadas para estimular a união do público.
Apesar destes problemas, celebramos o sucesso e continuamos a apoiar quem trabalha para mudar o panorama. Uma medida que gostávamos de ver implementada, já no próximo Orçamento de Estado, seria a isenção de IVA para os bilhetes de pessoas com deficiência e dos seus acompanhantes.
Dentro ainda da nossa actividade de advocacy, institucionalmente, aguardamos a publicação do programa “Festivais Acessíveis”, do Turismo de Portugal, do qual fizemos uma revisão informal, e que acreditamos poder vir a ser um agente transformador.
Mas o nosso trabalho não se resumiu a advocacy, tal como escrevemos numa das primeiras newsletters, um dos grandes desafios seria deixarmos de encarar a inclusão como uma obrigação.
Desde então, com o apoio do +Plus, da Casa do Impacto, da Santa Casa, estamos a implementar pilotos de acessibilidade 360º com a Altice Arena e os festivais Iminente, Política e MIL. Realizámos ainda consultoria para a Fundação Galp, na activação de marca feita no Rock in Rio, e estamos com projectos em curso na MEO Blueticket e Câmara Municipal de Lisboa (Biblioteca de Alcântara e Quinta Alegre). Todos estão a mudar a sua política de trabalho, considerando as pessoas como indivíduos, muito além da sua deficiência.
Estamos todos atentos. As marcas estão cada vez mais disponíveis para se alinharem com valores de progresso, inclusão e futuro. Já vimos isso acontecer em 2022. Além de patrocinadores, também promotores, agentes e artistas estão sensíveis. A própria comunidade está mais outspoken, exigente e construtiva.
A história escreve-se diariamente. Vamos escrevê-la em conjunto.
Artigo escrito por Tiago Fortuna e Jwana Godinho.
Tiago Fortuna co-fundou a Access Lab em 2022 para garantir o acesso de pessoas com deficiência e Surdas à cultura enquanto direito humano fundamental. A start-up de impacto trabalha planos 360º, que cobrem capacitação, consultoria, mediação e estudos de impacto. Antes, foi assessor de imprensa na LiveCom, fez parte da equipa do Talkfest e fundou a Associação Portuguesa de Festivais de Música. Licenciou-se em Ciências da Comunicação pela FCSH-UNL, onde também se pós graduou em Comunicação de Cultura e Indústrias Criativas.
Jwana Godinho tem 20 anos de experiência no ramo do entretenimento. Primeiro a trabalhar em editoras discográficas entre Lisboa e Londres. Depois, durante 10 anos foi head of booking na Música no Coração, contratanto os artistas para alguns dos principais festivais em Portugal. Desde 2017 dedicou-se ao impacto social, trazendo para Portugal o Social Good Summit, das Nações Unidas, e fundando a non-profit It’s About Impact. Em 2022 co-fundou a Access Lab.