‘Born Backwards’, de Sequin: o furacão tornou-se brisa
Born Backwards de Sequin foi editado no dia 4 de Maio e oferece-nos 11 novas canções. Depois do álbum de estreia em 2014, Penelope, e do EP Eden em 2016, temos o segundo álbum, produzido por Xinobi (Bruno Cardoso). Born Backwards é de difícil classificação, apresentando um registo eminentemente eletrónico; contudo, facilmente se identifica o formato pop ao longo das faixas que o compõem. O título não poderia ser mais literal, pois Ana Miró nasceu mesmo ao contrário, como explicou em entrevista à Comunidade Cultura e Arte.
Este segundo álbum é sem dúvida uma reinvenção quando comparado com Penelope; um novo nascimento. Continuamos a ouvir e a identificar a voz de Ana, contudo agora mais calma. A energia continua presente, mas já há menos a provar. São músicas que não precisam de exortar à folia, que não são por si alegres e que mostram uma faceta e energia de Ana que o primeiro álbum não conseguia. E que energia é esta? É um trabalho para dançar do início ao fim.
“Loveless” dá início ao trabalho e prenuncia uma viagem por ambiências e batidas eletrizantes. O primeiro single deste segundo trabalho, “Queen”, já nos tinha contagiado com o seu videoclipe lírico simples e despretensioso. Em “Make Believe”, a energia contagia-nos e as letras abrem-se para o ouvinte; nesta faixa a pop e a eletrónica casam de modo exemplar, com letras que realmente nos fazem acreditar que o amor é de faz de conta. Torna-se impossível não pensar no animado verão que se avizinha e que certamente contará com esta música. Ficar indiferente a “Borderline” também se revela difícil, em que uma ambiência etérea e as oscilações de humor da cantora ao longo dos três minutos e trinta e cinco segundos fazem jus ao título da faixa.
“Answer Me” pode ser considerada uma das baladas do álbum, exemplarmente produzida com uma batida que embala sem adormecer e com mais camadas do que aquelas que são possíveis contar. É de ressalvar o quão liricamente pessoal este trabalho se afigura. Em “Sam”, onde as saudades de Ana são cantadas, o ambiente criado pela adição múltipla dos vários samples envolve-nos. Torna-se difícil saber ao que prestar mais atenção, se à voz, à batida ou à guitarra. Sugiro que se deixem levar e voltem a ouvir. Em “Milvus”, Sequin confessa-se e afirma-se, o caminho é apenas seu e o destino ainda está por cumprir, tão alto quanto seja possível.
A batida torna-se então mais forte em “Honey Bun”, que é liricamente mais despida. É impossível não imaginar a eletricidade na pista de dança, nos futuros concertos ao vivo. “Hentai” dá o álbum por finalizado, num registo mais despido e limpo onde a voz sonhadora de Ana se despede num epílogo que não podia ter sido melhor escolhido.
Born Backwards é sumariado na beleza com que as músicas nos são apresentadas, não existem faixas despidas de sentimento ou que não estejam eximiamente misturadas; o ambiente que cada uma das músicas invoca é esteticamente belo. É contudo necessário ressalvar que provavelmente não se entranha à primeira audição, pois não é um trabalho que vá direto ao assunto, talvez porque não exista apenas um assunto quando falamos de Sequin. O que outrora era um furacão tornou-se brisa, e tal não poderia ter sido feito de modo mais exímio.