Caso Marega. Este jogo que nos embaraça
Infelizmente, uma não-surpresa. O discurso racista está mais do que impregnado no meio futebolístico. É normal desconfiar (e rir nessa desconfiança) da idade de jovens africanos, descrevê-los pela sua capacidade física e diminuir a capacidade criativa ou cognitiva. Os jogadores negros são entendidos como meros poços de força física. A discriminação está banalizada no futebol. Dos brasileiros, diz-se que são brincas na areia, pouco dados ao trabalho, os balcânicos agressivos e pouco leais. É aceitável girar em torno do estereótipo.
Ouvi o relato do jogo e fiquei embaraçado. Jornalistas e comentadores — aos quais se seguiram responsáveis desportivos — a relativizar o que aconteceu. A pôr isto como um amuo, como uma coisa que não pode sobrepor-se ao jogo (mas não é óbvio que isto é maior do que o jogo?), ou como uma moda (!) — “Já vimos isto a acontecer noutros campos pela Europa e agora chega a Portugal”. O racismo não pode ser encarado como uma resposta ou reação. As pessoas não se tornam racistas porque alguém as provoca. As pessoas são racistas porque alimentam uma crença de desigualdade de qualidades. O racista não é vítima, é o criminoso.
Mas há que refletir também na nossa complacência. Quantos de nós não ouvimos e deixámos passar balelas racistas no café ou no estádio? O que se passou hoje deve ser entendido como um exemplo. Ao invés de tentar demover o Marega, espero que da próxima vez os jogadores se unam no abandono do jogo. Esta recusa em ser abusado e aceitar a treta do argumento dos ouvidos moucos por superioridade é uma posição gigante de um jogador especial. Obrigado, Marega, por nos pores no espelho. Ouvir-se-ão os negacionistas do Portugal racista e os pregadores do histerismo antirracista. Certo é que, para já, o silêncio já se quebra. Força, Moussa!