Centenário de Vergílio Ferreira

por Joana de Sousa,    28 Janeiro, 2017
Centenário de Vergílio Ferreira
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O ano de 2016 assinalou o centenário do nascimento de Vergílio Ferreira, considerado um dos mais célebres escritores e pensadores da literatura portuguesa do século XX.

Vergílio António Ferreira nasceu em Gouveia a 28 de Janeiro de 1916. Decorria o ano de 1927, e tinha então o pequeno Vergílio 11 anos, quando os seus pais emigraram para o Canadá, ficando Vergílio em Gouveia com os seus irmãos. A separação da vivência conjunta com seus pais em tenra idade é retratada no seu livro «Nítido Nulo», sendo que o autor se inspirava frequentemente na sua vida para criar as suas obras. Aos 12 anos entra no seminário do Fundão, onde permanece durante seis anos e esta vivência será o tema central de «Manhã Submersa». Nas obras de Vergílio Ferreira a neve é também um elemento bastante presente, marcando a sua infância vivida na zona Serra da Estrela, esta pautada pelo branco a vestir toda a paisagem.

No ano de 1936, Vergílio abandona o seminário e conclui os estudos no Liceu da Guarda. Ingressa então na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra onde virá a licenciar-se em Filologia Clássica, no ano de 1940. Durante a época em que estudava na Universidade de Coimbra, Vergílio dedica-se à poesia, embora esta nunca seja publicada. As suas vivências em Coimbra serão mais tarde também retratadas em «Aparição», sendo o personagem principal do livro natural da região de Coimbra. No ano de 1939 escreve o seu primeiro romance, de seu nome «O Caminho Fica Longe». Depois de concluir o seu estágio em Coimbra, segue para Bragança onde começa a leccionar no liceu. Aí escreve e publica no ano de 1944 «Onde Tudo Foi Morrendo» e dois anos mais tarde publica «Vagão J». Em 1946 casa-se com Regina Kasprzykowsky, uma professora polaca que se encontrava em Portugal refugiada devido à guerra. Vergílio lecciona ainda no Liceu de Gouveia que virá a ser a sua inspiração sublime para «Manhã Submersa», lançado em meados dos anos 50. Mais tarde ingressa como docente no Liceu de Camões, onde lecciona até ao fim da sua carreira.

Na sua obra, Vergílio Ferreira debruçar-se-ia também no Existencialismo, corrente de pensamento filosófica, pensada por nomes por Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Martin Heidegger, Soren Kierkegaard e Karl Jaspers. O autor procura então o sentido da existência humana, da essência que somos empiricamente e que se nos revela em aparição com a vivência. Vergílio explora a existência como um algo que somos desde que nascemos e que nunca deixamos de ser, nem mesmo depois da morte pois permanecemos existência naqueles que connosco conviveram e privaram. Questiona-se, contudo, acerca do mistério da nossa essência metafísica como seres e a aparição desta através do empirismo da nossa vivência, dando uma vertente mais filosófica à sua escrita e estabelecendo a sua obra como uma das mais importantes a nível da Filosofia em Portugal no século XX.

No ano de 1992 viria a ser distinguido com o Prémio Camões. Vergílio Ferreira retrata nas suas obras «Aparição» e «Manhã Submersa» a sua condição de docente, sendo que o autor desdobra a sua obra num retrato da sua vida passada e numa busca pela revelação da existência humana, tornando-o num dos maiores pensados do século XX em Portugal, nomeadamente a nível da corrente filosófica do Existencialismo, tão perfeitamente explorada na sua obra.

Vergílio Ferreira faleceu a 1 de Março de 1996, em Lisboa.

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