“Collective”, de Alexander Nanau: um grande filme sobre o papel crucial do jornalismo na sociedade
No passado dia 8 de maio, deu-se por terminada mais uma edição do Festival Política, evento nacional que procura promover uma maior consciência política, particularmente nas gerações mais novas. A edição de 2021, que decorreu em Lisboa e Braga ao longo de abril e maio, teve como tema “Fronteiras”. Foi precisamente além-fronteiras que a organização do festival se direcionou para exibir o filme romeno “Collective” (2019), um dos documentários mais premiados dos últimos meses.
“Collective” tem sido laureado um pouco por todo o globo. Deste lado do Oceano Atlântico, o filme foi eleito Melhor Documentário na mais recente edição dos European Film Awards. Já no continente americano, tornou-se o raro exemplo de um filme nomeado simultaneamente para os Óscares de Melhor Documentário e Melhor Filme Internacional.
Realizado por Alexander Nanau, “Collective” é um filme jornalístico – mais concretamente, de jornalismo de investigação. O ano é 2015 e em Bucareste um incêndio na discoteca Colectiv causa a morte imediata de 27 pessoas. Nanau mostra-nos parte das gravações das câmaras de segurança da discoteca – talvez o momento mais arrepiante de cinema em recente memória.
Os feridos são prontamente hospitalizados na única Unidade de Queimados da cidade, mas muitos falecem nos meses seguintes, elevando o número de vítimas mortais para 64. Catalin Tolontan, chefe de redação de um jornal desportivo (o equivalente romeno ao “Record” ou “A Bola”), estranha: como é que tantos feridos ligeiros, que escaparam com vida ao incêndio, acabam por morrer tantos meses depois no melhor hospital para queimados do país?
Após seis meses de investigação, Tolontan e a sua equipa descobrem que o principal fornecedor de desinfetantes dos hospitais nacionais, Hexi Pharma, diluía deliberadamente a concentração dos seus produtos de forma a poupar nos custos. O resultado é letal: desinfetantes que não desinfetam. Desinfetantes que não matam bactérias, matam pacientes.
O que se segue é um filme sobre a busca pela verdade. Um filme que tem como ponto de partida o incêndio numa discoteca, e como ponto final um escândalo nacional que se estende desde o serviço nacional de saúde até à mafia romena. Nanau consagra-nos um acesso tão próximo aos jornalistas, aos ministros e às fontes da investigação que a sensação é a de que nos encontramos no local do crime. Rodeados pelos horrores até então encobertos.
Apreciadores de filmes como “All the President’s Men” (Alan J. Pakula, 1976) ou “Spotlight” (Tom McCarthy, 2015) por certo vibrarão com o decorrer da investigação conduzida por Tolontan e companhia. Que o país onde a ação decorre seja a Roménia é de particular interesse, dado o papel da imprensa na história do país. Até 1989, ano em que o ditador Nicolae Ceausescu foi deposto e condenado à morte, a imprensa era controlada em absoluto pelo regime. As últimas três décadas viram assim um boom na indústria jornalística. Nunca a imprensa foi tão importante para a Roménia e “Collective” é prova disso mesmo.
“Collective” estreia nos cinemas portugueses a 24 de junho de 2021.