Confúcio, o homem do bom ser e do bom saber
Por volta do último milénio antes de Cristo, surgiam os primeiros sinais de existir cada vez mais pensadores que questionavam o mundo. Entre estes, encontra-se Confúcio, filósofo chinês que viveu entre 551 a.C. e 479 a.C. Considerando-se a 27 de agosto o seu aniversário, importa ressalvar que, para além de inspirar os futuros impérios chineses, este pensador teve vários discípulos que permitiram a intemporalidade dos valores do Confucionismo. Entre outros, eram os valores mais nobres e viscerais os mais apregoados e incitados, pondo a tónica em questões como a família, os idosos e as crianças.
Importa, desde já, contextualizar os tempos em que Confúcio viveu, designado por “Período das Primaveras e dos Outonos” (722 a.C. – 481 a.C.). Com o nome a derivar de uma putativa crónica do filósofo apresentado aqui, serviu para restringir uma era em que houve uma evidente descentralização do poder e em que os níveis de alfabetização aumentaram. Com isto, as pessoas tomaram maior consciência daquilo que eram e do que lhes era subjacente e desenvolveram o pensamento autónomo e a sua liberdade.
Nascendo e sendo criado numa família pouco abastada e tomando consciência do caráter ruralista em que estava impregnada a sua região, Confúcio absorveu ideias mais puras e pouco filtradas do que o rodeava. Após casar aos dezanove anos e ter um filho, o chinês decidiu viajar pelos vários reinos circundantes para contactar com o povo e para sugerir uma reformulação do governar, atentando às necessidades e ao bem-estar dos membros de cada um. Corpulento e alto, dispunha de uma barba que inspirava sabedoria e tinha uma conduta irrepreensível e admirada pelos seus compatriotas.
As suas ideias vincam a componente da moral, apelando ao “saber ser” e “saber estar” nas relações sociais de forma a estabelecer as mais adequadas e frutíferas, e à justiça e à sinceridade no quotidiano. Estes valores acabariam futuramente empregues no “legalismo” que orientou a política deste país asiático e que deu o mote às instituições jurídicas no seu continente. Com um pendor tradicionalista e arreigado às crenças dos seus ascendentes, o filósofo incita a valorização dos ancestrais, que consiste na ideia de que um falecido pode influir na vida de um vivo como uma espécie de santo da religião católica; aplana o terreno onde os pilares da família assentariam e estimula a criação de uma sociedade instruída e que fosse capaz de viver uma vida descomplexada e refreada. Dentro da escola confucionista, pontificam estes sete princípios: Ren (altruísmo ou humanidade), Li (cortesia ritual), Zhi (sabedoria moral), Xin (integridade), Zhing (fidelidade) e Yi (justiça ou idoneidade). Este filósofo procurava, assim, criar um código de conduta moral que se estendesse a todos os elementos da sociedade e não refletindo tanto na vertente metafísica nas suas cogitações.
Para além disto, o pensador expunha uma parte significativa das suas perspectivas em espécies de aforismos que ficaram célebres pela denominação “Analectos de Confúcio”. Aqui ficam alguns dos mais famigerados:
- “Não faças aos outros o que não queres que façam a ti.” (remetendo ao conceito da Ética da Reciprocidade);
- “Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assi, evitarás muitos aborrecimentos.”;
- “O homem de bem exige tudo de si próprio; o homem medíocre espera tudo dos outros.”;
- “A nossa maior glória não reside no facto de nunca cairmos mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cair.”;
- “Pensar sem aprender torna-nos caprichosos e aprender sem pensar é um desastre.”;
- “A humildade é a única base sólida de todas as virtudes.”
- “O silêncio é um amigo que nunca trai.”
- “De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos.
Estudante até ao seu último suspiro, Confúcio deixou um legado que foi compilado e explorado pelos seus discípulos e seus descendentes. Com uma teoria filosófica louvável e de grande nobreza, o filósofo asiático abriu a “caixa de Pandora” da ética social tanto em contextos onde predominava a humildade dos campesinos como nos reinos que proliferavam pela China, país de origem deste pensador. Apelando à moralidade, à família, ao culto dos ancestrais e a uma ideologia política onde os valores da equidade surgem em nota de destaque, foi em diversos campos que este chinês deu o seu contributo de forma mais ou menos direta. Com 25% da população do seu país atualmente a declarar-se confucionista, é notória a influência que perdura nos nossos dias e no esforço que encetou para que a humanidade progredisse. Tudo começando na mais remota aldeia do interior chinês para os seus discípulos e, consecutivamente, para o mundo. Todos os homens que, de certa forma, contribuíram para a evolução da sociedade como um todo e do espírito crítico de cada um dos seus constituintes merecem uma vénia. Confúcio, um eterno estudante na busca das ideias mais adequadas para a sua felicidade e a dos seus, é um deles. Este é o homem do bom ser e do bom saber. Este é Confúcio.