Duas novas exposições da pintora Paula Rego são inauguradas em Portugal

por Comunidade Cultura e Arte,    1 Novembro, 2022
Duas novas exposições da pintora Paula Rego são inauguradas em Portugal
“Paula Rego, Histórias & Segredos” (2017), filme de Nick Willing

As novas exposições “Histórias de todos os dias. Paula Rego, anos 70” e “Paula Rego e Salette Tavares: cartografias da criatividade feminina nos anos 70” podem ser visitadas de 6 de novembro de 2022 a 21 de maio de 2023 na Casa das Histórias Paula Rego, numa iniciativa da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais no âmbito da programação do Bairro dos Museus. As mostras são inauguradas a 5 de novembro às 19h30, com a presença de Nick Willing, filho de Paula Rego.

Comissariada por Catarina Alfaro, curadora e coordenadora da programação e conservação da Casa das Histórias Paula Rego, a exposição “Histórias de todos os dias. Paula Rego, anos 70” reúne obras do período criativo da artista que se estende de 1969 até o final da década de 1970. Nesta fase, Paula Rego (1935 – 2022) produziu pinturas a partir do universo de contos de fadas e da tradição oral portuguesa, além de desenhos em que, numa linguagem visual onírica e fantástica, por vezes próxima do surrealismo, registou cenas do seu quotidiano e memórias infantis e familiares.

Paula Rego. “A Manuela à janela”, 1970. Da série “Histórias de todos de todos os dias”, nº 5. Tinta da China sobre papel. 24 x 30 cm. Coleção particular. Fotografia de Carlos Pombo

De entre as cerca de 115 obras em exposição, a que se soma documentação da época, o público poderá ver obras que integram as séries “Histórias de Todos os Dias”, que dá nome à exposição, “Os Amantes” e “Contos Tradicionais Portugueses”. A década de 1970, dentro do panorama da obra de Paula Rego, é caracterizada pelo experimentalismo formal e técnico, que estará na origem da construção do seu universo simbólico particular.

As obras expostas também evidenciam como Paula Rego atribuiu uma dimensão política a muitas das pinturas e desenhos que fez na época, observando-se que algumas incluem referências diretas à Revolução de Abril. Ainda que o período pós-revolucionário tivesse sido desafiante para a sua família, que enfrentava sérios problemas financeiros, a curadora da exposição salienta que “durante a década de 70 a sua obra foi apresentada com regularidade em exposições nacionais, individuais e coletivas, também no contexto de internacionalização dos artistas portugueses ou da representação de Portugal e foi destacada pela crítica de arte pela sua qualidade e originalidade”.

Paula Rego. “A corrida às urnas”, Outubro de 1969. Tinta da China sobre papel. 29,7 x 41,7 cm. Coleção particular. Fotografia de Carlos Pombo

A composição complexa das telas, que abrangem contextos narrativos muito diversificados, revela igualmente significativas mudanças técnicas introduzidas neste período. Catarina Alfaro observa que “a multiplicidade referencial presente nas obras da década de 70 é também consequência de um sentido de apropriação, que é estrutural na identidade artística de Paula Rego. É precisamente pela diversidade das fontes de inspiração, próximas do seu quotidiano e através das quais constrói um território figurativo único e pessoal, que Rego reclama a sua autonomia perante os movimentos artísticos do seu tempo, uma especificidade que a sua obra manteria até ao final da sua carreira”.

O desenvolvimento artístico de Paula Rego na década de 1970 refletiu os desafios de uma fase de renovação da arte portuguesa e a receção da crítica e do público à época confirmaram a sua obra como essencial na construção da contemporaneidade artística nacional. A exposição “Histórias de todos os dias. Paula Rego, anos 70”é acompanhada pela edição de um catálogo que integra um estudo das obras apresentadas e um ensaio sobre a “Receção crítica da obra de Paula Rego em Portugal nos Anos 1970”.

Paula Rego. 2Oh, meu pobre amor” [“Bernal-Francês”, em Romanceiro de Almeida Garrett]. Guache, lápis de cera e lápis de cor sobre papel. 58 x 50 cm. Coleção particular em depósito na Fundação D. Luís I / Casa das HistóriasPaula Rego. Inv. P297DEP

No ano em que se assinala o centenário do nascimento da escritora, poeta e artista Salette Tavares (1922 – 1994), coincidindo com o ano da morte de Paula Rego, a Casa das Histórias apresenta, também a partir de 6 de novembro, a exposição “Paula Rego e Salette Tavares: cartografias da criatividade feminina nos anos 70”. Com curadoria de Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira, a exposição propõe o cruzamento entre a obra de Paula Rego e a sua divulgação em Portugal na década de 1970, com a fundamental contribuição de Salette Tavares enquanto crítica de arte e curadora.

Paula Rego e Salette Tavares conheceram-se por volta de 1964. Além de amigas, como atestam as cartas que trocaram e as pinturas dedicadas e oferecidas por Rego a Tavares, também foram companheiras no mundo da arte e agentes na redefinição cultural e artística em Portugal ao longo dos anos de 1970. Salette Tavares desempenhou um papel muito importante na promoção da obra das artistas portuguesas naquela década e esta exposição, como observam as curadoras, “sublinha a sua relevante ação na aproximação do trabalho de Paula Rego junto do público português”.

Paula Rego. “A ponte (cão)”, 1972. Tinta acrílica, óleo e papel colado sobre tela. 38,3 x 46 cm.Col. Millennium BCP. Inv. 1096973AB. Fotografia de Pedro Aboim Borges

Uma das obras em exibição, “Dois lindos vestidos que a Salette deu à Paula, Fev. 1976”, é evidência da amizade e da cumplicidade entre a artista e a poetisa. No mesmo sentido, outra obra, “Armário, 1972”, traz a inscrição “Querida Salette aqui vai um armário cheio de coisas, com muitos parabéns da Paula”. 

A exposição é organizada no âmbito do projeto exploratório “Cartografias da criatividade feminina, 1974-1979”, financiado pelo Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa, que tem como objetivo “dar visibilidade à intervenção das mulheres portuguesas no campo das artes, da crítica da arte e da curadoria, revelando-se como agentes na redefinição cultural e artística do país após a revolução de 1974”, pontuam Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira. 

Assim, as obras reunidas em “Paula Rego e Salette Tavares: cartografias da criatividade feminina nos anos 70”, revelam ao público como nos anos 70 a pintura de Paula Rego correspondeu ao “entusiasmo por uma arte experimental que desafiasse as narrativas cristalizadas pela ditadura”, ao passo que os textos que Salette Tavares produziu na altura, destacando o trabalho de artistas mulheres e em especial de Paula Rego, e a sua ação como presidente da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte, contribuíram para a promoção de novas políticas artísticas e culturais após a democratização do país.

Paula Rego. “O narcisista”, 1973. Tinta acrílica, guache, grafite e papel colado sobre tela. 122 x 122 cm. Coleção particular. Fotografia de Carlos Pombo

Para as curadoras da exposição, Paula Rego e Salette Tavares “evidenciam o contributo da criatividade feminina, não só para a análise crítica do panorama artístico português pós-revolucionário, mas, sobretudo, para a revelação dos gestos e corpos, dos pontos de vista e das experiências das mulheres neste período”.

A exposição “Paula Rego e Salette Tavares: cartografias da criatividade feminina nos anos 70” guia o público pelos caminhos distintos, mas cruzados, de duas figuras incontornáveis da arte portuguesa, que contribuíram para a criação de um espaço de visibilidade das mulheres portuguesas dentro da narrativa daquele momento histórico de luta democrática.

Estará disponível um catálogo no site da Fundação D. Luís I e no site do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa.

Abertura ao público:
terça-feira a domingo | 10h00 – 18h00 (última entrada às 17h40)

Preços:

Público Geral: 5 euros
Residentes / Seniores a partir dos 65 anos / Estudantes: 2,5 euros
Crianças até aos 18 anos / Funcionários da Câmara Municipal de Cascais / FDL / Empresas e Associações Municipais / Membros do ICOM e da IACA com cartão válido / Guias turísticos credenciados: Gratuito
Escolas, Associações Sem Fins Lucrativos, Jornalistas em Exercício de Funções: Mediante comunicação prévia.

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