Eddie Vedder, um dos pais do grunge
Edward Louis Severson, normalmente conhecido como Eddie Vedder, é um dos pais do grunge e um dos rostos de eleição das gerações contemporâneas. Cada vinda deste a Portugal é celebrada com pompa e circunstância. Os cinquenta e três anos são caraterizados por uma vivacidade e por uma versatilidade musical que são o reflexo de um eterno jovem que se vem adaptando às necessidades dos ouvidos e da alma. É essa sintonia que faz o norte-americano ser um dos rostos das massas (feito) pelas massas.
Nascido num subúrbio do Illinois, pertencente aos Estados Unidos da América, o norte-americano teve o primeiro contacto com uma guitarra aos doze anos e descobriu as suas paixões numa ocasião em que vivia na Califórnia. Filho de pais separados bem cedo, encantou-se pelo surf e pela música, seguindo o protótipo habitual de um jovem residente na famigerada “West Coast”. Chegando a viver sozinho, desistiu da escola secundária por não conseguir conciliar os estudos com um trabalho noturno. Assim, voltou a acompanhar a sua família para o estado de Illinois mal pôde, esta que se moveu de San Diego para lá em virtude da separação do padrasto (tomado como pai até então para Eddie, descobrindo este então a identidade do verdadeiro) e da sua mãe. Nos anos 80, e nunca se desligando do mercado de trabalho, concluiu o ensino secundário e chegou a frequentar uma universidade em Chicago. Apesar disto, nunca abdicou da música, gravando frequentemente demos e atuando com bandas esporádicas em San Diego, cidade que nunca retirou do seu coração. Estes grupos musicais incidiam nos estilos funk rock e alternative rock, tendo uma delas (Indian Style) o futuro baterista dos Rage Against the Machine e dos Audioslave Brad Wilk.
A primeira banda de relevo que integrou foi a Temple of the Dog, grupo cuja música denotava fortemente o estilo emergente grunge, derivado do alternative rock. Vedder integrou-se nesta após sair de uma das suas pontuais bandas (neste caso a Bad Radio, onde foi vocalista). O nativo de Illionis juntou-se a partir de Jack Irons, então ex-baterista dos Red Hot Chili Peppers, que o notificou de que uma banda de Seattle, Washington, procurava um vocalista. Decorria o ano de 1990 e Eddie Vedder elaborou as suas tapes para apresentar aos restantes membros da banda. Estes, em conjunto com a performance feita na audição, maravilharam-se com o som único e intenso resultante das possantes e vividas cordas vocais do músico e aglomeram-no nesse grupo. Vedder chegou também a fazer duetos com Chris Cornell, futuro vocalista dos Soundgarden e dos Audioslave. Estava dado o mote numa carreira musical que iria prosperar de forma galopante com o seu próximo projeto, aquele pelo qual ganhou notoriedade internacional.
Em 1990, surgia a banda Pearl Jam, contando de início com Jeff Ament (baixista), Stone Gossard e Mike McCready (ambos guitarristas). Bastou um álbum, Ten (1991), para que atingisse a ribalta tanto em termos financeiros como em termos de reconhecimento. O prestígio granjeado ganhou corpo com Vs. (1993) e Vitalogy (1994) e rapidamente compreendeu o novo paradigma dos jovens, que necessitavam de letras irreverentes e pulsantes, para além de melodias intensas e vigorosas que correspondessem à emancipação em relação aos preconceitos e às inquietações. Enquanto isso, Vedder potenciou as oportunidades que a fama lhe abriu no que toca a colaborar para bandas sonoras de filmes, tais como Dead Man Walking (1995), A Brokedown Melody (2004) e em especial a de Into the Wild (2007). Nesta, o músico deu largas ao seu pendor de folk e expandiu o seu repertório a partir da liberdade concedida pelo realizador Sean Penn. Para além destas colaborações, também lançou um álbum a solo (Ukulele Songs, 2011) em que, utilizando um ukulele, efetuou covers e compôs canções originais. O recurso ao ukulele revela uma maior profundidade emocional, sendo esta e as composições mais trabalhadas e rendilhadas o reflexo da separação da sua namorada de longa data em 2000.
Com uma personalidade moldável e jovem, Eddie sempre se revelou um ativista, pugnando a favor dos direitos dos animais, da diversidade cultural e religiosa, do direito ao aborto, entre outros. O cantor nunca deixou de praticar surf e de lhe dedicar uma especial atenção. Como músico, chegou a ser comparado a Jim Morrison graças à atitude vivaz e interativa em palco e pela intensidade confessional que transmite na música produzida e nas suas letras. Para além disso, nunca se deu mal com uma multiplicidade de instrumentos (entre estes, a guitarra, o referido ukulele, a harmónica e até a bateria) e foi profundamente influenciado por nomes como Neil Young, The Ramones, The Beatles, Frank Zappa, etc.
Aproveitando a reiterada comparação a Jim Morrison, Eddie Vedder é, de facto, um dos ilustres representantes da elite da música. Após meio século de sucessos e de arrebatar corações e razões, o seu legado consolida-se cada vez que um jovem adolescente decide colocar uma música dos Pearl Jam. Tanto por intermédio dos seus familiares como dos seus amigos, acaba por ceder aos encantos da sua música que, de fácil interpretação semântica e de melodias capazes de traduzir os múltiplos estados de espírito, se torna num dos grandes confidentes deste. De coração transparente e como se dos anos 90 se tratasse, Vedder reage indiferente à passagem do tempo. As formas de ser e de estar, bem lá no fundo, não se alteram. No galgar das suas amadas ondas, o músico contempla a admiração que os jovens de outrora e de hoje lhe dedicam. É na profundidade do mar que desvendamos o íntimo da nossa alma. Ao som de Eddie Vedder e dos seus Pearl Jam, tudo se torna mais fácil.