EDP Vilar de Mouros: Placebo e Suede em excelente forma
O festival EDP Vilar de Mouros recebe-nos com os seus 50 anos de história, entre o rio Coura e a colina que lhe confere um cenário idílico. Pelos palcos do festival passaram já nomes como Zeca Afonso, Elton John, Amália Rodrigues, U2, Bob Dylan, The Cure, John Cale ou PJ Harvey. Nas últimas edições, o festival EDP Vilar de Mouros tem dedicado os seus cartazes a nomes míticos de gerações e a um público que aproveita o festival minhoto para matar as saudades, cantar de peito aberto canções que fazem parte da banda sonora que marcou a adolescência, o início da vida adulta, um ou outro coração partido ou um grande feito. Sem o frenesim a que nos habituámos noutros festivais, o festival EDP Vilar de Mouros tem um palco principal e um palco histórico, fora do recinto. Com 5 ou 6 bandas por noite, a ausência de sobreposições de concertos traz-nos uma calma valiosa e, no intervalo dos concertos, aproveitamos para ir ao WC (com filas gigantescas e a única nota negativa para a organização), apanhar uma cerveja ou comer uma tripa de ovos moles de Aveiro.
O primeiro dia do festival começou com os The Black Teddys, enquanto milhares de pessoas chegavam ao festival, e com os Battles.
Os Battles, o duo de rock experimental americano, sofreu com alguns problemas técnicos e com alguma desatenção do público, agravado pelo facto de serem uma banda que funciona bastante bem em espaços fechados e que se perde em espaços tão amplos com o de um festival. Num set curto, que não terá chegado a uma hora, com algumas interacções curiosas com o público enquanto John Stanier acertava a sua bateria, os Battles terminaram o concerto com o grandioso tema “Atlas”. É possível que o concerto não fique na memória de muitos dos festivaleiros, mas o “math rock” dos Battles é uma das vertentes do rock mais interessantes, com a adição de camadas sonoras que alargam o espectro sonoro limitado pelo rock “tradicional”.
Em seguida, Gary Numan foi o responsável por muita maquilhagem semi-gótica entre os festivaleiros. Com especial foco no último álbum Intruder, datado de 2019, Gary Numan fez-se acompanhar de muitas luzes vermelhas e uma pantomima requintada, com a energia que se inveja e voz por vezes inaudível – muito por culpa do vento que se fazia sentir e que nos roubava o som para o lado direito do palco.
A julgar pelas t-shirts que andavam pelo recinto, Placebo e Suede eram as bandas mais esperadas da noite.
Os Placebo têm uma longa história de amor com Portugal. A banda de Brian Molko e de Stefan Olsdal foi, entre 1997 e 2006, uma das bandas mais acarinhadas pelo público português, com salas esgotadas e corridas desenfreadas dos seus fãs para as primeiras filas dos seus concertos. Foi depois da saída do baterista Steve Hewitt que a coisa começou a descambar e os Placebo não conseguiram, a partir do disco Battle for the Sun (inclusive), captar a atenção dos jovens adultos que anos antes lhes juravam amor eterno. O percurso desde então até 2022 foi longo e penoso, com indefinição da sonoridade, de temática e de vida. O cenário mudou com Never Let me Go, o longa-duração lançado em Março e nos fez matar as saudades dos Placebo à moda antiga. Um disco consistente e interessante, um renascimento que mata saudades aos agora adultos de meia-idade e é capaz de captar novos adeptos. Dos 16 temas do alinhamento, 8 foram deste disco e, honestamente, não o lamentámos. É um disco que, fora um ou outro tema, funciona bastante bem ao vivo, com especial foco para “Surrounded by spiders” e “Chemtrails” (este tema tocado pela primeira vez ao vivo). De fora ficou o magistral álbum Without you I’m nothing de 1998, mas tivemos uma versão alargada de “Bionic” do álbum homónimo de estreia. Para terminar, a versão de “Running up that hill” de Kate Bush e que faz há muito parte dos seus alinhamentos. As saudades, que persistiam desde o incrível concerto no Coliseu dos Recreios em 2017, foram sanadas.
Já os Suede, que há três anos encerraram triunfantemente uma das noites do Vodafone Paredes de Coura, voltaram a repetir a fórmula. Não precisámos de uma fórmula mágica para ficar rendidos. Ao terceiro tema “Trash”, os Suede conquistaram irremediavelmente o público, que retribuiu com a devoção a uma das bandas ícones do britpop. Com temas como “She’s in fashion” e “Beautiful ones” entoados em uníssono, e com direito a encore com “New Generation”, os Suede voltaram a ser estrondosos. A única dúvida é se não o serão sempre.
O segundo dia do festival EDP Vilar de Mouros segue com Clawfinger, Black Rebel Motorcycle Club, Simple Minds e Tara Perdida.
Não nos foi possível captar fotografias dos Placebo.
Artigo com a colaboração de João Robalo