Eleições. Resumo ébrio
Rui Cruz é humorista, stand up comedian e um génio (palavras dele). Escreve coisas que vê e sente e tenta com isso cultivar o pedantismo intelectual que é tão bem visto na comunidade artística.
Bom, vamos por partes. Hoje é dia de eleições e se há coisa que o dia de eleições prova é que vivemos numa bolha. Um gajo olha para a sua timeline nas redes sociais e é só fotos de boletins e apelos ao voto, depois lá vem a estalada de realidade com os números da abstenção. Mas pronto, eu sou um daqueles que foi votar, apesar de não ter tirado uma foto o que, como toda a gente sabe, não invalida o voto, mas reduz a importância do mesmo.
Mas é verdade, fui votar e, pela primeira vez na minha vida, fui votar sem convicção. Aliás, fui votar às 11 da manhã e desde essa hora que estou a beber Guinness juntamente com meia dúzia de amigos que, tal como eu, foram votar. E isso quer dizer muito. Quer dizer que, para além de um problema de alcoolismo, temos também muito pouca confiança nos políticos que acabámos de eleger. E nem sequer estou a gozar ou a arranjar desculpas para estar ébrio a um domingo às 22 horas, até porque não preciso, as happy hours existem para isso, estou mesmo a falar a sério.
Se há coisa que esta eleição me deu a entender é que a política está completamente desacreditada. E a campanha eleitoral a que assistimos foi um exemplo perfeito disso mesmo. Não há ninguém, fora das jotas, boys ou lambe-cus partidários à procura de segurança profissional, que possa dizer que ficou convencido com qualquer candidato, mas ao mesmo tempo, também ninguém pode dizer que a campanha foi chata. Tivemos a Cristas quase a levar na boca de uma velha, tivemos o Costa quase a dar na boca a um velho, tivemos o Tino a ser atacado por gaivotas… Mais uma semana de campanha e ainda víamos o Jerónimo a abrir o sobrolho a alguém com uma matraca.
Mas nem tudo é mau nestas eleições. Entre esta Guinness que acabei de beber e a que pedi, disseram-me que a Cristas vai abandonar a liderança do CDS. Finalmente! Finalmente uma oportunidade para o Nuno Melo ficar com a direcção do partido. Agora sim, alguém que o pode levar ao sítio que merece: ao debate dos partidos sem assento parlamentar. Atenção, não estou a dizer que a Cristas fez um mau trabalho! Estou só a dizer que o Manuel Monteiro era mais carismático. E os pickles do Big Mac também.
Já segundo os ecos que me chegam da tasca onde estou, parece que o CHEGA pode eleger um deputado. Como cidadão, tenho de dizer que estou preocupado com isto, com um partido de extrema direita chegar ao parlamento. Já como benfiquista… fico contente. É da maneira que o Ventura deixa de nos representar e passa a representar essa massa execrável de sub-humanos apelidada de “portugueses”. Agora é chamarem o Pedro Guerra para ser curador da Feira de Enchidos do Fundão e o Caio Lucas para o grupo Forró de Corroios e estamos no caminho certo para o projecto Europeu.
E o BE? Porra… Quem haveria de dizer que um partido chefiado por uma atriz ia ganhar uma medalha de bronze numas eleições quando nem uma nomeação para os Globos de Ouro conseguiu? Atenção, não estou com isto a dizer que o BE é uma farsa e que o pessoal do partido representa um papel, estou só a dizer que ao pé das gémeas Mortágua a Sofia Alves não é ninguém. E o Louçã também.
Não vi ainda os resultados do PCP, mas a acreditar no que me dizem as minhas fontes e o empregado de mesa que acabou de trazer mais uma caneca, parece que continua tudo igual. A ser verdade, não me choca. O próprio partido continua o mesmo desde 1974.
Já o PS… bom, ganhou, como toda a gente esperava. O mais engraçado é ver que a maioria dos votos no partido vem de pessoal com menos estudos, o que só prova que Sócrates foi mesmo o melhor líder que o partido teve nos últimos anos. Era o que mais se aproximava do eleitorado. E o PSD? Pá… não sei. Não estou com paciência para esperar por resultados, mas ser a força de direita mais votada hoje é como ser o campeão nacional de boccia. Sabes que ganhaste, mas no final têm de te mudar a fralda na mesma.
E pronto, isto é o que tenho a dizer sobre as eleições neste momento. Na verdade não é, mas acabou de chegar o pica-pau e não confio nesta malta para o dividir irmamente. Resta apenas lamentar o estúpido desperdício de papel que houve neste processo. Votar? Sim. Gastar papel? Não. Já viram a quantidade de árvores que morreu para acabar como um papel com uma cruz no Aliança? Pois… umas 2 ou 3. E depois não querem que a Greta se chateie.