Entrevista. Eduardo Cavaco: “Temos como objetivo ser a melhor banda do país”
No ano em que a Banda da Covilhã celebra os 150 anos, o Jornal Fórum Covilhã esteve à conversa com Eduardo Cavaco, presidente desde 2005. Na entrevista, falou-se das comemorações, a «chave do sucesso» da instituição, e os objetivos para 2021
A Banda da Covilhã celebra este ano os 150 anos. Como foi não puderem realizar as atividades previstas, devido à pandemia?
Foi de facto triste. Quando há três anos começámos a planificar estas grandes comemorações, projetámos um plano ambicioso e que ainda se mantém. Delineámos uma estratégia que passou pela Comissão de Honra, que tem mais de 40 elementos, dos quais fazem parte o Presidente da República, que preside esta comissão, assim como dois ministros, políticos, personalidades ligadas à religião e à cidade da Covilhã, como maestros e sócios honorários, tentando envolver toda a comunidade ligada à Banda, à cidade, à região e ao país num espectro que vai desde o sócio, o músico, até ao Presidente da República, passando também por maestros e compositores. Mas de facto o ponto alto das comemorações teriam sido, o que não acontece, a Sessão Solene, concerto e jantar de Gala. Programámos comemorações à altura desta data histórica porque estamos a comemorar 150 anos da história da Banda da Covilhã. Gostaria de clarificar que a Banda existe desde 1870, depois extinguia-se e voltava a reabrir, mas de uma forma ininterrupta está ativa há 76 anos, que também está a ser celebrada porque foi no dia 1 de dezembro de 1944 que um grupo de músicos saiu à rua a tocar. A Banda da Covilhã foi uma das músicas que saiu no final de outubro durante três dias para a Comemoração da Elevação da Covilhã a Cidade, o que é um motivo de orgulho para esta casa. Infelizmente esta banda sofreu uma tragédia, dia 5 de maio de 1992 ardeu tudo, o nosso espólio e outros de bandas da cidade porque nós éramos detentores de todo o arquivo musical da Banda do Regimento. Havia cá um quartel, onde é agora a nossa Universidade, e nós tínhamos todo esse arquivo. Um dos nossos objetivos das comemorações é também recuperar essa história através do lançamento de um livro, lançar um CD e obras originais, o lançamento do nosso Hino escrito pelo maestro Carlos Almeida, tal como a Marcha dos 150 anos. A projeção desta marcha estava prevista para um grande evento com 600 músicos aqui na cidade da Covilhã. Outro evento que ia ser realizado era a gravação do CD que estava agendado para janeiro, para ser lançado no concerto de primavera e que também teve de ser adiado. Todos nós percebemos os constrangimentos, a segurança, a limitação, o que condiciona bastante o nosso plano de ação. Resumindo, as comemorações vão ser simples, mas vão assinalar uma data histórica que é importante para esta casa, para aqueles que estiveram antes de nós e para aqueles que virão.
Como considera que tem sido o percurso da Banda da Covilhã até agora?
O percurso da Banda da Covilhã tem sido como outro qualquer, com altos e baixos. Há alturas em que as bandas têm muitos músicos e muitas atividades e há alturas em que estão quase no esquecimento. Depois, lá aparece um diretor e um maestro com carolice e gosto para começar a desenvolver projetos. Eu, enquanto presidente, o que posso dizer é que desde a minha chegada há 15 anos, temos trabalhado com diversas equipas diretivas e temos pautado por dignificar a música filarmónica e desenvolver e aumentar o projeto Banda da Covilhã, o que penso termos sido bem-sucedidos porque começámos numa academia praticamente do zero e hoje temos 80 músicos. Na primeira reunião fui contratado como maestro, em 2005, eram apenas sete músicos e no final ficou só um. Hoje temos 50 músicos e 15 novos para entrar. Claro que há algumas pessoas que saem porque vão estudar para fora e nem sempre se apresenta com os 50 músicos. Para manter uma Banda é necessário estarmos sempre a trabalhar na formação, que é um pilar muito importante. Na Banda da Covilhã, desde que cá entrei, temos dois objetivos: a academia de música e ser a melhor banda do país. Para além disto, o nosso projeto é de cariz social, pedagógico, artístico, cultural e musical. Temos bolsas de estudos para crianças que têm mais dificuldades e emprestamos todos os instrumentos de forma gratuita e por isso é que trabalhamos todos os dias para obter apoios e ofertas.
O que considera que leva as crianças a querer aprender um instrumento musical?
Existem várias situações. A situação mais tradicional é a banda ser uma família e foi o pai que cá andou, o tio, o irmão. Por esse motivo, acabam por influenciar as crianças a querer aprender. A criatividade, originalidade e pedagogia são também características que chamam à atenção das pessoas. O facto de trabalharmos com estas bases, que envolvem a família, fazem com que as pessoas venham com gosto para a banda. A criança, que pode entrar a partir dos 4 anos, quando chega à banda faz um rodízio instrumental para puder experimentar os instrumentos. Temos turmas de crianças e de adultos e há pessoas que não pertencem à banda, estão na formação musical porque se querem enriquecer a elas próprias, por exemplo, há uma turma com senhoras nos 60 anos e outra turma onde se aprende a tocar piano. A valência das bandas são os instrumentos de sopro e percussão, mas a nossa banda foi mais além porque há pedidos e mercado que nos pede para ter aulas de piano, aulas de canto e guitarra. Pode-se também dizer que a Banda da Covilhã é uma das mais jovens do país, com uma média de idades de 16 anos.
Como presidente, quais os projetos que considera que tiveram mais sucesso?
O maior sucesso é a estratégia de várias equipas que tem trabalhado comigo. A estratégia está assente em valorizar os músicos, os instrumentos, o fardamento e depois a sede. Depois, temos como objetivo ser a melhor banda do país, termos uma orquestra profissional e pudermos almejar e chegar ainda mais longe, ou seja, tornarmo-nos num projeto internacional. Estamos a trabalhar nesse objetivo, a dar os primeiros passos, na internacionalização. A Banda da Covilhã vai lançar um projeto em 2021, onde vai ser pioneira a internacionalizar-se ao nível da música.
E quais as maiores conquistas?
As maiores conquistas foi ver as crianças chegarem, primeiro, duas, depois dez, dezassete… Chegámos a ter mais de 100 alunos e hoje estão 80. Vê-los aprender a tocar, evoluir, esta casa estar cheia de vida, música, isso é maravilhoso. Ver as salas cheias, os aplausos. É certo que podíamos ter mais apoios e é possível fazer esse donativo, porque com pouco já fizemos esse percurso considerável então, com mais ajudas, seria mais facilitador para chegar mais longe.
Quais os objetivos da Banda da Covilhã para 2021?
Para 2021, temos como objetivo dar os primeiros passos na internacionalização e realizar as comemorações dos 150 anos. Independentemente de já não ser o ano do aniversário, nós vamos fazer tudo aquilo que tínhamos planeado. Vamos ter a Covilhã a Capital da Filarmonia, vamos comemorar os 150 anos com um bolo gigante no pelourinho. Vão também ser realizados um leque de atividades que se mantém, como a Academia de Música, os Concertos pedagógicos, temáticos e solidários, as férias Dó-Ré-Mi, que é um projeto já de há 14 anos com bastante sucesso. Temos também outras grandes atividades, em parceria com a Associação Cultural Desertuna, como «Até os Santos Dançam» e o «Festival da Cherovia», que já vai para a 14ª edição, ainda com mais qualidade e oxalá já no terreno. Outra das nossas aspirações é querermos um coreto no jardim, que seria um bom palco não só para a banda, mas também para todos os artistas e dinamização do centro histórico.
Entrevista da autoria de Helena Esteves, originalmente publicada em Jornal Fórum Covilhã.