Entrevista. Fernando Ribeiro: “Seria professor de filosofia se não estivesse na música”
O que vais ler, ver e ouvir é da autoria do Backstage, um podcast criado por Ana Roque e Vasco Barreiros, que tem o apoio da Comunidade Cultura e Arte.
O quinto episódio do podcast Backstage tem como convidado o cantor dos Moonspell, Fernando Ribeiro. Com uma grande carreira nacional e internacional com a sua banda, o músico senta-se para uma boa conversa.
O gelo é quebrado ao falar de Metallica. “Uma banda que tem, sem dúvida, passado no teste do tempo” — nas palavras do cantor — “É a maior banda deste estilo” e “mantêm-se actualizados, têm causas”.
“Nunca formámos a banda para ser músicos” conta-nos Fernando, ao falarmos sobre o início dos Moonspell, que começaram por chamar-se Morbid God, embora esse nome tenha durado apenas um tema. Falou-se da evolução da banda, do curso de Filosofia do cantor, de tours e gravações e dos efeitos que a pandemia teve na vida da banda.
Não se deixou de parte o projecto ‘Amália Hoje’, integrado por Fernando, no qual se reinterpretaram os seus célebres fados, em versões pop. “Já tinha visto a Amália ao vivo, (…) mas só a experiência nos ‘Amalia Hoje’ me permitiu contactar, exactamente, mais profundamente com a Amália”. “Não senti nada a pressão de ser um cantor de heavy metal” — confessa.
As rubricas, desta vez, não pressionaram assim tanto o convidado, que respondeu sem hesitar a todos os desafios. Disse-nos que gostava de ser professor de Filosofia no ensino secundário e que “confiava perfeitamente no Rui Sidónio” como seu substituto num concerto de Moonspell.
Depois das rubricas, abordou-se a componente literária dos temas do heavy metal, e a forma como o cantor e também escritor relaciona as duas artes. Mencionou até o autor José Luís Peixoto, dizendo que “ele gostaria de ser cantor de rock, eu gostaria de ser escritor”.
Sepultura, Artillery ou Ulver são algumas das bandas que o cantor tem ouvido em viagem, já para não mencionar as tão distintas compras de vinil que o Fernando fez no dia antes da entrevista: vai desde Chico Buarque a Wardruna, passando por Radiohead e Fausto. “Parece esquizofrénico, mas não”. O cantor ainda confessa que o volume costuma estar sempre para cima, porque música baixa não resulta para ele.
“Mais respeito dos nossos pares” é, segundo o músico, o que falta na indústria portuguesa do metal. O cantor afirma que as bandas se entendem melhor lá fora do que em Portugal. Algo a melhorar, na sua perspectiva, é o espírito de autocrítica em Portugal. “A insatisfação é um dos grandes motores”.
A conversa passou ainda pela label Alma Mater Records, cujo objectivo primeiro é distribuir Moonspell, mas também reeditar discos e livros de bandas influentes e lançar algumas bandas de heavy metal em Portugal: “o nosso objectivo final é levar uma banda desde a maquete (…) até à tourné”.
O músico acaba por anunciar tournés de Moonspell para 2022 — com os Paradise Lost em Fevereiro e como cabeças de cartaz para Outubro. “Se calhar para o ano estaremos a escrever alguma coisa de novo”, adianta.
No final do episódio, como de costume, há momento musical. Desta vez, viajamos até aos Estúdios dos Moonspell, que nos apresentaram uma versão do tema “Senhores da Guerra”, dos Madredeus.