Entrevista. Inês Sousa Real: “A luta pelos direitos dos animais em nada retira a luta pelos direitos humanos”
Alfacinha de gema. Fala com saudosismo de Lisboa, num tempo em que a cidade ainda era de quem lá vivia. Participou nas marchas populares quando era criança e estudou no Colégio São João de Brito, onde ganhou uma maior sensibilidade para ajudar o próximo. Se pudesse partilhar um jantar com alguém improvável seria com Jane Goodall. O menu certamente seria uma lasanha vegetariana. Falamos de Inês Sousa Real, a presidente do grupo parlamentar do PAN é a nova entrevistada do projeto Os 230.
Em conversa com o autor do projeto de literacia democrática — Francisco Cordeiro de Araújo — a deputada dá-nos a conhecer mais sobre o seu percurso académico e profissional. Sousa Real é formada em Direito e mestre em Direito Animal, especialização que a levou a viajar uma vez por semana até Barcelona. Afirma que enveredou pela área do direito pelo “sentido de justiça, querer mudar o mundo e contribuir para as causas”. Trabalhou na Câmara Municipal de Sintra e na Câmara Municipal de Lisboa, esta última onde exerceu o cargo de provedora municipal dos animais de Lisboa, dando assim “voz a quem não a tem”.
Já sobre o partido ao qual assume a liderança na casa da democracia, a jurista põe os pontos nos ii: o PAN é um partido progressista. Não se identifica como sendo de esquerda ou de direita. Desconstrói o espetro político e desmonta a forma tradicional como se entende a política. Procura, assim, “apresentar-se como estando na vanguarda da representação dos vários direitos”. Deixa claro quais são os pilares do PAN, numa visão holística em que, tal como a sigla deixa adivinhar, os interesses das pessoas, animais e natureza são prioridade na agenda e estão interligados.
Não se demitem de representar quem os elegeu, embora confesse que em 2015, quando o PAN só tinha um deputado em sede parlamentar, havia pouca margem de manobra para o partido levar as iniciativas legislativas a plenário e falar de sua justiça. Sobre o estado da democracia, apesar de se distanciar da atual corrida a Belém, a deputada diz que não é saudável que em 100 anos de república o cargo de Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas nunca tenha sido ocupado por uma mulher. Em relação à causa da igualdade de género acrescenta que “quando olhamos para os 230 as mulheres continuam a estar sub-representadas”.
Já em relação aos animais, a líder da bancada do PAN é perentória: “há um estigma com a causa animal. A luta pelos direitos dos animais em nada retira a luta pelos direitos humanos. Muito pelo contrário, leva-nos a um patamar civilizacional que já não era suposto, sequer, estarmos a discutir neste tempo”.
Nesta que é a 15ª entrevista do projeto Os 230, a deputada deixa-nos com uma mensagem de esperança: “Portugal é um país com imenso potencial. Não podemos sair desta pandemia para um novo normal, temos que sair, de facto, para um modelo mais sustentável, mais respeitador do meio ambiente, da proteção animal e dos próprios direitos humanos”.
São estes e outros problemas que ocupam os dias de Inês Sousa Real na Assembleia da República. Quando terminar a sua vida política sonha em construir um santuário ou voltar à academia. Entre sagres e super bock, a alfacinha de gema, surpreendentemente, elege a segunda; fast food só se for vegan; é eclética no que toca à música; sonha ir à Nova Zelândia ou à Serra Leoa visitar o santuário de chimpanzés. Associa a palavra “poder” ao “bom senso e ponderação”. É dona da Luna e do Micas, ambos adotados. Confessa que lá em casa “quem manda é evidentemente o gato e não a cadela, embora a diferença de porte”. Para Sousa Real a família é o pilar essencial e o “futuro tem que ser sustentável, tem que ser esperançoso e, portanto, tem que ser verde”.
Artigo escrito por Maria João Brás, colaboradora do projeto Os 230.